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sexta-feira, 31 de outubro de 2014

A Noite das Bruxas


Ilustração sobre o Mito das Bruxas Voadoras

"Que os Sinos das cidades toquem frequentemente, o que purificará o ar!" - Dr. Francis Hering, de sua obra, «Regras, Instruções ou Avisos para o Tempo do Contágio Pestífero».

Terá algum fundo de verdade que, certos Sinos eram lançados ao rio por 7 Bruxas, tocando estes depois debaixo de água durante tempestades violentas? Que temeridade era esta por parte das Bruxas no que se relacionava com esses mesmos Sinos? Que tradição pagã está por detrás de tudo isto? E, poderemos nós recear de facto as Bruxas?

O Tanger dos Sinos
(As Feiticeiras receavam-nos; os Fantasmas fugiam...)
Houve um tempo em que se acreditou que os Sinos das Igrejas que chamavam os fiéis à oração tinham poderes sobrenaturais. Em muitos países católicos, durante a Idade Média, no momento em que era benzido e instalado na Igreja o novo Sino, eram-lhe apresentadas oferendas e, o acontecimento celebrado com banquetes suculentos.
Quando a Inglaterra foi assolada pela Peste (ou Morte) Negra, no século XIV, era crença generalizada de que o vibrar dos Sinos da Igreja ajudava a afastar a praga. Quase três séculos depois, o doutor Francis Hering, na sua obra «Regras, Instruções ou Avisos para o Tempo do Contágio Pestífero», aconselhava: "Que os Sinos das cidades toquem frequentemente, o que purificará o ar!»
Também se chegou a pensar que o dobrar dos Sinos a finados, durante um funeral, afastaria o fantasma do defunto. Quando os antigos Romanos celebravam a festa em honra dos mortos da família, no mês de Maio, tocavam campainhas de bronze e entoavam: "Espíritos dos meus antepassados, afastai-vos!"
No Pontifical Romano recomenda-se o toque dos Sinos para «expulsar os espectros enlouquecidos dos mortos».
Numerosas lendas mencionam Sinos que tocavam sem a intervenção do Homem. Alexandre Dumas, na sua obra «Quadros de Viagens no Sul de França», refere que, em 1407 - momentos antes do desmoronamento da antiga ponte sobre o rio Ródano - se ouviram ruídos misteriosos, entre os quais o tocar de um Sino!
Até aos meados do século XVIII acreditava-se em Breslau, na Polónia, que, se o Sino da Catedral tocasse por influência sobrenatural, um dos cónegos morreria inevitavelmente!

O Papel das Bruxas
As Bruxas que, segundo crença geral, temiam os Sinos das Igrejas, eram frequentemente acusadas de - durante a noite - os retirarem dos campanários.
Em Canewdon, no Essex, contava-se que se ouvia um Sino, segundo se cria lançado ao rio por sete (7) Bruxas, tocar debaixo de água durante tempestades violentas.
Ainda em 1852 fizeram-se soar - em vão - os Sinos de todos os templos de Malta a fim de amainar uma borrasca violenta, ou seja, uma intempérie assaz agressiva; e no mesmo século tocaram-se os Sinos na Paróquia de Dawlish, situada no Devon, na esperança de que o seu Espírito vencesse «o Espírito do Relâmpago», pondo assim fim à tempestade.

A Véspera do Dia de Todo os Santos/A Noite das Bruxas
(A Noite em que Fantasmas, Bruxas e Demónios andam à solta...)
À semelhança do que acontece com o Natal e na Páscoa, também os festejos da véspera do «Dia de Todos os Santos» têm origem numa celebração pagã - apesar de o seu nome derivar de uma festa de Liturgia Cristã!
Esta festa, introduzida no século VII para comemorar todos os santos e mártires que não eram celebrados em nenhum dia particular, realizava-se no dia 13 de Maio.
No século VIII, porém, o  « Dia de Todos os Santos», passou a ser celebrado a 1 de Novembro, o que aboliu uma festividade pagã festejada nessa data.
O dia 31 de Outubro, véspera de 1 de Novembro - a última noite do ano no antigo Calendário Celta - era celebrado como o final do Verão e da sua fertilidade.
Era um festival que os Celtas do Norte da Europa celebravam acendendo grandes fogueiras para auxiliarem o Sol durante o Inverno.
O Inverno, que evocava também a frialdade e a escuridão da sepultura, era a altura em que os Fantasmas deambulavam e, os Espíritos sobrenaturais, Bruxos e Feiticeiras realizavam as suas festas.
Só a partir do final do século XVIII e começo do XIX, a véspera do Dia de Todos os Santos se transformou, em alguns países, num dia de diversão para as crianças - celebrado com trajes de fantasia, lanternas e jogos.
Anteriormente era considerada como uma «noite de medo», durante a qual os homens sensatos - respeitando os Duendes e os Demónios errantes - se conservavam em casa.
Nos séculos XVII e XVIII, no entanto, os mascarados - pessoas com máscaras misteriosas e trajes de fantasia andavam habitualmente de casa em casa, cantando e dançando para afastar o mal; ou, em representação desses mesmos Fantasmas e Demónios da noite.

Partida ou Tratamento/ Travessura ou Doçura (na actualidade)
Este hábito sobrevive ainda em muitas partes do mundo como uma mascarada para crianças. Na América do Norte, estas andam de porta em porta, em traje de fantasia, num ritual conhecido como «Trick or Treat» (Partida ou Tratamento).
Levam habitualmente um saco ou uma fronha de almofada e ameaçam pregar uma partida aos donos da casa se não receberem um «tratamento» na forma de doces ou bolachas.
A lanterna da véspera de Todos os Santos, é feita de uma abóbora-menina ou nabo, a que é retirado o miolo, sendo assim uma reminiscência dos dias em que eram realizadas ofertas de alimentos aos espíritos dos mortos.

Do tempo dos Celtas à actualidade pontua-se uma grande distância efectivamente mas, que, se tem vindo a fazer representar cada vez mais nesta liturgia pagã. A nível particular e, em solo lusitano, só há pouco se deixou esventrar esta festividade infantil que se designa por «Halloween» e enche todas as superfícies comerciais de bruxas, vassouras, chapéus, caveiras, aranhas monstruosas e tudo o mais que compõe o imaginário infantil (e não só...) de toda uma população ávida de importar hábitos e costumes que não os seus. A título individual, não me recordo - mas houve quem o tivesse feito por mim - de me contar de que em solo português ( e por vias de uma acintosa ou quiçá acérrima prestação católico-romana no país) se comemorava o célebre «Pão por Deus», que era, como se visualiza hoje à distância do que lhe é próprio, assim uma espécie de esmola ao Santo, esmola ao Senhor, ou simplesmente uma gratificação (geralmente em tostões, vivificando a pobre moeda da época...que nem dava para chegar ao escudo e é melhor nem falar dos mil-réis de que a minha avó falava, por estes serem ainda do tempo dos reis, em vassalagem de Monarquia...) e, assim andarem descalças e andrajosas, as pobres crianças do meu país na pedinchice alheia de encherem uma rota cesta ou de pães ou de tostões...que por vezes, nem uns nem outros se lhes avizinhava. E quanto a máscaras, já lhes bastava a da fuligem do carvão que tinham de ir buscar de madrugada aos pais, com as calças esburacadas, um dedo ou outro do pé deitado a baixo (por vias de um cimeiro futebol que se jogava lá no bairro com uma bola feita de trapos) e estava o Dia das Bruxas composto!
A era actual que hoje se vive em consumo imediatista e vago, não ofusca a de um passado que se traduz nas muitas tradições populares e de cariz pagã. Mas também religiosa. O Dia de Todos os Santos serve para prestar homenagem aos que já partiram, aos que nos deixaram física e, lamentavelmente em saudade e dor, por muito que se afirme que apenas sofreram uma transição corpórea ou de uma outra dimensão. Seja como for, terá de se respeitar tal a quem é crente e disso beneficie, em acalmia de maior sofrimento. Às crianças, na véspera desse dia, apenas a alegria comum e muito sua de querem fazer desse dia, apenas mais um de suas vidas em festividade e bonomia. Quanto às Bruxas propriamente ditas, que vivam o seu dia em felicidade assumida - as que já saíram do armário e mesmo as que ainda se negam a entrever um melhor futuro fora deste - que seja um belo e feliz dia e, se possível, sem muitas maldades...pois sempre é preferível a «doçura» à travessura...acredito eu! E toda a Humanidade, creio. Pois sem mais assunto de momento: vivam esse dia, ou melhor, essa sua Noite das Bruxas em noctívaga certeza de, para o ano sempre voltarem...! Mas pelo bem, que também há Bruxas do Bem...acho eu. Pois que assim seja!

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