Translate

segunda-feira, 1 de setembro de 2014

A Cosmovisão Xamã


Xamã Peruano

Estabelecerão de facto os Xamãs, um equilíbrio racional entre os mundos e os planos do ser? O Xamanismo será «apenas» um vestígio da crença em comportamentos mágicos - e na prática de Feitiçaria - ou efectivamente na experiência do transe e do êxtase, no estudo dos Mundos Visionários e seu despertar noutros planos de consciência? E que perigosa viagem interior é esta, na qual reconhecendo a morte, se reordena num novo sistema cósmico - do caos que lhe surge das profundezas do seu espírito?

A Cosmovisão dos Xamãs
Os Xamãs fazem de intermediários entre o Mundo dos Vivos e o plano da imaginação mítica, entre a civilização e a Natureza, o Mundo dos Humanos e o dos Animais, a Humanidade e os Reinos dos Deuses e dos Demónios.
Procuram estabelecer um equilíbrio racional entre os mundos e os planos  do ser e, esforçam-se por manter, entre os membros da tribo, a harmonia social, política, psíquica e sobretudo, da saúde.
O Mundo conserva-se e renova-se no constante restabelecimento do equilíbrio.

Posição na Sociedade
Em muitos grupos étnicos, o Xamã ocupa uma posição marginal, temida e respeitada. De um modo geral, existem vários Xamãs em cada nação ou tribo, mas apenas um por aldeia. O facto de viverem normalmente em cabanas situadas nos limites das aldeias, atesta assim o seu estatuto especial.
Esta espécie de isolamento mostra que são diferentes e que pertencem a dois mundos: o Terreno, o Conhecido e o Sobrenatural  - (desconhecido). Aos olhos da sua tribo, situam-se à margem da ordem do que é normal.

Mensageiros da Cultura
Antes da formação das Comunidades Sedentárias, por volta de 10.000 a. C., o Xamanismo já era um fenómeno presente em todo o globo. Embora as cidades o tenham empurrado, manteve-se até ao presente, sobretudo nas zonas rurais.
Hoje em dia, muitos membros de etnias indígenas - por exemplo, da Ásia Central e do Sul e da Austrália - continuam a acreditar no Xamanismo.
Os Xamãs modernos, que encontramos nas cidades destas regiões na qualidade de membros perfeitamente integrados na sociedade, já só raramente desempenham as amplas funções de mediação entre este Mundo e o outro que outrora lhes pertenciam. No essencial, já só são curandeiros, conselheiros e adivinhos.
Como só ele conhecia os outros mundos, o Xamã foi o primeiro contador de histórias. Por gestos, na dança, na pantomima e no canto, comporta-se como o actor ancestral de acontecimentos míticos. É ele que fomenta toda a cultura espiritual desde a Idade da Pedra: o Xamã fala de Deuses e Demónios e, das suas perigosas viagens a outros mundos. Arte, Poesia, Canto, Dança, Teatro, relatos do Além e, com eles, os primórdios da Religião e da Filosofia, o Estudo do efeito das Plantas e, portanto, o surgimento de uma Ciência rudimentar - todas estas actividades confluíam na figura do Xamã do Paleolítico.

Actividade do Xamã
Durante uma crise existencial, o Xamã realiza uma perigosa viagem interior, na qual conhece a morte e aprende a ultrapassá-la, reordenando num novo sistema cósmico o caos que surge nas profundezas do seu espírito.
Exprime então esta ordem nos diversos campos em que actua. O Feiticeiro é ao mesmo tempo Curandeiro, Mestre-de-Cerimónias, Adivinho, Juiz, Artista, Poeta e Cantor! Nalgumas culturas situa-se no centro da sociedade e noutras desempenha um papel secundário, o que se reflecte no facto de frequentemente viver nos limites da aldeia.. A característica comum de todos os Xamãs da Terra, é a experiência do transe e do êxtase e, o estudo dos Mundos Visionários e seu despertar noutros planos de consciência.

Mestres do Êxtase
Ao exercer a sua actividade principal - a Feitiçaria - o Xamã cai num estado alterado da consciência, o êxtase ou o transe, durante o qual atravessa o limiar de uma outra realidade, onde é parte e participante de um mundo de forças e efeitos sobrenaturais, transformando-se e voando com os espíritos que o auxiliam.
O Xamã entra normalmente em transe mediante estímulos prolongados e monótonos dos sentidos. Trata-se, com frequência, de um estímulo auditivo criado pelo som da matraca e do tambor e ainda por cânticos monocórdicos. Muitas vezes, durante a realização das feitiçarias, um ajudante continua a tocar o tambor, uma vez que este é a «montada» do Xamã nas esferas sobrenaturais. Se deixar de se ouvir, a consciência do Xamã corre o risco de regressar de imediato ao seu estado normal de vigília.

Efeitos do Transe
Estudos científicos demonstraram que o som monótono e rítmico do tambor provoca alterações do sistema nervoso central, estimulando muitas regiões do cérebro que normalmente não manifestam qualquer tipo de actividade eléctrica. O som do tambor dos Xamãs, de baixa frequência, faz surgir as Ondas-Teta nos electroencefalogramas (método de medição das correntes eléctricas do cérebro), normalmente associadas a estados de inconsciência semelhantes ao sono. Juntando-lhe o movimento da matraca, atingem-se níveis de frequência mais elevados no cérebro. Seguindo o som rítmico do tambor, o Xamã Siberiano inicia normalmente uma curiosa dança muito sacudida, que faz com que os inúmeros sininhos e placas de metal que tem cosidos na capa, produzam os sons de alta frequência emitidos pela matraca.
Segundo as mais recentes investigações científicas, o segredo destas vivências muito especiais durante o transe, parece residir na simultaneidade das Ondas-Teta - de baixa frequência - e das Ondas-Gama, de muito alta frequência.
O estado de consciência do transe distingue-se por uma redução radical da Percepção, Maior Sugestionabilidade, Ilusões (interpretações erradas), Alucinações (percepções falsas) e Sensações Paranormais (percepções telepáticas, clarividentes e precognitivas).

Técnicas do Êxtase
Para facilitar o acesso ao transe, quase todas as Sociedades Xamânicas empregam substâncias psicoactivas, especialmente úteis em determinados rituais e sessões curativas, quando é necessário que os outros membros da tribo ou os pacientes (que não dispõem da perícia do Xamã) entrem também num estado alterado de consciência.
É evidente que as experiências do transe são diferentes e dependem do contexto, mas também de pressupostos físicos. As mais diversas etnias sabem que, a determinados Rituais Xamânicos, correspondem posturas corporais nas quais o transe é induzido, para se obter um resultado concreto.
Para provocar um transe de possessão, o Xamã dobra ligeiramente os joelhos, afunda a cabeça no pescoço e levanta as mãos à altura do peito, mas a posição deitada de barriga para cima parece ser a mais eficiente, no caso do Voo Xamânico.

Críticas
A crítica do Xamanismo é sobretudo cultural e religiosa e, como é lógico, existe em todas as culturas e religiões. O pensamento «iluminado» e racional do Ocidente, para o qual o Xamanismo é um vestígio da crença em comportamentos mágicos há muito ultrapassada, nega as capacidades curativas e visionárias do Xamã e, chega mesmo a considerar que as suas visões, estados de êxtase e experiências de Voo Xamânico, são manifestações de uma perturbação psicopatológica.
O pensamento racional faz este mesmo tipo de crítica a todas as actividades humanas que não rejeitam imediatamente, tudo o que é irracional e inexplicável, ou seja, todo o pensamento que não seja exclusivamente racional: sobretudo a Religião, a Magia e os Fenómenos Paranormais, mas também a Psicologia, a Psicoterapia, a Arte e a Intuição. Mas, o Xamanismo mostrou-se extremamente resistente e, apesar de todos os ataques, há milénios que é um importante instrumento de fomento cultural!

Origem do Xamanismo
As raízes do Xamanismo situam-se no Paleolítico, épocas em que as actividades do Xamã tinham uma relação estreita com a caça. Era ele o responsável pelos actos de Magia que atraíam as presas que alimentavam a sua tribo e, pelo apaziguamento dos deuses quando um animal era morto.
O Xamã guiava o seu espírito de regresso ao Além, onde a mãe de todos os animais - a Grande Deusa Ancestral - voltava a recebê-lo em si, para dar à luz um novo ser. Era preciso reconciliar os espíritos para que estes não se vingassem dos humanos, que os tinham matado para se alimentar!

Expansão do Xamanismo
A palavra «Xamã» provém da língua da tribo siberiana dos Tunguses, que por sua vez remonta ao conceito Védico «Sram» que significa: «encher-se a si próprio de calor».
As misteriosas capacidades do Xamã têm uma relação estreita com o auto-aquecimento, ou seja, o Êxtase! Além disso, segundo a antiga Tradição Xamânica, o calor interno é imprescindível para a realização dos actos mágicos.
O Xamanismo é um fenómeno universal. Já existiam Xamãs há milhares de anos na Gronelândia, na vastidão das pradarias Norte-Americanas, na densa Selva Amazónica, na Terra do Fogo, nas Savanas de África, nas Florestas do Centro da Europa, na Tundra da Sibéria, no «Tecto do Mundo» Tibetano e...nos Desertos Australianos!
As Doutrinas Xamânicas e o papel dos Xamãs, assemelham-se em todo o mundo de um modo surpreendente!
Os Xamãs Peruanos - semelhantes ao que figura no texto - têm por hábito preparar uma bebida à base de aguardente e várias ervas para melhor se deixarem entrar em transe e, no êxtase propriamente dito. Daí que, só nos resta acrescentar que, a bem desta cultura e crença popular, se mantenham efectivos os resultados desta transcendente epopeia espiritual ou de comum acordo entre mundos. E que, a bem da Humanidade, assim possa continua a ser entre os povos de boa vontade!

Sem comentários:

Enviar um comentário