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quarta-feira, 3 de setembro de 2014

A Montada do Xamã


Velha Xamã Mongol                                       Sibéria

Que conhecimento ancestral é este, que nos relata o ritual de vivificação dos povos da Sibéria, no que pela boca do Xamã, lhe é transmitido a sua vida anterior de árvore e animal? E que percurso é então este que faz dele a sua montada (Animal-Tambor) nas viagens aos outros mundos? Serão os seus animais - Corços, Veados, Renas - a via sagrada que os leva em voo e, montada, para o Além? Que segredos possuem estes Xamãs (homens e mulheres) da Sibéria que, ao longo dos séculos, se perpetuaram em rituais semelhantes?

A Montada do Xamã
Quando os Xamãs se deslocam nas suas viagens aos Mundos - Superior e Inferior - seguem montados num animal associado a eles.
Esta noção tradicional e muito antiga existe já nas pinturas rupestres da Idade da Pedra. Foi dela que, os povos da Antiguidade, tiraram a ideia de que os Magos voam para o Além montados em animais e varas de madeira.

O Tambor Mágico
Do lado de cá, o Tambor aparece como a Montada do Xamã, que cavalga sempre que quer para o Reino do Além - com a ajuda deste instrumento mágico.
Estas viagens são imprescindíveis para as curas, rituais e adivinhações, deveres do Xamã. Mas, antes de ser Montada Xamânica, o «Tambor» tem de adquirir vida.
O fabrico e a vivificação do Tambor são importantes episódios da vida do Xamã (homem ou mulher).

A Vivificação do Tambor
A estrutura do Tambor é feita do tronco de uma árvore (normalmente uma bétula ou um larício) que esteja num local consagrado. De um ponto de vista simbólico, é a Árvore dos Mundos no centro do Universo, cujos ramos se erguem para o Mundo Superior e, cujas raízes se afundam no Inferior.
Logo que o Tambor é feito pelos membros do seu clã, obedecendo a determinados rituais, o Xamã pega nele para lhe dar vida. No ritual de vivificação dos povos da Sibéria, o aro do Tambor e a pele contam, pela boca do Xamã, a sua vida anterior de árvore e animal. Deste modo, são novamente despertados para a vida. O Xamã permanece ligado para sempre ao veado, ao corço ou à rena cuja pele foi esticada no aro do Tambor - o que por outro lado pode ser perigoso, pois, se um Feiticeiro inimigo descobrir onde se encontra o Animal-Tambor vivificado, pode matá-lo e destruir o Xamã!
É por isso que este manda o animal ritualmente vivificado para a infindável taiga, onde nunca mais poderá ser encontrado.

O Cavalo e o Urso
O ritual de vivificação que torna o Animal-Tambor o mais importante aliado (espírito auxiliar) do Xamã, também faz dele a sua montada nas viagens aos outros mundos. Nos hinos dos rituais de ressuscitação é descrito como um Cavalo, mas às vezes também pode ser...um Urso.
Para muitas tribos, o Urso não era um animal como os outros, pois possuía um espírito humano. Entre os Índios norte-americanos, a figura do Urso é muito usada como Totem e, vigilante.
Os Xamãs da tribo siberiana dos Vogulos comem cogumelos venenosos para se transformarem num Urso!
Numa pintura rupestre da Sibéria, vê-se então um Xamã Samoiedo montado num Urso e, seguindo para a terra dos Mortos ao ritmo do seu tambor. Os ramos e os chifres indicam que foi transformado.

O Cântico de Ressuscitação
O Xamã dos Iacutos Siberianos entoa o Cântico de Ressuscitação do seu Tambor:
«Chegou agora o tempo de te transformar na minha Montada!» - Depois, descreve em pormenor os perigosos Mundos - Superior e Inferior - onde este corcel o levará, usando, entre outras, as seguintes palavras: «Tambor, semelhante a um mar redondo que acaba de se fazer gelo,
                Minhas palavras te transformam num corcel de heróis,
                E um cavalo veloz nascerá do meu Tambor!»
A seguir, o Xamã bate com o pau nas costas encurvadas do seu cavalo (o Tambor) e segue com o seu aliado animal para os Mundos do Além.

O Tambor de um Xamã dos Tibtibes - uma tribo da Ásia Central. As paredes são esticadas sobre uma estrutura de madeira com o punho em forma de seta e o tambor tocado com um bastão torcido.
As peles são muitas vezes pintadas com representações dos Mundos que o Xamã visita  nas suas viagens ou adornadas com imagens de oferendas - ou animais - simbolizando a Força, o Espírito e...a Montada!
As anciãs Xamãs - muitas provenientes da província de Khovsgol - têm por hábito pronunciar as suas fórmulas mágicas de esconjuro nas Cerimónias de Cura de crianças e adultos doentes - a um ritmo igualmente monótono do seu tambor.
Para todo o sempre nos ficará então, este vasto conhecimento ancestral se tal continuar a ser praticado por todas estas populações siberianas que, à semelhança de todos os outros, se repercutem na cura e no bem-estar dos que estão à sua volta ou de quem os procura nessa aflição vigente. A tudo se reportará o nosso beneplácito - e respeito - sobre as culturas destes povos e de todos os que, além os tempos, se consignam nos esforços de dar uma melhoria de vida física e, espiritual ao ser humano. A bem da Humanidade então, assim possa continuar a ser, reverencia-se. Só pelo Bem...!

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