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terça-feira, 29 de julho de 2014

A Filosofia Eterna


Pintura a Óleo do Retrato de Marsilio Ficino - Erudito Florentino

"A Philosophia Perennis" (Filosofia Eterna) introduzida por Ficino e Pico nos círculos eruditos do Renascimento, será efectivamente a nova e globalizante consciência humana de livre arbítrio ou, em que o ser humano tem participação activa na concepção do seu destino? E tudo isto, gerado por novas concepções do mundo - combinadas entre si e, florescentes - nas diversas vertentes da Astrologia, a Magia, a Medicina, a Cabala e a Alquimia? Que inovação estrondosa foi esta, que afectaria para sempre os mui conservadores círculos intelectuais do Velho Mundo?

A Tradição Hermética
Talvez nunca tivesse havido um Renascimento que colocasse o ser humano no centro do mundo e que, houvesse trazido tantos e tão notáveis progressos no campo da História da Cultura, não fosse o facto de o Erudito florentino Marsilio Ficino (1433-1499) ter traduzido para Latim um manuscrito atribuído a Hermes Trismegisto - o lendário fundador das Ciências Ocultas.

Hermetismo e Cristianismo
No Renascimento achava-se que Hermes Trismegisto fora um iniciado egípcio dos tempos de Moisés. Por essa razão, Ficino ficou surpreendido quando nos seus escritos encontrou muitas ideias cristãs. Via em Hermes um velho e respeitável Teólogo, que havia antecipado em muitos aspectos a verdade da religião cristã. Com efeito, porém, os Escritos Herméticos (o Corpus Hermeticum) constituem uma colecção de textos mágico-filosóficos dos séculos I a III da Era Cristã, nos quais convergem ideias do Judaísmo, do Neoplatonismo, do Gnosticismo e do Cristianismo.
Com base nos seus pontos de vista, Ficino tentou reunir as ideias contidas nos Escritos Herméticos, numa síntese com a Teologia Cristã. As suas ideias em relação à Magia, à Astrologia e à Medicina, lançaram os fundamentos da Magia como precursora das Ciências Naturais Experimentais.
A nova concepção do ser humano que faltava foi fornecida pelo jovem Giovanni Pico della Mirandolla (1463-1494) - o mais importante membro da Academia Platónica de Ficino, instituição que este último dirigia em Careggi, perto de Florença.

O Ser Humano no Centro do Mundo
Pico della Mirandolla reserva o papel principal para a liberdade espiritual do ser humano. Este último não se encontra sujeito a uma lei pré-determinada, ao invés disso pode determinar a sua existência através de escolhas livres e conscientes, passa então a ocupar o «Centro do Mundo».
Mediante a sua vontade ou a sua capacidade de imaginação, o ser humano torna-se um participante activo na concepção do seu destino.
Um século depois de Ficino e Pico, Giordano Bruno (1548-1600) tentou fundar uma religião universitária baseada em Escritos Herméticos. Tal tentativa valeu-lhe a morte na fogueira.

A Filosofia Eterna
Ficino e Pico introduziram nos círculos eruditos do Renascimento - para além do Hermetismo - também os ensinamentos secretos e místicos do Judaísmo - a Cabala.
Tentaram demonstrar que, todas estas correntes, faziam no fundo parte da Filosofia Eterna (Philosophia Perennis). Começaram assim a nascer novas concepções do mundo em que eram combinadas a Astrologia, a Magia, a Medicina, a Cabala e a Alquimia.
Da Academia Platónica de Florença foi avançando e ganhando força uma vaga de inovação que afectou todos os círculos intelectuais do Velho Mundo.

O Modelo do Mundo de Pico della Mirandolla
Pico della Mirandolla esforçou-se por conseguir uma unidade entre a religião cientificamente instruída e, uma filosofia temente a Deus. Esta ambiciosa síntese que Pico pretendia alcançar, ia desde os mistérios da Antiguidade - do Antigo e do Novo Testamento - à Astrologia e à Magia, passando pelas teorias de Platão.
Com base na sua perspectiva Neoplatónica acerca de uma escala da existência - que vai desde o Ser Superior (Deus) até ao corpo inanimado - desenvolve uma grandiosa «Mundivisão total».
Nesta sua Mundivisão, o ser humano é um «Microcosmos», no qual todas as possibilidades estão em aberto, tendo assim a possibilidade de escolher qual o estádio de existência que pretende ocupar; o mais elementar: o animal ou o celestial.

Marsilio Ficino, Pico della Mirandolla e um século depois Giordano Bruno, todos eles se induziram e seguiram estes parâmetros de uma nova conceptualização do Mundo em combinadas vertentes científicas. Não terão sido eventualmente compreendidos - ou aceites - nessa sua analogia de novos tempos se indiciarem, no que até se supunha em conhecimento e mesmo em crença religiosa. Giordano Bruno pagou com a vida essa sua reiteração e afeição pelos estudos mais avançados e, certamente, mais abrangentes para a  época em que vivia. Sejamos justos e façamos-lhes a todos, a devida homenagem póstuma pela exausta e imperativa afronta que então se terão debatido entre os seus. Para sempre ficará em nós, esta Filosofia Eterna que engloba tudo o que já foi referido - em Ciências reconhecidas por outras nem tanto, até mesmo nos dias de hoje. Honras lhes sejam feitas, no que foram efectivamente os precursores irrefutáveis no tempo de toda esta nova consciência no ser humano. Por eles, por nós, e pelas gerações futuras num maior ou mais lato conhecimento e cultura geral, assim se determine em continuar no avanço da Humanidade! Assim sendo, assim o seja!

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