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quarta-feira, 11 de junho de 2014

A Deusa Negra Kali


Ilustração da Deusa-Mãe Indiana: Amba, Durga ou Kali

Que poderes mágicos serão estes, incutidos - e desenvolvidos - por estas deusas de outrora em que se afirmava que voavam e até ressuscitavam mortos? Que culto seria este para que tal reproduzissem em ritos sexuais realizados nos templos? E, qual o verdadeiro sentido desses ritos?

Kali - A Deusa Negra e os seus Seguidores
A grande Deusa-Mãe tem muitos nomes na Índia. Os mais comuns são Amba (mãe), Durga (a insondável) ou Kali (a negra). É a esposa de Shiva, também chamada Parvati; todos os nomes representam aspectos da sua natureza de «shakti» (força, energia): a personificação da energia primordial divina.

A Grande Feiticeira
Sete servas, as «Yoguinis», acompanham a mãe divina. Simbolizam as Shaktis personificadas de vários deuses. As Yoguinis, acompanhadas da Grande-Deusa, são no entanto apenas outros aspectos da natureza desta Deusa-Mãe.
Este facto é evidente, sobretudo na oitava yoguini, acrescentada mais tarde às outras sete e chamada Mahamaya (A Grande Feiticeira). Mas Kali e Durga também eram invocadas com este nome, o que não admira, pois Mahamaya é o conjunto das Yoguinis - a essência de todos os aspectos da Grande Deusa-Mãe.

A Criação das Yoguinis
Segundo a lenda, cada gota de sangue que o demónio Raktabija perde, transforma-se num novo demónio. Para o combater nesta situação desesperada, Kali cria as sanguinárias yoguinis, que engolem o sangue de Raktabija - finalmente morto pela espada da deusa.
Kali é muitas vezes representada dançando em união sexual com Shiva. Os seus adornos são um cinturão de braços decepados e, um colar de caveiras. Numa mão segura a cabeça de um demónio e na outra, uma espada.

Poderes Mágicos
As misteriosas Yoguinis são interpretadas como encarnações dos defeitos humanos: Brahmani é o orgulho, Maheshvari a cólera; Vishnavi a cobiça, Kaumari a arrogância; Varahi a inveja, Indrani a difamação, Kamunda a calúnia e Yogueshvari a origem de todos os defeitos - a sede da existência que prende o indivíduo ao mundo material e o afasta do espírito.
Na crença popular, as Yoguinis são terríveis e perigosas: devoram crianças, trazem doenças e habitam os locais onde se queimam os mortos. São atribuídos poderes mágicos extraordinários a elas e às bruxas, suas seguidoras na terra. Diz-se que voam e até que ressuscitam mortos.

Ritos Sexuais
Ao que parece, existiu outrora um culto das yoguinis, realizado por mulheres «selvagens», a quem hoje chamaríamos «inconvencionais», que exactamente por isso eram consideradas bruxas.
O culto estava ligado a ritos sexuais realizados nos templos. O verdadeiro sentido destes ritos era superar os defeitos e, transformá-los em virtudes espirituais, pois sob uma capa terrível, as Yoguinis revelam a sua verdadeira cara: as virtudes da inteligência, sabedoria, conhecimento, pensamento, perseverança, memória, discernimento e, por fim, luz libertadora.

A Deusa Adorada
Durga - com quatro a dez braços - é representada dominando um leão. castiga ou abençoa com o seu enorme poder. Recompensa com amor e conhecimento quem aspira à realização espiritual. Distribui comida aos pobres e destrói com fúria aniquiladora o demónio da ignorância.
É adorada sobretudo em Bengala, no Nordeste do subcontinente indiano, onde todos os anos se realiza no Outono uma festa que dura vários dias, a Durga-puja. No último dia mergulha-se num rio - ou no mar - uma imagem da Durga escolhida para o efeito durante o ano.

O Templo de Kali em Udaipur é diariamente visitado por muitos fiéis. Trata-se sobretudo de mulheres que cumprem as suas devoções nos templos de Kali, perante as imagens da deusa.
Não se sabe ainda hoje se, estas deusas seriam ou não emissárias de algum deus maior que as terá incutido de poderes extraordinários sobre os homens. O que se supõe, é que algo de superior e muito avesso à Terra se terá inculcado também nestes poderes que outrora se julgavam mágicos e fora do comum nestas mulheres-deusas indianas. Veneração - e muitos seguidores das mesmas - ainda hoje se mantém por toda a Índia em adoração e respeito numa entrega total de crença e, prestação a si. Todos os cultos nos merecem esse mesmo respeito, consideração e, conhecimento, pelo que aqui se regista de uma sabedoria ancestral que ficou no tempo - e para a História - algo mais que talvez ainda não tenhamos de todo desvendado. Seja como for, restar-nos-à respeitar isso mesmo também com a mesma simpatia e lucidez cultural que nos é devido, em continuação de cultos e culturas além os tempos. A bem da Humanidade, assim seja!

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