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segunda-feira, 21 de abril de 2014

A Iluminação em Buda


Estátua de Siddharta Gautama - Japão

Será possível que, na existência humana, erradicando os três males fundamentais da voluptuosidade, a ânsia de transformação e a ignorância, o Homem se poderia reconhecer feliz ante tamanha contemplação sem estes males do mundo? Contestando a existência de um «eu», Buda terá tido razão ao propagar a interioridade humana, como um todo no Universo na forma de um espírito absoluto?

Budismo
Enquanto religião, o budismo baseia-se na experiência de um homem: o príncipe indiano Siddharta Gautama (566/563-486 a. C.). Shakyamuni, «o sábio da estirpe dos Shakyamuni», era filho de um príncipe muito rico, cujas origens remontam ao lendário rei Ikshvaku dos Himalaias. Reza a lenda que a mãe de Siddharta, Maya, deu o filho à luz num pequeno bosque florido perto de Kapilavastu.

O Príncipe Protegido
Siddharta Gautama cresceu coberto de todas as riquezas da vida terrena, mas protegido do mundo exterior e guardado atrás dos muros do palácio. O seu pai, o príncipe Shuddhodana, queria evitar que o filho se interessasse pelas questões religiosas, pois fora profetizado que este seria um conquistador ou um iluminador do mundo, o que poderia pôr a sua sucessão em perigo.
Quando teve idade suficiente, Siddharta fundou a sua própria família. Saindo às escondidas do palácio, por quatro vezes foi encontrando sucessivamente um ancião, um doente, um morto e um asceta, fazendo o príncipe interrogar-se se não seria possível libertar o mundo da velhice, da doença e da morte. Estas questões nunca mais o largaram. Um dia, decidiu virar costas à facilidade da sua existência e, deixou o palácio com a idade de 29 anos. Siddharta abandonou todos os seus bens, o pai, a mulher e o filho sem se despedir. Atravessou três reinos com o seu auriga Chandaka. Chegado ao rio Anavama, desembaraçou-se das roupas principescas, rapou o cabelo e prosseguiu o seu caminho a pé, vestido de mendigo.

Iluminação em Bodh Gaya
Siddharta Gautama procurou a verdade durante muito tempo. Encontrou muitos mestres, iogues e filósofos famosos. Por fim, juntamente com cinco companheiros que o admiravam e, que o tinham procurado devido à sua austeridade ascética, chegou à pequena aldeia de Uruvela, situada em frente da actual Bodh Gaya, na margem do rio Niranjana, onde se sujeitou durante 6 anos a dolorosas mortificações e, rigorosas práticas ascéticas. Reduzido a pele e osso, Siddharta reconheceu finalmente que, a verdade não residia na automortificação nem no ascetismo. Compreendendo então que a verdade era um processo interior, sentou-se debaixo de uma figueira com a firme decisão de só voltar a levantar-se quando a reconhecesse.
«Despertou» numa noite de Lua Cheia de Maio, ao cabo de 49 dias de introspecção.

Buda, «O Desperto»
Ao ser iluminado, Siddharta Gautama adquiriu o conhecimento da natureza das coisas, da existência e do «eu» e tornou-se assim um Buda, um «desperto». Alcançou a lembrança das suas formas de existência anteriores, o reconhecimento da encarnação nos outros seres, a sabedoria sobre as «quatro nobres verdades» e, a eliminação dos «três males fundamentais», a saber, a voluptuosidade, a ânsia de transformação e a ignorância. Ao cabo de 7 dias sentado imóvel debaixo da árvore do entendimento (bodhi), o demónio Mara tentou dissuadi-lo de transmitir o seu conhecimento aos humanos. Mas Buda persistiu na sua decisão e, levantou-se por fim do seu lugar, para abrir as «portas do intransitório aos que quiserem ouvir», tornando-se assim um «desperto perfeito» (sammasambuddha).

O Sermão de Benares
No parque de Isipatana, actual Sarnath, perto de Benares, Buda - depois da sua iluminação - voltou a encontrar os 5 ascetas que o tinham acompanhado ao princípio e que, por fim, o haviam deixado devido à sua entrega às práticas de mortificação. Com o célebre sermão de Benares, Buda pôs em movimento a «roda dos ensinamentos». Os 5 ascetas foram os seus primeiros discípulos. Ainda hoje há fiéis budistas que percorrem em meditação - no sentido dos ponteiros do relógio - o grande stupa de Sarnath, o edifício religioso central erguido no lugar do primeiro sermão de Buda.
Na sua prédica, Buda rejeitou a doutrina de um «eu» eterno e imutável. A sua visão da existência era a de uma corrente contínua de transformações e sofrimentos. Desde o princípio que, o ser humano, gira então na roda da encarnação (samsara). O que Buda propôs não foi a substituição da transformação, inevitável, pela noção de um «eu» eterno e, imutável. Pelo contrário, contestou a própria existência de um «eu» - tanto enquanto fundamento interior do ser humano - como enquanto base exterior do Universo, na forma de um espírito absoluto (Deus). Buda ensinou o «não-eu» (anatman).

Que homem foi este então, Siddharta Gautama em iluminação e seguimento de ensinamentos tão contrários e expansivos quantos os da sua dimensão na época. Que terá ouvido, que terá sabido de tão eminente e extemporâneo (ou não) de uma nova filosofia de vida em ascetismo e interioridade incomuns para a sua linhagem real? Terá ouvido os céus, terá sabido reiterar esses novos ensinamentos que em processos estelares lhe terão imputado em novas correntes e novas assimilações de alma? Que alma maior terá sido então Siddharta Gautama que, ainda nos dias de hoje, na actualidade, nos faz respeitar e por vezes seguir nessa mesma interioridade de alma e espírito, de um novo caminho para o ser humano na sua continuada luta de sobrevivência e desenvolvimento pessoal...? Buda ou espécie de deus que, mesmo na idade contemporânea, nos arremessa a certeza de algo iluminado, exterior à Terra em luz, sequência e direcção. E que todos os dias, nos alumia também assim uma maior pureza de caminhos a percorrer. Por toda a eternidade e, em toda a Humanidade!

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