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sábado, 9 de agosto de 2014

A Sombra da Paixão


Mãos Sobrepostas na Sombra da Paixão

Poderia esperar-te uma vida inteira e, viver na sombra dos teus passos, na sombra dos teus olhos  e mesmo na sombra da tua vida? Que paixão é esta que me consome, devora, mitiga o ser e o íntimo e me devassa até à alma de quando não te tenho, de quando não te possuo, de quando não te sinto em mim...?
Poderei viver assim, na escuridão de um sentimento sufocado sem que me toques, sem que me penetres no corpo e na alma, sem que de mim usufruas tudo...até aos limites da decência? Até aos limites do possível...?

A Loucura
Conheci-te num bar. Estavas com uns amigos. Eu...com umas amigas. Cruzámo-nos em olhares furtivos, em olhares concupiscentes de quem tudo quer, de quem tudo sabe da vida e sente que o merece. Trocámos olhares e números de telemóveis como habitualmente se faz, sem ter a certeza de um caminho correcto ou prolongado no tempo de algo que fale de nós. A dúvida permaneceu. Por muito tempo ainda.
Contactaste-me. Fiz-me difícil. Não tinha de ceder à primeira. Queria e não queria. Estava doida de desejo mas não o podia demonstrar, revelar ou sequer induzir-te em erro por uma jogada fútil e descartável, como sabia tantas vezes ocorrer em iguais circunstâncias. Eras bonito. Muito bonito. Muito alto...muito tudo!
Mereceria eu tamanha imponência de homem...? Jogavas râguebi e estavas a um passo de concretizar o teu grande sonho: velejar pelo mundo inteiro ou apenas - dizias a sorrir - a percorrer algumas milhas de oceano em percussão marítima de homenagem aos velhos marinheiro de outrora que, jamais voltariam no tempo.
Eras perfeito! E..ias ser meu! Como podia eu recusar esse teu alvo sorriso que faria inveja a qualquer estomatologista em congresso, enunciando sucessos e abrilhantados esforços de pôr o mundo a sorrir sem cáries e sem medos, mostrando toda uma alegria inumana, como se fosses iluminado, como se fosses um deus! E foste-o para mim! Até certo ponto. Foste, a minha maior loucura, a minha maior ilusão...a minha mais vasta devassidão de alma, a minha mais incongruente destilação de sentidos havidos do que, me devia ter protegido e não o fiz. deixei-me embarcar nesse teu navio de remos e lemos bravios, de sextante e bússola tuas de sentido único: o teu! Remaste só para um lado e, esse lado, não foi o meu!
Dei-te a minha vida. dei-te tudo de mim! Dei-te o meu corpo, dei-te o meu sorriso, dei-te...a minha alma! E o que me ficou...foi apenas o despojo seco e pútrido do que já não tinha salvação: fugir de ti, fugir de mim e...encontrar-me de novo em solo mais sagrado, mais farto e seguro que me amparasse na dor de estar só e de tão usada e manipulada ter sido por ti. Fui idiota! Fui a mais anacrónica e atípica alma de tudo o que se possa pensar, na sedução havida do meu corpo pelo teu e isso...só me faz condenar ainda mais, mas...ai, se eu pudesse voltar atrás Meu Deus...e Este me perdoe...mas faria exactamente o mesmo de perdição, de rendição...de submissão a ti. Ao teu cheiro, ao teu poder de entrares em mim...à tua fortaleza de um desejo imparável, de uma ansiedade inesgotável e, de toda uma prepotência orgástica que me enlouquecia a cada momento que me tocavas. E fui tua! E tu, meu! E esse...talvez, o maior erro da minha vida!!!

A Desilusão
Foste embora. Deixaste o meu corpo frio sem o teu. Deixaste-me na angústia indissolúvel de lágrimas, anseios, lamentos, solidão e quase loucura! Gritei por ti. Gritei aos sete ventos, aos sete mares que te levaram de mim, como se o vento, as minhas condoídas palavras te levasse para ti, em busca dos teus olhos, dos teus pensamentos e...Deus desejasse, do teu ainda incólume sentimento por mim. O mar traíra-me. Esse mesmo mar que eu tanto amava, e tu...tanto abarcavas em teu corpo e tua alma dedicadas a si, foste o meu ser trocado no mais infiel dos homens, que não por uma mulher mas por esse mar traiçoeiro.
Mandaste-me um email. Agora...são emails e não cartas. Como estamos avançados nesta época... em que choramos e desesperamos de igual forma como as nossas avós de antigamente, derramando sobre cartas lidas, as tantas lágrimas sobre estas escorridas em soltura de um sentimento aprisionado e, indelevelmente assistido em todas nós, seja qual for o momento, o século, o instante havido de tanto se sofrer assim.
Falavas-me de amor e eu acreditei. Que irias atracar nos Açores e irias beber um copo em minha memória ou recordação vã, daquelas nossas tão loucas noites havidas até então, Que irias até ao Bar do Peter no Faial e de lá, me irias consagrar a melhor das tuas intenções em me devolveres um compromisso, não com o teu mar...mas o meu, de lágrimas secas e desérticas em mar profundo, hermético de sofrimento mas...pretenso de esperança e, quem saberia...de futura bonança de me acalmares o desespero da saudade e me dizeres, novamente, que me amavas. Que já não vivias sem mim. Que me querias para sempre. Que me querias para tua mulher, princesa, rainha, senhora do teu corpo e do teu coração e com isso, pertenceres-me para sempre! A missiva era clara. Estavas a pedir-me em casamento a milhares de léguas marítimas de distância e eu...petrificada, estanque na certeza e na consciência de poderes estar louco também, aquiesci e mantive-me desperta, lendo e relendo esse email, de trás para a frente, frente para trás, intentando se haveria algum erro, se haveria algo que me pudesse revelar alguma contradição neste.
Devo ter exultado um gemido de leoa - ou algo que se parecesse - em enlevo e solta credulidade do que o futuro nos guardava. Acreditei. Eu tinha vencido a pior rival, a pior inimiga que te poderia levar de mim: a etapa de mar e guerra que em ti se faziam mastro e poema, bandeira e nação e só o resto ficava para mim. Mas agora, não! Tu ias ser meu! De novo, te teria em mim, rasgando-me o desejo, penetrando em tudo o que ambos sentíamos como nosso, fazendo um amor que mais ninguém fazia. Não havia mais escuridão nem sombras na minha vida, sentia eu. Ouvia os teus pedidos sobre mim, sobre o meu corpo, diletantes, ávidos, suspensos do meu querer e do meu intenso fervor por ti. Em espasmo, em sémen, suor, gritos, gemidos, ansiedades, veleidades de mim sobre ti e tu...sobre tudo o que eu queria e alcançava em desejo máximo de clímax e totalidade - que ambos sabíamos que nos pertenceríamos até ao fim dos dias.
Mas tal não aconteceu. Voltavas para mim. Voltavas para o meu amor. E eu, tal como mulher de navegante quinhentista te aguardava...em soluços, em oração e, em compenetração de tudo te dar, de tudo te devolver em maior e mais considerada condição de mulher-amante que te era. Não chegaste ao meu porto. Não ancoraste no meu cais perdido de ti, perdido de tudo. Naufragaste ao largo dos Açores em temporal assente que te haviam prevenido e tu, homem lesto, homem hercúleo de uma era contemporânea não ligaste, não acreditaste, negligenciando a força oposta de um mar revolto, de um mar furioso e indomável que te gritava teres-lhe sido adúltero...possivelmente, comigo. E...sob vagas gélidas de um oceano impiedoso, arcou-te para si, levando-te nos braços de Neptuno e eu...vazia e morta, te esperando, sempre...sentindo o sal do mar na minha cara, sentindo a espuma liquefeita em meu corpo como se teu sémen em mim fosse, dizendo-me este que vencera, dizendo-me que eu te perdera para sempre!
Onde está agora o teu corpo que, na sombra dessa estonteante e louca paixão nós fazíamos nossos navios, nossos barcos ancorados, nossas quilhas em arquejo de respiração ofegante, suplicante de tudo? Onde estás agora  meu amor que não te vejo, não te sinto...partindo de mim, partindo de tudo...? Como pudeste deixar-me aqui? Como pudeste partir sem mim? Como...? Que restará agora...? E que farei eu sem ti...?
Como eu te amei...Santo Deus! Dava parte da minha vida para te voltar a ter em mim. Seguir o teu olhar, seguir os teus passos e...entrar em ti, nesse corpo belo e majestoso que exibias ao te alongares sobre mim, sobre o me corpo tão desejoso do teu. Que deus maior foi esse que me levou de ti...ou tu de mim, já não o sei. Quem de mim terá compaixão, pelas noites frias de igual hipotermia àquela que sofreste ou, àqueles teus desesperados apelos no mar no que terás feito em gélida condição de forças te abandonarem, de te deixares submergir, de te deixares morrer para mim?...Como viverei sem esse teu lindo amor que me doaste em pérolas deixadas, que se perderam num outro mar, de um outro oceano que jamais voltarei a ver e, a ter em mim? Como me pudeste fazer isto...? Como...? E agora...na sombra teimosa e devassa desta nossa paixão, eu vou morrer também sem esse calor, sem esse abraço, sem esse beijo...sem esse tão lindo amor que ambos fazíamos em alada serventia de corpos nus, de corpos acoplados de tudo e nada soltarem de si!
E agora...? Estou só. E nua em mim. Estou no limbo infernal daquela horrenda sombra da paixão, essa mesma sombra que me não deixa tornar a ver-te, tornar a tocar-te, tornar a sentir-te!...E sofro! Ah, como sofro...se jamais alguém te substituirá. Jamais! Nem que essa sombra se desfaça e me ilumine de novo os dias e as noites advindas...eu jamais te esquecerei...meu tão lindo e eterno amor de minha alma sã. És meu! Serás sempre meu...até que o meu corpo e alma, Deus me leve para te ver a ti. E então, jubilem os céus, toquem o sinos que eu voltarei a ser tua e tu, meu...para sempre! E aí...nenhum outro mar te levará de mim, pois que te serei eterna em teus braços, em teu corpo sobreposto ao meu, na tua mão, sobreposta na minha...em eternidades havidas de um só sentimento, de um só amor! Amar-te-ei para sempre, meu amor! Para sempre...!!!

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