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quarta-feira, 23 de abril de 2014

A Mística do Islão


Mesquita de Al Badiya - Norte do Emirado de Fujairah                 Emirados Árabes Unidos

"Quem conhece Deus, ama-O. Quem conhece o mundo, renuncia a ele."
                                                                                      - Hassan al-Basri (643-728) -

"La Ilaha Illa ´Llah" (Não existe nenhum Deus além de Deus) - Serão os «Dervixes Suplicantes» os mensageiros de Deus (ou de cúmplices deuses estelares) que em seu nome e tendo por base o Alcorão e, evocando forças especiais, alcançam o êxtase em poderes fantásticos só comparáveis a esses mesmos deuses? E que estranhos poderes são esses que os Sufis revelam, chegando mesmo a falar-se de ressurreição nos níveis mais elevados?

Sufismo - A Mística do Islão
A partir do século VIII, algumas comunidades ascéticas do Islão tentaram opor-se à perda iminente dos seus valores religiosos. Envergando por isso uma túnica de penitência de «suf» (lã), começaram a pregar o verdadeiro significado dos versículos do Alcorão. Devido ao seu vestuário, em breve eram apelidados de Sufis. Os membros das Ordens Sufis ou simplesmente monges pedintes islâmicos, chamam-se «dervixes», de «darvis» - palavra de raiz persa que significa pedinte. Um dos fundadores do Sufismo foi Hassan al-Basri (643-728), que supostamente afirmou: "Quem conhece Deus, ama-O. Quem conhece o mundo, renuncia a ele."

Uma Vida Impregnada de Deus
A orientação mística do Islão - que os Sufis abraçaram desde o início - conduziu a um conflito grave com a concepção teológica dominante. Ao contrário dos Teólogos Ortodoxos, para quem o importante era a observação dos deveres e leis (sharia) do Islão e, sobretudo, a obediência incondicional a Deus, os Sufis invocavam uma passagem do Alcorão que fala do amor entre Deus e a Humanidade.
Os Sufis, para quem o Alcorão não deve ser entendido apenas no seu aspecto exterior, aspiram muito mais a realizar a mensagem nele oculta nas entrelinhas. Querem que a sua vida seja preenchida com a entrega a Deus, sugerida pelo significado da palavra «Islão» (em árabe, «submissão»). À semelhança dos místicos de todas as religiões, o Sufi aspira a receber Deus. O seu caminho leva a uma vida interior que não é separada de Deus. Para os seguidores desta doutrina, Maomé, fundador do Islão, foi o primeiro Sufi do mundo - pois levou uma vida inteiramente impregnada de Deus.

O Conhecimento Libertador
Levando os seus discípulos uma vida exemplar de ascetismo e adoração a Deus (tawakkul), o Sufismo expandiu-se depressa, apesar de todas as resistências. Os Sufis desenvolveram sistemas capazes de levar a um êxtase progressivo. O objectivo era o «conhecimento libertador» (ma`rifa). Nos passos seguintes atingia-se a extinção do «eu», a permanência em Deus e, a união mística com Ele.

Criação das Ordens
Entre os séculos X e XIV formaram-se várias Irmandades e Ordens que, originaram assim inúmeras obras que descrevem os ambicionados estados místicos e que, expõem a doutrina dos Sufis, por palavras inflamadas. De resto, esta literatura surgiu para mostrar que o Sufismo está inteiramente de acordo com os princípios fundamentais do Islão. Um dos seus representantes mais conhecidos, Abu Bakr al-Kalabadhi (m. 1000), escreveu um texto famoso com o título "Livro de Informações sobre a Doutrina dos Homens do Sufismo" onde apresenta provas de justeza dos ensinamentos Sufis.

Os Dervixes Rodopiantes
Foi uma época em que, o Sufismo, influenciou bastante a arte. Tentava-se uma aproximação do mistério de Deus através da música, dança e poesia. Um dos seus expoentes foi o poeta persa Jalaluddin Rumi (1207-1273) que viveu em Konya (Turquia), onde fundou a Ordem Sufi Mevlevi. Como esta valorizava sobretudo o canto e a dança, chamaram-lhe também «Irmandade dos Dervixes Rodopiantes».
Rumi, dedicou a sua inflamada lírica e folclore ao Dervixe pedinte Xams Tabrizi. Os rodopios dos Dervixes em êxtase, são ainda hoje, o elemento mais conhecido da tradição Sufi. Era através da música e da dança que se invocava o êxtase divino. Para tal, os grupos de Dervixes formavam dois círculos. Depois rodopiavam com os braços estendidos na horizontal, enquanto um deles girava no sentido contrário ao dos ponteiros do relógio.

Técnicas de Êxtase
As Ordens desenvolveram diferentes práticas religiosas do êxtase (dhikr). Alá, amado príncipe da alma, era invocado num transe gerado pelo ascetismo, privação do sono e dança ao som dos tambores.
Os chamados «Dervixes Suplicantes» cultivavam a recitação conjunta do nome de Deus, da sua profissão de fé ou de uma sura do Alcorão, como forma especial de comunicação com Deus, e davam particular atenção às técnicas respiratórias - nas quais prendiam o ar durante alguns minutos - para depois repetirem durante horas, as sílabas da fórmula «La Ilaha Illa ´Llah» (Não existe nenhum Deus além de Deus) com voz abafada. Seguia-se depois a repetição da sílaba aspirada «Hu» (Ele, Deus). Segundo a lenda, os Sufis que alcançam o êxtase por meio destas técnicas desenvolvem poderes fantásticos. Podem, por exemplo, voar ou ferir-se sem perder sangue; as suas roupas podem arder, deixando-os incólumes. Fala-se até de ressurreição nos níveis mais elevados.

Mestres e Discípulos
O Sufi aspira apenas à união com o amado (Deus), enquanto estado de perfeição. O amor a Deus deve ser cultivado no coração, para que o «eu egoísta» possa ser dominado. Assim, o discípulo é denominado «aspirante». Quem o guia no seu caminho é o superior da Ordem (Xeque), considerado o representante de Maomé e a quem é devida uma obediência incondicional. O discípulo é cada vez mais iniciado no conhecimento, conforme o seu progresso espiritual. Estes ensinamentos ocultos só são acessíveis aos membros da Ordem e, apenas, oralmente. O Xeque é o último membro de uma corrente espiritual (silsila) iniciada pelo fundador da Ordem; no caso de muitas Irmandades, pelo próprio Ali, genro do profeta Maomé, ou mesmo por Maomé.

Fundadores
As primeiras escolas Sufis surgiram no século IX no círculo do lendário místico egípcio Dhu`n-Nun (m. 859), do místico islâmico Bayesis al-Bistami (m. 874) e do filósofo Al-Junayd (m. 909), o primeiro a compilar os textos dos Sufis. As suas obras compreendem sobretudo experiências místicas em estados de êxtase, extinção do «eu» e vida em Deus. Al-Junayd elaborou a partir delas a sua «Filosofia de Extinção em Deus», que teve grande influência na continuação das tradições Sufis.
Eis as palavras com que descreveu o «Ser» na Unidade Divina: " Deus deixa os homens morrerem para poderem viver Nele."
Estas ideias místicas originadas por vivências de êxtase foram recebidas como uma provocação extremista pelo Islão Ortodoxo. Muitas máximas Sufis chegaram a ser consideradas blasfémias.
"Transformei-me naquele que amo. Aquele que amo transformou-se em mim. Somos dois espíritos fundidos num só corpo." - Estas palavras levaram o seu autor, Al-Hallaj, a ser executado em 929.

No interior da Mesquita de Al Badiyah, datada do século XVII e, situada no Norte do Emirado de Fujairah nos Emirados Árabes Unidos, ainda ecoa e reina a mesma harmonia mística que fascinou os primeiros Sufis.
Os Muçulmanos tradicionais - mesmo na actualidade - aproximam-se de Alá em peregrinação a Meca. Oram e meditam sob o desejo e crença de conservarem os valores tradicionais do Islão. O Sufismo actua ainda hoje, aspirando à interiorização da religião, considerando a vida, o caminho para ultrapassar tudo o que separa o homem de Deus.
Deus é de facto um só, independentemente das crenças e ideologias religiosas de cada um. Seguidores ou não de todas estas vontades e experiências divinas, o certo é que ainda hoje nos questionamos sobre o verdadeiro poder e dimensão na Terra deste incomensurável Deus piedoso e, Todo-Poderoso. Pois que Ele nos acompanhe sempre - mesmo nas nossa más escolhas quotidianas - e assim nos possa fazer aprender com os nossos muitos erros terrenos, no longo processo evolutivo do ser humano. Assim seja então e para sempre! A bem da Humanidade!

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