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sexta-feira, 23 de agosto de 2013

A Visão

Cristo terá dito : "Aquele que me renegar diante dos homens,
                           também por mim será renegado, diante do meu Pai!"


Aquele mês de Junho estava quente. Muito quente. Abrasador. E eu, pressentindo as chagas do inferno em solstício de Verão, carpidor de mágoas ou alegrias, vira-me ser sorteada como cidadã normal do mundo, na mais estranha mas feliz contemplação de que tenho memória. Os tempos eram de festa. O Benfica (Sport Lisboa Benfica) acabara de ganhar o campeonato e, em vésperas do início de outro mas em selecção nacional de bandeira e aprumos ainda mais vitoriosos, pedia-se; exigia-se mesmo. Possuíamos no plantel lusitano, um dos melhores jogadores do mundo, um dos melhores pontas de lança e porventura, outros tantos de iguais feitos e avenças futebolísticas do momento numa parelha de belíssimos machos. Mas por ora, era o Benfica que brilhava em campeonato nacional de grande brio e de certa forma, valentia. Como os gladiadores na Roma antiga, suponho.

Comemorava-se o feito por toda a cidade de Lisboa, numa histeria colectiva de algazarra maluca de homens, mulheres e crianças até de colo. A ansiedade dera lugar à extrapolada manifestação de sorrisos, abraços e deleites famintos entre si, de uma alegria incomensurável e há muito não sentida.
No meu seio familiar, havia de tudo: portistas, sportinguistas e benfiquistas. Se me deixarem ser mais extensiva no trato, direi então que, a comunhão vivida entre dragões, lagartos e lampiões sendo uma miscelânea desportiva, o era igualmente nas acções capitais de defesa e honra de cada um. Às vezes, à pantufada...outras, nem tanto! Era uma guerrilha interna mas de comum acordo que quem ganhasse, pagava a rodada seguinte. E assim, lá íamos cantando e rindo em espécie de mocidade portuguesa mas de índole mais consensual com os novos tempos.

A Avenida da República estava cheia e ainda nem sequer vislumbrávamos o Saldanha (nas muitas artérias da cidade, completamente a abarrotar de gentes e veículos) e já os nossos ouvidos zumbiam em farta sonoridade das buzinas dos automóveis e das gentes que os compunham. Era uma noite de festa. De gáudio e de muita cerveja, também. E tudo isto me parece agora tão surreal como quando o visionei. A ele! E "ele" era estranho. No meio da confusão louca de braços, pernas e bandeiras benfiquistas no ar em jeito demencial de quem as segurava, eu veria a mais bela figura do mundo, num misto de Jesus e arcanjo seu discípulo, constatei. De repente, o som parara. Eu nada mais ouvi ou veria, a não ser aquela tão mítica figura do alto dos seus quase dois metros de altura e um cabelo alourado que lhe caía sobre os ombros. E isto, posso jurar-vos não é conversa de gaja maluca ou doida irreverente e claustra que se perde por um rabo de calça mas, pela visão obtida, inata e miraculosa de um agente, tão diferente quanto omnipresente de nós, seres comuns, seres humanos. Ele ia caminhando em passo longo e contrário aos outros transeuntes que se manifestavam em delírio insano de adeptos alvos que eram do seu clube, agora vitorioso. E Ele, caminhava. E eu, ia olhando para si, absorta e absurda de toda uma situação meio doida em estranha e complexa conexão de alma e movimentos. "Ele", não era deste Reino! Eu ouvi-o. Em telepatia, em sintonia.

A visão ectoplásmica  que tive e, observei por segundos, deu-me a certeza do caminho a seguir. Não sei se era o tal Jesus reencarnado e devolvido das cinzas do tempo ou simplesmente, a imagem de um homem sinistro que não era homem nem podia ser. como se uma capa de carne o tivesse envolvido e me tivesse chamado em poderoso e catártico pensamento, ausente de tudo e todos. Mas sei que era alguém diferente. Transmitiu-me informações e outras tantas deliberações numa fracção de segundos que não sei aqui descrever. A ampulheta do tempo virou-se ao contrário naquela noite . Por Ele. Registei o seu mandamento, a sua ordem, e todo o seu rigor in extremis em mim. Como vulcão sucedâneo do que me intuía a receber, a aceitar e, a revelar mais tarde. "O mensageiro" não é importante, aferiu-me. Mas a Mensagem, sim!

Não quis ser displicente na processologia sagrada, decorrente dessa nossa simbiose extra-sensorial ou, o que quer que aquilo fosse, senti-me dizer e Ele, ouviu-o. Não gostei que me guiasse a mente mas supus que teria de o fazer, sentindo também que não seria por mal ou de fins esconsos o que me inseria mentalmente em córtex pessoal. Tive a sensação nítida de que o meu cérebro adquirira momentaneamente a veleidade de se abrir para um intruso como porta escancarada de uma qualquer casa, fechada em mil ferrolhos. O meu ser, todo ele, foi tomado por uma possessão incrível de assomo eléctrico e vigente de algo externo a si. Só depois compreendi. Só depois, anuí. Este ser, extra tudo o que se possa aqui julgar, no meio do nada e não sendo ninguém (na perspectiva terrena, como é evidente) auguraria de que eu, uma simples cidadã e mortal que era (julgava eu) ser a corrente transmissora de todo o seu poder em voz e proclamação.

Louca! É o que tu és! - diriam alguns, todos. Se eu o tivesse dito a alguém. Dia a dia, vou tentando dizê-lo mas não é fácil. Hospício, psiquiatria de internamento ou chacota pública, era o que me esperaria. E só não seria chicoteada em público também, por já não haver julgamentos sumários em praça pública, acho...ou linchamento popular por ser tão devassa e tão reles prostituta, dando-me ares de senhora, querendo passar uma mensagem de Cristo. Não sou devassa, nem reles nem sequer me passaria pela cabeça, poder prostituir-me de corpo e de mente pelo que me foi divulgado e pronunciado por um ser superior que somente aqui estaria, para o fim a que se propôs. Ele sabia disso. Do que eu ia passar em noites sem dormir e em quebranto total de me amofinar e calar e desobedecer à sua ordem de, no imediato, ser precursora da sua ordem de, uma Nova Era a chegar. E essa certeza eu não podia olvidar.

O que posso aqui deixar em testemunho do que não pedi, do que não chamei e do que não evidentemente, desejei que me acontecesse. Não preciso de protagonismos baratos. Ou caros! Os valores que possuo, estão muito acima de quantias bancárias ou de riquezas de Goldman Sachs, UBS ou outras. Conto os cêntimos para comprar pão, o jornal ou uma revista semanal mas nem por isso sou mais infeliz ou infiel ao que me propus ser nesta vida. Não sou rica nem pobre. Ou talvez rica sim, mas de um poder que não escolhi mas Deus me deu (como diz a dona Amália num dos seus fados cantados) e faço jus a isso. Apenas isso. Se "aquela coisa doirada e alta" me não tivesse encontrado em halo seu, de uma libertação de um Eden seu, então eu seria a mais pura ignorante cidadã da terra, comum a tantos outros. Mas não sou. E não tenho de me livrar disso como o Homem do "Busão de Higgs". Pena é, que o não saibam. Ainda.
Por agora, rezemos. E vamos tentar ser diferentes, já o afirmei muitas vezes. não levamos riquezas...só mesmo, as nossas almas purificadas e à espera de um perdão ou, de uma luz maravilhosa que nos levará a todos para o céu. Bem...nem todos. É pena! Para esses. Rezaremos por eles também. Ámen!

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