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sexta-feira, 25 de julho de 2014

A Tempestade no Deserto


Jacto dos Estados Unidos da América em Projecção Aérea

       - "A nossa meta não é a Conquista do Iraque, mas a Libertação do Kuwait!" - Diria George Bush em comunicação posterior do início da "Tempestade do Deserto".

Até onde irão os meus limites na vida - em recordação e acirrante mágoa - por tudo o que vivi, como se tivesse sido um mero pesadelo havido há muito tempo...há séculos atrás? Mas não o foi e peno por isso. E, latejando em alma sangrenta, hemorrágica ainda hoje, me vejo olhar os céus e pedir a Deus que me devolva o ser que amei com todas as minhas forças e vontades. Será que Deus me ouve ainda...? Estarás efectivamente morto sem corpo apresentado e, sem lápide para que aí te pudesse chorar, mesmo que sobre uma outra te tivessem feito homenagens póstumas de um país, uma nação que não é minha - mas tua - na parte dilacerada que também em mim ficou? E porque me deixaste então...quando tantas promessas foram arremessadas, foram ditas sobre o meu corpo nu e, a minha bendita alma colada à tua? Porquê???

Janeiro de 1991 - Guerra do Golfo - "Tempestade no Deserto"

O Início
O Apocalipse abateu-se sobre Bagdade, capital da Nação Árabe Iraquiana, liderada pelo carismático homem de poder totalitário - Saddam Hussein. Mais de 2.500 aviões americanos sobrevoariam os céus de um Iraque já em plena escuridão de uma noite invulgar e, surpresa. Sucessivos bombardeamentos foram desencadeados pelas forças militares e seus aliados deixando um rasto de fogo, cinza e diversas explosões sequenciais dessa acção. Três horas de raids bastariam  para que depressa e eficazmente se determinasse quem sairia vencedor. Aquela noite de quarta para quinta-feira não seria nunca mais - e ao longo de uma História infindável - igual a tantas outras de silêncios e temores, esperanças e fervor. Não o seria para os tantos que, ás mãos de Saddam, se viram na sua «Grande Guerra» - A Mãe de Todas as Guerras - como em êxtase a apelidava, deixando morrer, trucidar e tudo para trás ficar, além da inglória submissão ao elevado poder bélico do inimigo, a família. E, pior do que isso, todo aquele tão grande amor à Pátria - exacerbado por um fundamentalismo idiota  e sem nexo que tão bem Saddam lhe sabia imputar.
O Inferno de Dante não teria sido melhor descrito - ou visionado - por todos aqueles que, no meio de incêndios e pânico desordeiro se viram, rebuscados da pacatez - ainda que falseada por alguns - dos seus lares numa Bagdade agora perdida.


The Day After
O dia seguinte foi tráfico. Os Media reportavam os acontecimentos bélicos como uma panóplia de feitos surpreendentes em toda a sua magistral linha rasante: - A refinaria que existia nas imediações de Bagdade tinha sido destruída assim como, os vários edifícios oficiais.
O palácio de Saddam estava em chamas e mesmo a sua residência pessoal havia sido danos consideráveis, encontrando-se bastante danificada de facto. Várias rampas de mísseis «Scud» foram desde logo eliminadas com uma precisão e eficácia deveras impressionante pelas forças americanas e seus aliados.
Tornados britânicos F-15 americanos e, por último os não menos conceituados aviões jaguar franceses, derrubariam em bombardeio certeiro as resquícias esperanças de um Saddam agora mais indefeso, mas não totalmente destituído de todo o seu poderio militar. As armas químicas eram um fantasma que ensombrava de quando em vez certos círculos dos altos comandos das forças aliadas - não se pondo de parte a loucura  desse ditador em fazê-las espraiar sobre a força inimiga.
Não se podia nem devia subestimar o poder de Saddam que, fazendo jus à sua intensa loucura de comando sobre os seus homens - quase na sua maioria ignorantes demais para se aperceberem das intenções suicidas por si levadas a cabo - onde, por algum tempo mais, este se determinasse. Ainda que, fontes seguras revelassem já haver desertores na sua «brava» força guerreira!
Foi assim que, pelas 8 horas e 30 minutos - hora de Riade (Arábia Saudita) - se veio a reconhecer terem começado os confrontos por terra na  fronteira entre o Kuwait e a Arábia Saudita. Nesta mesma hora, o correspondente da BBC em Riade, informaria que a artilharia iraquiana tinha atacado já pela manhã, uma refinaria na Arábia Saudita. As forças norte-americanas responderiam com helicópteros «Cobra», com aviões de descolagem vertical Harrier e A-10 Thunderbolt.
A CNN daria as suas primeiras imagens dos heróis em regresso às suas Bases na Arábia Saudita - imagens essas, propositadamente oferecidas pelo Pentágono a esta cadeia de televisão - mostrando os vitoriosos.
Estava assim confirmada esta espécie de guerra electrónica, em directo, ou quase, em que todos nós participávamos como se fossem meros jogos de vídeo, mas felizmente não morríamos - por estarmos bem à distância dos factos e...das emoções. Preferencialmente!
Dick Cheney, Secretário de Defesa norte-americano dava uma conferência de imprensa após a comunicação à nação - e ao mundo - de George Bush, acompanhado pelo General Colin Powell, Chefe de Estado-Maior conjunto norte-americano. Pouco revelariam por segurança expressa ou simplesmente por ainda não saberem os factos exactos...(esta segunda hipótese não tão real assim, do que se supõe estes saberem na totalidade). Participariam então, a satisfação latente de uma vitória a quase 100 % patentiando de que os objectivos haviam sido literalmente atingidos, não tendo existido resposta aérea ou anti-aérea adequada por parte do Iraque.

O Revés
Mas a procissão ainda ia no atrium. O que quer dizer que, estas cantorias de «vãs» vitórias seriam um pouco precipitadas ou mais concretamente, mais prematuras de certa forma em ostentação de uma vitória arrasadora por, no mês seguinte, na fatídica afronta da noite de 12 para 13 de Fevereiro, se ter dado um revés - não em baixas militares nos aliados mas por outras, de origem especulativa.
O abrigo-bunker de Al-Amerieh, que tinha sido transformado em instalação militar no fim da década, albergava agora nos seus pisos superiores mulheres e crianças inocentes - alvos preferenciais de Saddam como camuflagem e, interdição. Não lhes valeu de muito, nem a ele nem tão-pouco àqueles infelizes que esturricaram debaixo dos mísseis guiados por raios-laser dos dois F-117 em missão concretizada às 4 horas e 50 minutos locais.
Esta, foi a primeira «vitória» de Saddam, e talvez a última. A operação, não de charme mas do pretenso infeliz que viu vitimar inocentes. Cingiu-se-lhe então como perfeita vestimenta de uma vitimização eloquente e assaz melindrosa, assumidos em laivos fluidos de consternação pelo sangue do seu povo derramado. Tentou passar por herói e solidário líder com a dor da sua gente. Começaria assim a temível outra guerra: a da propaganda! Perez de Cuellar lamentaria a situação na amplitude de perdas humanas. Tarek Aziz exultava-se de revoltas pelo crime hediondo cometido pelos norte-americanos e seus aliados. E o mundo esse...via em tudo numa harmonia imprecisa entre o silêncio e a confusão.
Existiria fronteiras-limite entre o que seria alvos militares e alvos civis? Pertinente ou não, era esta a indefectível pergunta à qual muito poucos saberiam responder com exactidão e, clarividência de seus actos. Em particular nesta guerra, onde se verificou que a defesa iraquiana usava escolas como postos de comando e camuflava equipamentos de guerra em caravanas petrolíferas civis.
E o terror persistia, escondido e imprevisível: o uso de mísseis Exocet e armas químicas contra objectivos terrestres e navais por parte de Saddam, provocando deste modo um número considerável de baixas norte-americanas. Os marines em Dahran aguardavam receosos ode que Saddam os utilizasse no vasto potencial químico que provavelmente dispunha e guardar para algum momento mais exacto da sua estratégia. O que não se supunha era que o fizesse mesmo, mas em circunstâncias algo inéditas e perturbadoras. «Scud» ou mais especificamente SS-1A que sabiamente (ou não) os iraquianos ampliariam na fuselagem, aumentando assim o depósito de combustível, diminuindo-lhe o peso da cabeça explosiva. Criaram deste modo duas novas versões do ultrapassado Scud: Al Hussein eo Al Abbas, de 625 e 870 km, respectivamente.
Utilizou-os então, aterrorizando populações e comandos na sua sempre inimiga Israel, fazendo tremer Telavive, Haifa, Dahran e Riade.
Foi assim que o mundo tremeu. Eu...não fui excepção. Todas estas cidades sofreram a ansiedade, o nervoso e toda a imensa loucura de uma guerra anunciada no Médio-Oriente e perto de um outro mundo: o ocidental. Suspendíamos a respiração e rezávamos. Nem as menos crentes escapavam àquela enlouquecida guerra que se registava perto de nós, mais perto do que o desejaríamos.
O meu homem não voltou para os meus braços. Morreu-me longe. Morreu-me para sempre! Ainda o choro, ainda o lamento na sua eterna jovialidade apresentada em que nos amávamos, fazendo um amor só nosso, tão louco e devasso como esta guerra que de mim o levou. Sou uma viúva sem pátria, sem homem e sem nada de meu...nem solo nem eira, nem beira. Sou só eu, com as minhas lágrimas, os meus tormentos, as minhas desilusões e...as minhas muitas tristezas. Mas hoje é um dia alegre, feliz. O filho que ele me deixou no ventre está hoje a içar e a cumprir o seu destino em bandeira, arma e nação...essa mesma nação que de mim levou o seu pai, herói guerreiro da Tempestade no Deserto. O meu herói. E agora...apenas observando os céus em força militar aérea de onde o meu filho é servidor e, servido de honras e assomos seus e de sua nação de nascença e criação, honrarei eu também o seu nome e a sua condição de homem bravo, homem guerreiro que deu a vida por uma grande missão no Médio-Oriente.
Estou feliz. Cumpriu-se os desígnios de Deus. E eu agradeço-Lhe por isso e que, me não leve o filho pois que mãe há só uma e eu nem sei o que faria se Deus me impusesse essa má condição. Ou boa...quem sabe, de um dia podermos estar todos juntos e, olhar o Céu, o nosso Céu, e vermos que afinal...somos todos livres, somos todos puros, somos todos almas que um dia se juntarão num só Céu eterno de uma só condição! Não há credos, não há cores, não há diferenciação e todos seremos felizes num abraço fraterno sem guerras, munições ou atritos de espécie alguma. Mas isso...sou eu a sonhar, tornando a ter-te nos meus braços, meu grande e único amor na vida...para além do nosso filho na Terra! Descansa em paz, meu amor! E...em breve estarei contigo. E levar-me-às contigo nesse teu jacto, nesse teu caça onde pereceste e para sempre eternizaste o teu corpo mas não...a tua alma...essa, está comigo! Guardei-a para mim e, para o dia em que nos encontrarmos de novo nos céus perdidos de um Universo infinito! Meu amor...

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