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sábado, 26 de outubro de 2013

A Consciência

É um facto inegável que todos temos uma idade da inocência mas será de igual forma para a da consciência?
Eu tive a minha idade da inocência. Acreditei no primeiro amor e...no último. Dancei nas discotecas da moda em anos loucos da lantejoula e do disco-sound e apanhei a primeira bebedeira de cair para o chão ainda mal sabia como se atavam os atacadores dos sapatos. Mais tarde surgiriam os «charros» que nunca fumei mas por vias esconsas de um destino matreiro, me haveria de quedar por uma experiência algo sui generis que me acometeria da cabeça aos pés em neurose instantânea de fazer tombar um elefante.
 
Naquele tempo, tudo se partilhava. Roupa, adereços, mesada e...tabaco. Foi esse o meu erro. Parecia ter levado uma tareia de pau. No dia seguinte todos os ossos do meu corpo reclamariam em exaustão e petrificação rígida de algo muito mau eu lhes ter imputado desnecessariamente. Na véspera, tinha sido possuída por um fantasma idiota, reencarnado em hiena iridescente que me fizera rir até às entranhas e quase estas esventrar de tanto riso inconcebível e iracundo em mim. Pior ainda, ter de o esconder do olhar cirúrgico da minha mãe que tudo via, tudo perscrutava no horizonte e quanto mais perto fosse, pior. E tudo, por ter fumado um simples cigarro (considerava eu) de um maço onde havia vários de um dos meus amigos da altura. O que não sabia, é que estavam misturados com outros, porventura não tão inocentes assim em mistela pavorosa da dita «erva» que em épocas de pós-revolução dos cravos haveria por todo o lado como alfaces, cenouras ou tomates em mercado aberto. Serviu-me de lição. Em corpo e, espírito. Quanto à consciência, apenas a que me ficou de não mais partilhar nada - nem sequer em pensamento - sobre a alucinação neurológica incomensurável que não teve efeitos perniciosos ( a não ser de uma noite em delírio imbecil), vendo cores lustrosas e pessoas desfiguradas numa ramificação de efeito colateral, igualmente idiota e sem nexo. A partir daí, perdi a chamada inocência para as coisas ilícitas mas fiquei a ganhar em maior e mais lúcida consciência do que se não deve fazer. E eu não fiz, directa ou indirectamente; consciente ou inconscientemente porque pura e simplesmente o rejeitei em objectivos de vida que não seriam aqueles de total desfaçatez neurológica e física em mim.

Estudo Científico da Consciência: sendo este um dos territórios desconhecidos do ser humano e, ao mesmo tempo, a própria condição par que saibamos seja o que for: a consciência. Como ponto central de referência da vida, abarcando a percepção, a memória, a imaginação, o sentimento, o estado de espírito e o pensamento, assim como o conhecimento de todos eles. Daí que, a vivamos em autoconsciência.

O Problema do Método: a consciência só pode estudar-se adequadamente, submetendo a própria consciência a estados alterados (por exemplo) através da ingestão de drogas. Estas experiências são, no entanto, muito subjectivas, não constituindo por isso um instrumento muito útil para uma ciência objectiva. O doutor Paul Feyerabend (1924-1993), filósofo da ciência, oriundo de Viena terá criticado esta arrogância da ciência, que só dá por válidos os métodos por ela consagrados e que despreza todos os fenómenos que necessitam de métodos de investigação menos convencionais.

Estudos Insólitos: o doutor Charles Tart, um dos mais destacados investigadores no campo da parapsicologia, também reconheceu a importância do estudo científico da consciência. Opinaria que, deviam estabelecer-se as chamadas «ciências dos estados específicos» ou seja, métodos científicos próprios para estados alterados da consciência, em que o próprio investigador se encontra num estado alterado e adquire conhecimentos segundo métodos válidos, exclusivamente para o estado em que se encontra.

Formas Potenciais de Consciência: na viragem do século XIX, o filósofo e psicólogo norte-americano William James (1842-1910) estudou em si próprio a influência das drogas na consciência. Afirmaria então: - "Há alguns anos, fiz umas observações sobre o efeito da anestesia com gás hilariante. Na altura, formei uma opinião que ainda hoje se mantém inabalável: a nossa consciência normal e desperta, ou, como poderíamos dizer, a nossa consciência racional, é só uma determinada forma de consciência e, à sua volta, existem outras formas potenciais, completamente distintas e separadas dela por uma parede finíssima."
William James antecipava assim uma conclusão do moderno estudo científico da consciência: os estados alterados da consciência, provocados por drogas psicadélicas - ou por outras vias - conseguem transmitir uma percepção inteiramente diferente da realidade. Certas experiências deste tipo são vividas como indescritíveis e de significado profundo. A percepção sensorial normal, pelo contrário, parece insignificante e irreal. Chamam-se experiências místicas a estas vivências. William James viveu-as durante os seus ensaios com gás hilariante, nos quais lhe parecia descobrir uma verdade cada vez mais profunda.

Sabedoria Oriental: os actuais estudiosos da consciência começam a compreender que as linhas directrizes da investigação deviam ser sobretudo, os ensinamentos da sabedoria oriental, pois há milhares de anos que se ensinam nos sistemas espirituais do Oriente, formas de meditação que provocam numerosos estados alterados da consciência, através dos quais esta pode depois modificar-se. Os mestres mais avançados neste campo averiguaram as possibilidades do espírito através da meditação e adquiriram um conhecimento profundo do espectro da consciência.

Por conclusão se pode afirmar de que, seja induzido ou por vias da meditação a nossa consciência altera-se de facto, havendo uma maior percepção dessa mesma consciência. Havendo ou não em si, uma verdade cada vez mais profunda, o certo é que ainda não sabemos tudo sobre essa mesma consciência em efeito e sobrecarga no ser humano. Estudá-lo é um desafio que por vezes nos sai caro, à semelhança do que fez em tempos, William James em vivência própria. Por desafio imposto ou inconsciência total como foi o meu caso em adolescência «errática» mas pontual, a única conclusão possível é a da ilimitada fronteira a que nos conduz esse desconhecimento ainda, da dita consciência humana. Como em tantas outras coisas...mas não desistamos do seu estudo, da sua pesquisa e de todo o envolvimento a si imbuído. Assim seja!

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