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terça-feira, 10 de setembro de 2013

A Interpretação

             " Estava em mangas de camisa. Acabara de pousar a chávena de café sobre a mesa ladeada pelo estirador onde se exibiam gráficos, linhas geométricas e o protótipo em fase embrionária do meu projecto. Levantara-me cedo, alíàs, não conseguira dormir na véspera. Este projecto podia mudar a minha vida; na totalidade! Fiz um intervalo, em segundos, respirei fundo e firmei-me na mais pura convicção de acreditar em mim, na minha força interior, na minha inteligência e, numa perspectiva futura, recrudescer profissional e humanamente. Eu era um homem coerente; nos princípios que me guiavam, no trabalho que fazia e, acima de todas as coisas, na família que possuía.
               Foi então, por entre estes magros ou fortuitos pensamentos matinais, que a minha vida, suspensa escassos fios de nada (em momentos que reflicto e projecto num outro ser vivente) eu me declinei melhor visionar o que a minha mente não aceitava na incongruência do que, perante os meus olhos baços eu observava. Um avião enorme! Um ruído horrendo de motores na sua máxima força, projectando-se de encontro às vidraças do edifício. Milésimos de segundos para que eu sem que o conseguisse, pudesse discernir do inusitado da situação, como se estivesse a viver um pesadelo!
               E este pesadelo, seria a minha morte. O impacto foi terrível, e tão violento e demoníaco que mal senti o meu corpo despedaçar-se, eclodir em explosão imediata, num cérebro de actividade nula que se eliminaria quase de seguida como ficha arrancada de um qualquer computador. Para após segundos que mal recordo, se ter reactivado mas de forma estranha, em paz, luz e cor, muita cor. E muita serenidade também. Estava morto e isso, deu-me felicidade. Finalmente a paz desejada, ainda que estivesse sem os meus da Terra mas isso, eram contas de outro «Senhor»...eu apenas esperava subir aos céus e sentir que a minha missão fora cumprida. Restava-me agora, projectar essa cena vivida a alguém que o revelasse. No medo que senti, na incoerência que vivi mas...  igualmente, na libertação que assumi por uma vida deixada atrás, por outra que vivificaria e que "Alguém" me consignaria. Nessa espera...transmiti então o que vivi. Dizendo: não tenham medo,  «isto» é simplesmente maravilhoso! Acreditem!"


Foi um sonho. Um sonho mau ou...talvez não. Não posso afirmar quem é o possuidor e personagem identificativa deste meu sonho. Teria de procurar, teria de investigar na grande massa humana das vítimas do 11 de Setembro de 2001 para tentar saber, tentar descobrir de quem se tratava esta pessoa. Um homem. Apenas um homem de trabalho, de ambição e de família como este me revelou no meu «e seu» sonho. Há que clarificar certos pontos. Este homem viveu uma das piores tragédias da sua vida num irreversível ponto negro de final não muito feliz que poria fim à sua existência como ser humano, como ser vivente na Terra. Transmitiu-mo na sua alegria, agora, do que esperava presenciar e «viver» além fronteiras de vida terrena, além o Céu e a Terra. Vi-lhe o medo, senti-lha e confusão e no imediato a total sujeição de se ver trucidado em corpo que não em mente de tudo o que lhe sucedera. Foi estranho para mim também, mas perscrutando depois o que com esse seu sonho e meu, este me terá desejado revelar, que eu o percebi, o compreendi. Este homem queria que eu soubesse o que ele vivera, o que ele em parte sofrera, ainda que por uma pequena fracção de segundos, após um embate do avião na sua Torre Norte do WTC, supus.

Os sonhos são fenómenos anímicos e projecções da nossa actividade cerebral, dizem os investigadores. Assim pode ser de facto. O neurofisiologista  Robert Stickgold (n. 1940) do Massachusetts Mental Health Center de Boston terá descoberto e concluído que os sonhos são uma espécie de exercício cerebral destinado a treinar a nossa capacidade de aprendizagem. O biólogo norte-americano Jonathan Winson afirmaria também que, sonhar é uma necessidade biológica. E mais, que sem os sonhos, o cérebro humano teria de ser várias vezes maior, pois se não processasse os dados à noite (e com o tamanho que tem) acabaria «sobrecarregado» durante o dia.

Para o psicanalista Sigmund Freud (1856-1939) os sonhos são uma via de eleição para o conhecimento do inconsciente. Investigar os sonhos é investigar a consciência. A matéria que constitui os sonhos, será portanto o inconsciente, o «id» como aferiria em designação S. Freud.

O psicanalista Carl Gustav Jung (1875-1961) descobriu que quase todas as pessoas (se quiserem) podem desenvolver capacidades de se lembrarem de tudo o que sonham. A memória onírica pode ser exercitada e aperfeiçoada, mas para isso é necessário ter em atenção a todos os sonhos e apontar o seu conteúdo.
Qualquer sonhador pode interpretar os seus próprios sonhos, desde que se familiarize com a sua linguagem simbólica pessoal e tenha tempo para os interpretar. Visto que cada pessoa sonha individualmente, o seu vocabulário onírico também lhe é particular. Para acedermos à nossa própria linguagem onírica, o melhor método é associarmos os símbolos do sonho a pensamentos, sentimentos ou mesmo pessoas presentes na consciência diurna.

Os sonhos precognitivos consideram-se um sistema de alerta imediato do espírito. Quando os mesmos conteúdos oníricos aparecem continuamente e não os esquecemos, convém analisá-los mais seriamente.
Foi o que tentei. Analisar, interpretar e dar uma maior consistência ao que meses ou anos após a deambulação trágica do 11 de Setembro em Nova Iorque, sucedeu. É difícil encontrar uma explicação mais lógica ou racional que possa contemporizar estes vários factores do que em sonhos me foi transmitido numa espécie de conexão de ADN onírico mas factual e de argumentos potenciais de veracidade inquestionável. Por muito que se tenha lido, imaginado e corroborado em teses fortes do que na realidade aconteceu naquelas duas fatídicas torres norte americanas, ninguém sabe; só os próprios que não sendo vivos não podem ser testemunhas oculares, pensa-se. Mas talvez não o seja de todo erróneo ou idiota, acreditar-se de que pode haver certas fracturas mentais ou de transmissão onírica para tal. Basta sonhar e acreditar. E eu, como já deu para perceber...sonho, sonho muito. E acredito, potencialmente! Basta também, ter um pouco a noção do tanto que ainda desconhecemos e desejamos abranger nessa ignorante ainda, persuasão que muitos nos fazem em bloqueio e obstrução da verdade existente. Vão-se abrir janelas de realidade, muitas, ainda que pensem que são apenas meras frestas de um conhecimento muito diminuto e vago...mas acreditem, cada vez mais, vamos elaborando uma enorme tese interpretativa do que nos conduziu até aqui em sonhos ou...pesadelos. Não deixemos de sonhar, pois o sonho comanda a vida e, a sua interpretação, só a nós diz respeito. A bem da humanidade! Como sempre!


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