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quarta-feira, 24 de julho de 2013

A Génese

Setembro de 1978 - Praia do Gronho
23 horas
Peniche, Portugal

Os acessos de terra batida e os solavancos intermitentes que fariam desistir qualquer um que se prezasse em não estragar o seu belo automóvel, determinariam este não fazível caminho de cabras no afugento perfeito de maiores multidões. De dia e de noite!
Não era fácil aceder aquela praia, bravia e selvagem de dunas consistentes e fechadas, viradas para um mar Adamastor sem grande comiseração para com banhistas ou nudistas que por vezes por ali se aventuravam.
Desta vez havia Lua. Enorme! Alva e fluorescente, iluminando toda a extensão de areal e mar depostos a seus pés.
Era habitual visitarmos este local em romaria jovial de grandes grupos de rapazes e raparigas de viola ao ombro e o mundo nas mãos, compondo cantorias e patuscadas de uma alegria só, de pão, manteiga e chouriço assado. Sem contar com as cervejas...ou mesmo, não raras vezes, de garrafão de cinco litros atrás pois que o vinho da região não era de se descurar. E isto, pela noite dentro...

Naquela noite, em particular, mais fugaz e eloquente de um namoro de Verão - que como todos, são bons por serem efémeros...- eu constataria de que essa tão mágica lua, era só minha e de mais ninguém. O mar esse, resmungaria num doce murmúrio de espuma e sal pela devassidão que lhe remeteria, do meu olhar sobre este. Por entre beijos e abraços (unicamente) - pois que os tempos eram outros e não muito dados a extravasamentos físicos...- fomos sendo o par romântico que, tal como tantos outros e de vez em vez, por ali se refugiavam. Nessa noite éramos os únicos. Às tantas, por uma extrema necessidade fisiológica e por certo, não muito ecológica, admito, o meu parceiro da noite foi "vazar águas". Dito assim parece feio...mas útil e obrigatório para quem tem a bexiga cheia e a aflição é uma constante. Nada de mais.
Eu fiquei no cimo da ravina e sentada sobre a camisola do tipo pullover do meu cuidadoso namorado, enquanto este, descendo a ladeira da duna atordoado e apressadamente, desapareceria do meu horizonte.

Fiquei só. De novo! A maresia sentia-se nos ossos, penetrando-se-me até na alma numa invasão gélida que me fez de imediato pressentir o que alcançaria. Uma vez mais!
Ao longe...uns vultos. Altos. Muito altos! De início, julguei tratar-se de homens dedicados à pesca submarina ou talvez, outros ainda, em descarga (legítima ou não) de mercadorias vindas por mar. Era um raciocínio deveras ingénuo, o meu. Mas foi o que pensei. Ou quis acreditar.
Encolhi-me. Dei a mim própria o benefício da duvida do que questionaria poderem ser somente, homens do mar em trabalhos de arredo de pesca à mão - não sendo ali, isso muito comum, considerei - ou pior, contrabandistas de tabaco ou outra coisa qualquer por mais ilícita que fosse. A minha imaginação não parava. Foi então que comecei a esfriar o sentimento havido de estar ali, sentindo um frio de morte. Fiquei nervosa e com um arrepio na espinha de origem glaciar que, aflorando-se-me na pele, me tomaria de imediato na consciência de zarpar dali. Senti ser urgente sair daquele morro sem ser percepcionada por aquela gente, ainda que tivesse de esperar pelo meu rapaz que tardava. Estar no lugar errado, à hora errada nunca foi um bom sinal. Geralmente, lixamo-nos sempre!
As surpresas não acabavam. Senti-os aproximarem-se mais do areal. Sustive a respiração. Eram gigantes. Altíssimos mas esguios. De formas esfíngicas. Nunca tal tinha visto ou sequer visionado na televisão em filmes de ficção ou acção científica. Fiquei siderada. Queria gritar mas não conseguia. Mas baixinho...só para chamar o meu parceiro que parecia ter-se esfumado na noite. Eles observavam o chão que pisavam como se estivessem a andar sobre um rio e iam projectando entre si, porventura, observações do que deste recolhiam em pesquisa mais delineada ou precisa. Não emanavam cores nem se irradiavam de uma luminosidade extraordinária, parecendo até muito normais do que ouvira falar e descrever destes elementos. Não consegui distinguir a indumentária que os revestiria mas dava para ter a certeza de que não eram verdes, cinzentos, ocre ou, de outra qualquer coloração epidérmica. e não possuíam antenas! Moviam-se como já referi, em passos lentos. Iam perscrutando o terreno de uma forma estranha. De vez em vez, olhavam para cima, para a escarpa de terra em frente como se esta espiassem, sem que quisessem ver vistos. De seguida e por último, unir-se-iam num círculo entre si. Dialogariam, não sei. Depois, bem depois, não sei muito bem o que sucedeu pois erradicariam do meu espaço visual de tal forma que considerei, estes se terem volatilizado. Nas sombras e, na profundidade da noite. E do mar.

Não vi nenhuma nave. Não vi mais nada. Gelei! Quando o meu inocente e estival namorado voltou, eu estava branca como a cal das paredes mas este, nem notou. Abracei-o, suplicando-lhe que me levasse dali. Não lhe disse nada. Afinal, não o conhecia tão bem assim!...Chamar-me-ia de doida varrida. Não acataria, estou certa. Penso que se o tivesse feito, o namoro teria acabado logo ali. Apenas acrescentei de que não era lá muito seguro estarmos tão sós, naquele morro inóspito, desértico. Aquiesceu. Disse-me que estava certa. Que seria bom não arriscar por haver sempre malandragem, voyeurs ou outro tipo qualquer de espionagem individual que se investiam nos maus hábitos por vezes, de irem espreitar os casais de noite.

Voltei para casa. Enfiei-me na cama com o cobertor a tapar-me as orelhas. Quase sufoquei, querendo apenas esconder-me e esquecer o que vira, ainda há pouco, uma hora atrás...por aí.
Jurei então, novamente, nunca mais ser noctívaga em pesquisas pessoais nocturnas. Mesmo, com outra pessoa do meu lado se acaso não estivesse em sítio e local melhores iluminados e de presença humana vigente e, em redor. Para mim, chegava! Rezei como nunca. Fiquei mais alada de uma fé que julgara perdida e nos confins do mundo, devido à insistência perene daqueles meus encontros de terceiro grau ou...outro qualquer, não sei. E se a minha ignorância da época era muita, em termos de ovniologia e encontros imediatos (só mais tarde viria a público certos relatos, séries televisivas a nível mundial sobre esses temas e posteriormente os vídeos do youtube...) no momento actual, a minha consciência e abertura ao mundo, confina-me a pronunciá-lo, a divulgá-lo. Já tenho a minha quota parte de um conhecimento e experiência que, não pedindo, viria ter comigo...substancialmente. Mais não era possível ou internar-me-iam no hospício mais próximo de casa.
Não esqueci. Mas também não sei se quero recordar. É apenas e tão somente, o meu testemunho. Para quem acredite. Ou não!...

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