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segunda-feira, 25 de novembro de 2013

A Ilha dos Demónios

Poderá o Bem superar o Mal, na eterna luta entre um e outro na Terra?

Bali - A Ilha dos Demónios-Guardiães

Hora dos espíritos em Bali: de pés descalços, um homem salta para o meio das brasas que restam das cascas de coco queimadas. Saltam fagulhas em redor do seu corpo. O homem encontra-se em transe e parece quase nem se aperceber de que está a caminhar sobre o fogo.
À noite, os indígenas de Bali executam os seus rituais tradicionais e cerimónias, nos quais se deixam entrar em transe e estabelecem contacto com os deuses e demónios. Durante o dia, ocupam-se dos turistas que, todos os anos visitam esta ilha do arquipélago indonésio em grande número. Estes apenas captam uma imagem harmoniosa de dança, música, palmeiras e praias de sonho. Contudo, por detrás desta fachada idílica, a mitologia balinesa apresenta-se extremamente animada e com grande vivacidade, por exemplo quando os demónios se apoderam de sacerdotes que envergam máscaras ou quando, graciosas dançarinas por meio dos seus movimentos estilizados afugentam o mal.
Forças Divinas
A religião balinesa é uma variante do hinduísmo com influências do budismo e de religiões animistas antigas, caracterizada pela crença numa Natureza dotada de alma e, nos poderes e forças naturais.
Na divindade suprema, chamada «Ida Sanghyang Wasa», reúnem-se todas as forças positivas e negativas. Consiste numa noção de absoluto, de algo inexplicável, daí que nos templos balineses não se encontrem quaisquer representações de deuses, mas antes tronos vazios, que podem ser livremente ocupados pela divindade invisível. Todos os outros deuses e deusas, são manifestações das forças ordenadoras desta divindade suprema; os demónios personificam por sua vez, as forças destruidoras. Os seus aspectos ou manifestações mais importantes são os mesmos dos três deuses hindus. Brama, simboliza o Deus Criador e Vixnu, é Aquele que Conserva. No interminável ciclo do Universo, Xiva é o destruidor, mas também »Aquele que, desencadeia novas criações». Por essa razão, o mais elevado monte vulcânico de Bali, o «Gunung Agung», é identificado com ele.

Vulcão Mágico

Em 1963, após o fim dos sangrentos confrontos com o poder colonial holandês, ficou demonstrado quão profundamente arreigada no povo, permanece a crença na interacção das forças cósmicas. Mediante a antecipação de uma cerimónia chamada «Eka Dasa Rudra» - que de resto só se realiza a cada cem anos - pretendeu-se estabelecer a harmonia no país. Os sacerdotes aconselharam o Governo a desistir desistir destes planos, pois ainda não tinha chegado a altura apropriada. Apesar disso, uma multidão a perder de vista dirigiu-se ao templo sagrado no sopé do monte Gunung Agung. Foi então que, a ira dos deuses foi descarregada e se fez sentir: subitamente, torrentes de magma irromperam do vulcão sobre a multidão e reclamaram muitas vítimas. Apenas um grupo de crentes que na sua aflição começara a orar a Xiva foi poupado, tendo-se a corrente de lava dividido em dois e passado em seu redor, deixando-os incólumes. Desde então, permanecem incontestadas as antigas crenças acerca da eterna luta entre o bem e o mal, e com oferendas e orações e, uma profunda religiosidade, onde as pessoas continuam a venerar os deuses e os demónios.

Ordem Universal Mágica

Práticas animistas milenares - nas quais, as forças demoníacas que habitam na Natureza são veneradas mediante oferendas - fundiram-se em Bali com o hinduísmo e, deram origem a uma religião de características únicas, que apesar do seu misticismo antiquíssimo também apresenta alguns traços modernos: é que o Cosmos do Hinduísmo Balinês, encontra-se num processo de evolução permanente, no qual cada partícula possui uma determinada tarefa. Sejam seres humanos, animais, plantas ou objectos, todos eles contribuem para a conservação do Universo - no qual actua uma força (Darma) - responsável pela manutenção da ordem. As forças destrutivas (Adarma) aspiram a lançar o mundo no caos. Por essa razão, dever-se-à tomar as medidas necessárias para manter o equilíbrio entre essas forças.
Certas teorias científicas orientam-se por princípios de raciocínio semelhantes, os modelos de matéria e antimatéria, como é o caso da teoria dos «buracos negros», segundo a qual a chamada antimatéria, apenas é entendida como uma outra forma de massa. Só graças à interacção de ambas as formas de matéria é que os processos físicos elementares e a estruturação e o desenvolvimento do cosmos foram desencadeados.

Todos os numerosos templos de Bali possuem em comum uma característica distintiva especial: a entrada, quase sempre um portão com duas portas, é vigiada por guardiães de pedra, demónios de aspecto assustador. Têm como objectivo evitar que forças malignas se apoderem dos santuários mais representativos e visam assegurar que ninguém ousará roubar quaisquer objectos de valor do interior do templo. Os demónios, que costumam estar associados a uma imagem negativa, eram inicialmente apenas utilizados como representação de seres sobrenaturais, o que aliás está expresso na própria palavra grega «Daimones», que designa isso mesmo. Eram tidos como os habitantes de um reino intermédio e, estavam a meio caminho entre os deuses  e os seres humanos. Talvez por esse facto, lhes fosse atribuída a tarefa de guardiães dos templos.
Deuses e Demónios: a eterna luta entre o Bem e o Mal. Forças evolutivas e forças destrutivas, a génese imperfeita ou em processo continuado da formação e constituição do ser humano na Terra em balança por vezes desequilibrada, pendentemente para um dos lados em positiva ou negativa correlação com a acção benéfica ou maléfica no Homem. Assim é, efectivamente. Ainda que o imenso Cosmos nos grite, termos de o reequilibrar e mesmo alterar. Assim seja então, a bem da Humanidade!

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