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sábado, 12 de outubro de 2013

A Escuridão III

13 de Outubro de 2390
Enclave entre o arquipélago da Madeira e as Canárias
 

"Olhai o Céu!" - Salvaste-nos Senhora!
Nada mais será igual. A terra martirizada que pisamos em cor de carvão e o Céu que proclamamos nosso, azul e belo, estrelar e farto e não, no negrume avermelhado que nos punia de cada vez que assumíamos  a liberdade que nos pertencia. Nunca duvidei que nos não socorresses, Senhora de Fátima. Nunca!

O meu peito ainda vacila e a minha incerteza ainda é grande mas determino-me a acreditar, imponho-me nessa copiosa obrigação de sentir que haverá amanhã, e que finalmente poderemos tornar a sonhar, tornar a viver em paz, em liberdade, em consciência e em beneplácito de continuação, física e espiritualmente.
A ilha já não suportava mais ataques da força inimiga e nós, já quase moribundos, fenecendo às suas mãos, íamos definhando dia após dia sobre essa injuriosa batalha indigna de todos em desnível acentuado de formigas contra elefantes, do que me foi contado em fauna hoje extinta desses animais de grande porte em extinção igual à humana. O ar era irrespirável e já poucos sobrevivíamos em espaço e almas poluídas num território maldito, excomungado, amaldiçoado. E, de um só demónio com nome: Arachnids.

A batalha final: os Anunnaki vieram finalmente salvar-nos. Eu Mariana, orei, rezei, implorei à minha Senhora de Fátima e Ela...ouviu-me nas preces! Ficarei sempre em dívida na eternidade que não viverei mas levarei comigo para além do que me conhece. Fomos levados (ou mais exactamente teletransportados) para outra região, para outra zona fora do conflito intergaláctico em que estávamos integrados, mesmo sem o sabermos. Agora, surge-nos a paz. Só não sabemos ainda se, efémera ou pontual pois tudo tememos numa angústia ímpar. Mas rezamos e vamos assim acreditando que haverá Futuro, o nosso Futuro, o de uma humanidade há muito esquecida, perdida de si e, em si. O António, o meu António já sorri e na contingência que lhe foi remetida de aprendizagem (e correcção) de uma medicina tecnologicamente avançada em face aos seus conhecimentos primitivos, eu vejo-lhe a luz no olhar em avença e determinação de uma sapiência extraordinária em si. Passa horas nos laboratórios a si consignados - nas muitas experiências que vai elaborando - e que «eles» em si manifestam de conselhos e concílios para que o aprenda, para que o registe, para que o aceite como única ciência a administrar no ser humano, na continuidade. E esta, é a melhor das palavras por nós ouvida e fechada em nossos corações - a continuidade. Pensar que morreríamos todos em poucas semanas, ou dias, se acaso os Anunnaki não tivessem vindo em nosso auxílio por voz de oração e suplício (ou cilício, não sei bem...) da minha Senhora de Fátima em salvação dos homens na Terra.

Estou mais calma e...mais redonda. O meu ventre desponta na proporção exacta da minha rotunda esperança em que para além das crianças, já todos sorrimos, já todos exprimimos as nossas alegrias, as nossas certezas, as nossas esperanças de um futuro pródigo em todos nós. Levaram-nos para uma ilha - supostamente «fabricada» por estes nossos amigos salvadores - uma vez que não há registos ou coordenadas em mapa e em visibilidade como se estivéssemos a viver num imenso e opaco buraco negro mas de formatação extraestelar, ao que nos referem em imperativos seus. Não os questionamos, apenas agradecemos a homilia de salvamento e enlaço humano que em nós fizeram de resolução e indução de sobrevivermos àquele terrível holocausto dos que ordenaram a nossa eliminação total. Soubemos pelos Anunnaki de que, os descendentes de Josh e Melina (os protegidos destes) tinham expressado essa vontade, o que nos veio apaziguar as almas atormentadas, pois sabíamos que apenas essa linhagem terrena se fazia ouvir, lutar e debater em glória assumida pela razão de perpetuar a vida humana na Terra e não exterminá-la como queriam os antagónicos e guerreiros Arachnids. Ficámos em paz, então. Acrescentaram aliás, de que estes, se teriam hostilizado também (e para grande surpresa nossa) com as forças da UKUSA, esse covil de hienas que tudo geria e manipulava a seu gosto, tendo o poder da Reserva Federal, a Segurança Interna (e Externa), a espionagem tecnológica e tudo, subsequentemente a girar à sua volta com a comicidade de todos. O tentáculo até aos Arachnids foi fácil de se enredear, seria por certo mais difícil, o desenredear... acreditámos todos. Das 57 ou mais civilizações inteligentes, a maior parte estão contra esta força invasora, estando já a ocorrer limitações contra as suas práticas no domínio absoluto sobre as espécies menores que neste caso, fomos nós, os humanos no planeta Terra. A nossa única felicidade é saber e sentir que dentro de pouco tempo, também estes terríveis ocupantes do nosso lindo planeta, vão ser erradicados das regras e ordens superiores da sua galáxia. Assim esperamos.

Vou ser mãe e estou muito feliz por isso. Já nada tenho a temer que este meu terceiro filho não veja a luz do dia mas sim, a maravilhosa vida que irá ter para viver sem medos, sem fugas, sem nada mais que não seja, a sua evolução de criança, igual e perfeita como os irmãos. O António está radiante e eu também. Já me sinto de novo mulher, apesar de muito grávida de abdómen e pés inchados, a minha felicidade exterioriza-se como flor a abrir, a desflorar. Estou mais viçosa e bonita, disse-mo o meu António com aquele brilho no olhar que há muito não lhe via e, não lhe sentia sobre mim. As crianças estão felizes. Todas. O Manolo e a Maruga estão em lua-de-mel permanente o que penso, poderem seguir-me os passos de contribuição em fertilidade e procriação numa outra criança haverem, como eu e o António...e isso, faz-me sorrir, sorrir muito...finalmente! Vamos ter o nosso espaço, o nosso bocado de chão e território livre para começar de novo mas temos de esperar, asseveraram-nos. E nós esperamos, cumprindo esses desígnios futurologistas de nos sabermos vivos e de saúde, reconstruíndo o que de nós e em nós ficou da espécie humana: o amor.
Finalizando por hoje o meu »diário de bordo», posso apenas dizer-vos: a luz da esperança voltou. A escuridão dos meus dias já não é um monstro que me corrói as entranhas e devassa a alma, matando-me os meus, deixando-me à míngua de fome, sede e terror por tudo o que todos passámos até hoje. Quero acreditar que vamos sobreviver e ser felizes, muito felizes ainda e multiplicar-nos em carne e essência como nos primórdios de uma génese humana. Quero ser feliz. E quero, que todos o saibam na posteridade! Até sempre!

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