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quinta-feira, 31 de outubro de 2013

A Crença

Existirá o vampiro como criatura humana, ou simplesmente será um produto de ficção romanceado e congeminado arduamente ao longo dos tempos?

 

O Vampirismo

A crença em vampiros é muito antiga. Os Assírios, que já acreditavam neles, deixaram-nos uma longa oração litúrgica para os expulsar, na qual se encontram muitas características que ainda hoje se atribuem aos vampiros: as deambulações nocturnas, as vítimas entre os vivos, o roubo da vida e por aí fora. E pensavam poder afastar os vampiros por meio de fórmulas de esconjuro que, no entanto, deixaram de ser suficientes na crença dos Eslavos e dos Russos, para os quais era necessário cravar-lhes estacas. Existiam até recomendações sobre a madeira que melhor serviria para este fim. A preferida, seria a do espinheiro-alvar, pois pensava-se de que a coroa de espinhos de Cristo era ( ou teria sido) desta madeira. Ou se trespassava o coração do vampiro com uma estaca ou, se lhe espetava um prego na testa.

A Crença nos Mortos-Vivos

Desde muito cedo que se espalhou a ideia de que os mortos que não eram sepultados, segundo os devidos rituais de sepultura, lamentação e luto, se transformariam em mortos-vivos. O morto era uma admoestação e um castigo. Uma das razões para o facto de haver tantas coisas a ter em conta num enterro, baseava-se no medo que as pessoas tinham dos mortos-vivos. Os rituais tinham não só o objectivo de levar o morto em paz até à sua última morada, como também de impedir que este regressasse. Era costume estropiar os mortos em que se suspeitava que pudessem transformar-se em mortos-vivos.
Pensa-se que, as sepulturas que foram encontradas contendo corpos com o rosto virado para cima, sem cabeça e com uma faca na boca ou, um prego no crânio, eram tentativas de obrigar o morto ao descanso eterno. A separação da cabeça e dos membros era considerada especialmente eficaz, como no caso da sinistra história sobre o Papa Formoso (cerca de 816-896): em Maio de 896, por ordem de Estêvão VI, o corpo de Formoso foi tirado da sepultura e sentado no trono papal com toda a pompa e circunstância. Depois de ter sido acusado de apropriação ilegal da cadeira do Papa, o sínodo retirou-o solenemente do lugar que ocupava. Despojaram-no das suas vestes papais, vestiram-lhe roupa laica e, amputaram-lhe três dedos da mão direita. Por fim, o corpo foi atirado ao Tibre.

O Vampiro

O vampiro, um tipo especial de morto-vivo, encontra-se nas mais diferentes superstições. As pessoas acreditam que puxa as outras para si na morte. A razão disto é a maldade do morto e a sua avidez de viver. Da comparação do sangue com a vida, surgiu a ideia de que o morto chuparia o sangue dos vivos, o que também podia acontecer por feitiço à distância. Neste caso, quem corre especialmente perigo são os que se apoderaram de algum bem do morto ou então, os que lhe fizeram a oferenda fúnebre de algum objecto pessoal. Estabelecendo-se assim uma relação estreita com o morto, corria-se o perigo de se ser vítima de um vampiro, que regressa para se debruçar sobre os que dormem e lhes chupar a força vital.
Na crença popular, existem também vampiros vivos, que na imaginação popular se confundem com bruxos, lobisomens e seres semelhantes. Foi William of Newburgh (1136-1198) quem relatou a mais antiga matança de um vampiro na Europa.

De Masticatione Mortuorum in Tumulis («Do Mastigar dos Mortos no Túmulo»)

Existem muitas histórias que falam de mortos que comem a mortalha e as roupas e que sugam o próprio peito e a própria carne. Alguns até afirmavam de que ouviam os mortos comendo na sepultura. Em 1728, Michael Ranfft escreveu uma obra extremamente interessante a nível histórico e cultural, denominada: «De Masticatione Mortuorum in Tumulis («Do Mastigar dos Mortos no Túmulo»). Foi por esta razão que no século XVI se abriram sepulturas, onde se teriam encontrado mortos que haviam comido as suas roupas. Acreditava-se que, semelhante morto não só chuparia a sua própria carne, como se levantaria da campa para sugar a dos seus parentes, até estes o seguirem na morte. Quando nalguma localidade se declarava uma epidemia que fazia muitas vítimas, atribuía-se frequentemente este facto à acção funesta destes mortos.


Ao longo das épocas foi havendo um maior e mais vasto conhecimento técnico e de origem científica no estudo da fisionomia humana em que, não raras vezes se detectaria de que certas pessoas teriam sido enterradas «vivas» por assim dizer. Concluir-se-ia de que, muitas das vezes, os corpos inertes e sem provas de vida (que hoje conhecemos em estímulos e actividade cerebral) eram simplesmente dados como mortos e assim enterrados. Daí que não fosse de todo anormal - apenas mórbido e cruel mesmo - haver pessoas que, acordadas do transe rígido em que se teriam revestido até aí ou, em estado comatoso provavelmente, se induziriam em pânico e como última solução de sobrevivência, terem ingerido as próprias roupas em possível adiamento dessa morte então. Sem oxigénio e sem hipótese alguma de se libertarem do peso da sua sepultura, nada mais do que o já registado e que daria azo a grande especulação sobre si na abertura anos mais tarde dessas campas. Criaturas infelizes, acredita-se. Quanto às outras, em que nada disto se tenha passado, só poderemos questionar se haverá de facto fundamento ou não, para estas designações não muito abonatórias de pessoas de dentes afiados e sacrílégias, profanas, do sangue que consumiriam, roubado e espoliado do seu portador. A ser verdade, pelo sim pelo não, é bom que se tenha à mão, estacas, alhos e cuidados infinitos com os muitos vampiros destes novos tempos. A bem de todos, assim seja!

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