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quinta-feira, 30 de outubro de 2014

A Verdade das Estrelas II


Universo - Céu Estelar

"Tycho e eu fomos unidos por um destino inexorável!" - Johannes Kepler

Texto - 2
Deslindando a Verdade das Estrelas

O Génio Enganado
A Igreja encontrou um influente apoio dos seus pontos de vista no notável nobre dinamarquês Tycho Brahe, nascido em 1546, o qual, nunca aceitando a ideia de a Terra se mover em torno do Sol, destinou o seu trabalho especificamente a provar a correcção da Teoria Ptolemaica.
Apesar de laborar num erro, Tycho Brahe tornou-se o maior astrónomo observador depois de Aristarco. Com a idade de 30 anos, Tycho foi tornado proprietário da ilha de Hven, no Báltico, pelo rei da Dinamarca, que pôs à sua disposição o capital suficiente para permitir ao astrónomo construir uma casa e um observatório.
Da sua base solitária, e apenas usando um quadrante gigantesco, Tycho realizou durante 20 anos, o Estudo dos Céus e, elaborou um magnífico e complexo catálogo de estrelas, incluindo tabelas que forneciam a localização de milhares de «pontos fixos» calculados com extrema precisão de entre as posições mutáveis dos planetas em relação às estrelas.
Tycho não permitiu que interferências de qualquer ordem prejudicassem os seus estudos - particularmente dificuldades económicas. Para garantir o pagamento dos tributos, mandou construir uma prisão no interior do observatório, onde encarcerava os ilhéus em dívida.
Hven tornou-se um famoso centro científico, visitado por personagens ilustres, entre as quais James VI da Escócia, que mais tarde subiu ao trono de Inglaterra como Jaime I. Mas o clamor dos protestos dos ilhéus irados - constantemente ameaçados de prisão - acabou por levar o rei Dinamarquês a retirar o seu apoio a Brahe.

Um Destino Inexorável
Tycho estabeleceu residência em Praga, onde contratou como seu assistente o génio astrónomo Johannes Kepler, que anos mais tarde afirmaria: "Tycho e eu fomos unidos por um destino inexorável!"
Quando estudou os vários volumes de tabelas compiladas por Tycho, Kepler descobriu que o astrónomo da ilha dedicara uma atenção particular e, meticulosa, ao movimento de Marte. Kepler em breve compreendeu que as observações realizadas demoliam a noção (longamente acalentada), segundo a qual Marte se deslocava numa órbita circular.
Foi talvez providencial a morte de Tycho, em 1601, enquanto Kepler ainda trabalhava nos complexos cálculos que elaborara sobre Marte - cada um dos quais chegou a repetir 40 vezes, de forma a garantir uma precisão absoluta. Gastou 5 anos na tarefa até confirmar as suspeitas que já anteriormente alimentava: Marte, a Terra e todos os outros planetas conhecidos descreviam trajectórias elípticas e, a despeito das convicções inabaláveis de Tycho, deslocavam-se em torno do Sol.
Kepler, que Einstein descreveu como «um homem incomparável», pôde então, a partir dos estudos que realizara, enunciar as suas «Leis do Movimento Interplanetário», nas quais ainda hoje se baseiam os cálculos astronómicos.
Nos últimos anos da sua vida, Kepler foi colocado sob vigilância como suspeito herético, sendo mesmo alvo, na rua, de injúrias de transeuntes - que chegavam a cuspir-lhe. Mas quando morreu, no ano de 1630, a Ciência progredia, determinada e irrevogavelmente, apesar da acção repressiva por parte da Igreja.
Entre os admiradores de Kepler, contava-se um dos caracteres mais curiosos da História da Astronomia - Galileu, Galilei - o primeiro astrónomo de facto a usar um telescópio e, o último a ser perseguido, por proclamar que a Terra se movia em torno do Sol.
Galileu construiu o seu próprio telescópio quando ensinava Matemática na Universidade de Pádua. Soube servir-se convenientemente do instrumento, que lhe permitiu descobrir, nomeadamente, as crateras da Lua, alguns dos satélites de Júpiter, manchas solares e as estrelas da Via Láctea.

"Amaldiçoar, Abjurar e Odiar..."
Galileu em todas as observações que realizou, ficou sempre convencido de que Aristarco, Copérnico e Kepler estavam dentro da razão ao sugerirem que a Terra se movia em torno do Sol.
Em 1616, porém, a Igreja de Roma impôs a Galileu que deixasse de defender o que se tornara conhecido como «Sistema de Copérnico».
Galileu retractou-se publicamente, começando imediatamente a trabalhar num livro intitulado «Diálogos dos Dois Principais Sistemas do Mundo», no qual toda a questão era abertamente discutida e perspectivada, segundo os dois pontos de vista opostos. Antes de mandar publicar o livro, porém, o astrónomo tomou a precaução sensata de obter autorização de Roma.
Quando, porém, a obra surgiu, a Igreja acusou-o de heresia, apesar de os seus próprios censores a terem previamente aprovado. Durante o julgamento, foi-lhe ordenado que fizesse outra retractação pública. Ajoelhado, Galileu leu uma declaração afirmando estar pronto a «amaldiçoar, abjurar e odiar» a teoria segundo a qual a Terra, se movia em torno do Sol. A alternativa era, indubitavelmente, a decapitação.
Como precaução, Galileu foi enviado para a sua vivenda em Arcetri e, isolado do mundo. Foram-lhe canceladas as visitas, podendo apenas ver as pessoas que o serviam. Para cúmulo da tragédia que o atingiu, cegou completamente durante os últimos anos de vida.
Quando em 1642 Galileu morreu, o Papa proibiu a construção de um monumento sobre o seu túmulo. E, no entanto, no espaço de 50 anos, a teoria de que era a Terra o centro do Universo ruíra completa e, definitivamente!

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