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sexta-feira, 1 de novembro de 2013

A Dissertação

 

Vlad - O Empalador

Vlad Dracula (Vlad, o filho de Dracul) subiu ao trono da Valáquia em 1447, depois do assassínio do pai, Vlad Dracul e da execução do irmão mais velho, Mircea. Mas primeiro teve de assegurar o seu poder. Em 1456, mandou empalar no pátio do seu palácio muitos representantes da antiga nobreza da Valáquia e da Transilvânia, que convidara para uma reunião. A sua intenção era destruir as famílias cujo poder o seu pai apoiara e dar um aviso claro à população para que pensasse bem, com quem se aliava. Dado que, durante o seu reinado (1447-1476), recorrendo muitas vezes a este método execrável de execução, entraria para a História como Vlad Tepes « Vlad, o Empalador».

Tortura e Execução

A história do príncipe romeno Vlad III, chamado Dracula, que viveu na Transilvânea no século XV, associou-se curiosamente à crença em vampiros. Dracula era conhecido pelos seus métodos particularmente horríveis de tortura e execução. As suas vítimas nuas eram empaladas vivas em compridas estacas que lhes penetravam o ânus e as entranhas até ao diafragma. As estacas eram então erguidas e cravadas no solo em jeito de intimidação. Os infelizes reviravam-se e retorciam-se até a estaca lhes chegar ao coração, provocando-lhes desse modo a morte. O horrendo espectáculo continuaria então, mesmo para além da morte, até o peso do corpo fazer com que a estaca voltasse a aparecer pela boca ou pescoço.

 

As Origens do Método

Mas Vlad Dracula não foi o inventor desta indescritível tortura. Investigações recentes mostram que, este método já seria conhecido no século VIII a. C. Quando o Rei Assírio Senaquerib conquistou a cidade israelita de Láquis, mandou fazer baixos-relevos onde se vêem três israelitas nus empalados. Trata-se provavelmente, da ilustração mais antiga deste desumano tipo de execução. Este método é igualmente mencionado como castigo no rolo do templo, um dos manuscritos mais famosos de Qumran, no Mar Morto, do século II a. C. Talvez se trate da recordação dos métodos de execução de Senaquerib. Após essa época, não se ouve falar mais do assunto.
Só volta a haver notícia de uma execução por empalação no tempo das cruzadas, desta vez levada a cabo por um grupo de francos revoltosos, que em 1096 ia saqueando aldeias húngaras a caminho de Jerusalém, para se reunir com Godofredo de Bouillon. Numa delas, empalaram um rapaz para quebrar a resistência da população. Provavelmente, teriam aprendido o método no Próximo Oriente, pois existem indícios de que este era praticado esporadicamente na Turquia para infundir terror. Quatrocentos anos mais tarde, Vlad Dracula, educado na Turquia, ordenava as suas lendárias e tenebrosas empalações em massa.

O Vampirismo na Literatura

Bram Stoker erigiu ao príncipe assassino da Renascença, um monumento literário com o seu romance «Drácula» (1897), que alcançou uma popularidade extraordinária. Para o escrever, baseou-se num livro de viagens, «Land beyond the Forest» (1888), onde Emily de Laszkowska Gerard disserta sobre as superstições romenas e fala muito de Vlad Dracula e da crença em vampiros na Transilvânia. Esta excelente amálgama literária nasceu assim da crença popular em vampiros e, de fragmentos da história de Vlad Dracula. A crença popular em vampiros penetra a sociedade e vice-versa: a sociedade também penetra a crença popular, modificando-a. Este efeito, provavelmente, já se verificaria no tempo de Vlad Dracula.
E assim se confundiram acontecimentos reais com fantasias sobre vampiros e, também, a crença em mortos-vivos. Ao misturar-se a ideia de espetar uma estaca nos mortos-vivos com os métodos de execução de Dracula, transformou-se desse modo o príncipe da Transilvânea no vampiro por excelência.
 

A Dissertação de Calmet

Dom Augustin Calmet publicou em 1746, a sua famosa dissertação sobre a aparição de anjos, de demónios, de espíritos e de vampiros na Húngria, na Boémia, na Morávia e na Silésia, um tema que na época estava muito em moda. Calmet reuniu diferentes relatos sobre vampiros e recorreu a fontes antigas, históricas e contemporâneas, a fragmentos de ensaios científicos e a costumes populares para a protecção contra vampiros. O bom acolhimento do público leitor, deve-se precisamente ao facto de, estas histórias se misturarem em diferentes noções. Por um lado, temos a ideia da ressurreição dos mortos tal como foi transmitida pelo milagre de Jesus Cristo e que, num contexto religioso, desempenha um papel central para o cristianismo na forma da ressurreição do dia do «Juízo Final». Por outro, joga-se com os medos e receios avulsos mas reais que as pessoas tinham de ser enterradas vivas. Eram inúmeras as histórias que se contavam de pessoas que perdiam os sentidos e se ouvia baterem no caixão, onde depois acordavam fechadas. Eram medos imensos mas com alguma razão de ser, num tempo em que, nem sempre, se conseguia comprovar a morte sem qualquer dúvida do pouco ou nada que se sabia sobre o fenómeno do «rigor mortis». Eventualmente, muitos destes casos espelharia esse horror de se ser enterrado vivo, noutros apenas a farta imaginação em que o vampirismo se coadunava com a já referida literatura de eleição na época e que, através dos tempos, veio a ser mais intensificada e mesmo, desenvolvida em tese macabra na existência dessas criaturas malditas.

Ainda hoje, há célebres relatos sobre a hipotética existência de vampiros reais como seres humanos que haviam sido, transformados em mortos-vivos numa anunciação de terror e fulminante sujeição aos povos a si circundantes. Fazem-se filmes, roteiros turísticos e mesmo (por vezes) a apologia dessa teoria malvada de tempos idos que se quer trasladar para a actualidade numa espécie de alegoria mórbida das atrocidades cometidas nessas épocas, como se já não bastasse de sobra, as que temos no tempo presente. Mais lúcidos e menos ferozes numa voracidade louca de em tudo nos imbuirmos, vamos ser então mais brandos, mais pacíficos e se possível, mais evoluídos no que se quer e deseja da espécie humana. Pois que assim seja, a bem da Humanidade. Só assim prevaleceremos em raça, género e identidade. Assim seja, então!


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