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sexta-feira, 20 de setembro de 2013

A Escuridão

Ano - 2390

A Segunda Idade das Trevas


Não há Lua. Até esta se separou de nós na confluência do desastre mundial em que fomos embutidos numa devassidão a nível global. Chuvas ácidas, turbulência de furacões, actividade vulcânica que se abriu como caverna do diabo e demais ocorrências ominosas que nos atormentaram num vale imenso de sangue, lágrimas e morte. Vírus, venenos, asteróides, meteoros, pragas, epidemias, guerras e calamidades várias que nos atingiram como Inferno presente nas fagulhas pela terra cingidas em chagas humanas e corpos decompostos, incinerados, volatilizados. Somos poucos. A sobrevivência é nula! Onde está Deus?...

O meu país submergiu no mar. O meu pequeno país morreu com os meus familiares, amigos, as suas gentes, as suas serras, os seus vales, as suas cidades. O Atlântico tomou-lhe tudo. Não restou nada!
A Igreja foi aniquilada e tudo o que se sublevava com esta, também. Existe uma nova ordem mundial, destruidora, mutante e aterradora. O medo impera. Em tudo e todos. Temos medo de andar, pensar ou respirar sequer sem que hajam sombras por perto...a seguir-nos, a espiar-nos. Somos muito fracos mas ainda assim lutamos. As forças invasoras extraterrestres (hostis) em parceria e pacto fiel com as forças terrestres comandam os destinos de todos num Governo único sobre a Terra. Os computadores pessoais, telemóveis e demais tecnologia estão bloqueadas, obsoletas em memória e actividade. Só a comunicação do Comando Geral da Unificação da Terra deixa transmitir «dados oficiais» deles. As máquinas apoderaram-se dos comandos superiores de gestão, organização e administração, arreigados a um poder cimeiro de origem desconhecida. quem resiste, é morto, eliminado pura e simplesmente. Somos escravos deles. Não somos nada como humanos, defendendo uma causa que nos é justa mas não potenciamos porque não possuímos as mesmas "armas" deles. E quando fazemos baixas do outro lado (do inimigo), ficamos com as suas munições que não nos servem de muito, pois eles têm a tecnologia necessária para as inutilizarem. Somos pasto para eles. Mas felizmente, ainda não fazemos parte da sua cadeia alimentar...

Colónia da Resistência


É até irónico que assim se designe este local onde nos encontramos...pois somos poucos. Uma meia dúzia de famigerados sobreviventes daquele holocausto terrível em que ficou todo o planeta, ou grande parte deste, uma vez que não temos informações claras e específicas sobre a situação das outras nações e países vizinhos. Exceptuando os nossos amigos espanhóis que connosco também estão(pela proximidade das ilhas canarinhas ou Gran-Canária) que a nós se juntaram por via de embarcações próprias. Agora já não se fala de territórios marítimos a haver (se ilhas, se rochedos...) em vias de tudo pertencer a uma só comunidade europeia que mesmo essa - sobre o jugo do dito Comando Geral Único - a tudo abarca sem limites ou fronteiras, terrestres, marítimas ou aéreas. Estivemos em refúgio inicial na Base das Lajes nos Açores por o meu marido, companheiro e pai dos meus filhos ser médico do exército português e da extinta NATO. Fugimos. Foi bombardeada com mísseis de longo alcance, sendo-nos arremessado em promessa fútil de podermos ser colocados noutra base. Pura demagogia! Ou falsidade! Descalços, rotos, famintos e desnorteados, foi como viemos até à outra ilha, a da Madeira em barcaças pré-históricas mas avenças de serem invisíveis e inexistentes a olhos superiores do Comando Geral. Os sonares não nos detectaram com a Graça de Deus! Os seus computadores registam tudo em raciocínio superior e globalizante por toda a Terra em espécie humana, animal ou vegetal que se lhes oponha ou vá contra as suas regras malditas. São forças de Intervenção, militarizadas e de extermínio local ou geral, seja nas grandes cidades, nas pequenas aldeias e vilas, seja nos campos. Ninguém está a salvo!

 

Ilhas Selvagens


A Ilha Grande: onde nos encontramos. A ilha pequena, é onde ficam os mais estropiados, os que ainda são portadores dos chips que carregam em si e depressa se tem de retirar dos seus corpos ou somos todos mortos de seguida por termos invertido as regras do jogo, as ordens não assumidas, o caminho oposto aos da "Lei Universal do Comando Geral". Até a nossa gata branca, a Kitty, tinha o dito chip que anteriormente e por ocasião de uma ferida aberta (por ter andado à luta com o gato do vizinho) o meu marido lhe extraiu, retirando sem demoras. Todos os animais estão etiquetados e nós também. Os que se deixam morrer às mãos dos algozes, esses morrem com o metal encrostado neles. Os da comunidade aqui, já não o têm. Foi uma tarefa difícil na extracção dos mesmos pelas circunstâncias óbvias de não haver muito material anti-séptico e esterilizado para o efeito, mas conseguimos. O caminho é longo ainda mas sinto que vamos conseguir, temos de conseguir! Por mim, pelo meu marido e, principalmente pelos meus filhos. Somos uma família em vias de extinção por termos dois filhos, uma vez que a taxa de natalidade é quase nula e os níveis de fertilidade (em particular nos homens) é deveras baixo no decréscimo da motilidade de esperma havido. Pode parecer absurdo, mas assim é de facto, devido às inalações tóxicas e os diversos venenos ambientais a que todos nós fomos expostos. Uma fatalidade! Uma desgraça!

Vamos sobrevivendo com o que temos. De dia vamos plantando sementes que trouxemos connosco e que um casal amigo espanhol (ou castelhano como estes afirmam) se nos ter juntado em auxílio e cumplicidade no Manolo e na Maruga e os seus dois filhos, Ruan e Carmenzita. Partilhamos as selvagens em agrado e costumes com os nossos dois filhos também de idades aproximadas, o David de oito anos e a minha pequena Maria de somente quatro anos. Ah, e a gata que já vai pelos três anos e o meu David que à socapa a traria embrulhada ao peito sem que o víssemos. Foi um risco trazermos animais mas nem sei como a poderia de facto ter deixado à sua sorte, sendo comida por uns tantos esfomeados e desabridos da vida. Temo por eles. Sou mãe. Uma mãe de apenas trinta e dois anos mas pareço uma velha...tenho de os proteger, tenho de os voltar a meter dentro do meu colo, do meu útero meu Senhor...tenho tanto medo, Santo Deus, não nos abandones agora por favor. Se chegámos até aqui...iremos até ao fim. Eles não precisem deste monte de coisa nenhuma que, apesar de ter água potável de umas pedras miraculosas no cimo da montanha agreste, nos dá a certeza de uma vivência se não melhor, pelo menos mais lata e alargada do que nos assiste a todos na convergência de sobrevivermos e não nos deixarmos morrer às mãos daqueles governantes impiedosos que em vez do coração, têm um mecanismo estranho demais para a nossa compreensão. Não me abandones Deus, pois sempre confiei em ti. E isto, é o meu diário« de bordo», Senhor, se formos descobertos, alguém aqui fique já sabendo que eu, Mariana de meu nome e aprumo me não deixei vencer sem lutar pelo que me é de direito em viver em paz e harmonia. Até sempre!

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