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terça-feira, 23 de dezembro de 2014

A Noite da Salvação




Anjo Protector - Anjo Salvador

Poderás ter vindo para mim sob as asas de um Anjo ou, sobre a luminária de um Deus maior que me quis proteger e salvar - até de mim própria? Ouvir-me-às agora, em encanto e suplício por todas as noites em que não te tenho? Aconchegar-me-às no teu corpo de Anjo, na tua Alma divina sob a luz de outros Anjos...outros céus? Serás Anjo de Luz ou apenas um homem que se converteu ao Céu e me deixou órfã de mim mesma...? Reencontrar-nos-emos algum dia...ainda que sob um outro Céu ou, sob outros mundanos corpos mas de uma só Alma? Poderei acreditar nisso...? Poderei???

Véspera de Natal - 24 de Dezembro de 2013
Os ecos do Natal faziam-se ouvir. Por todo o lado. Tu não estavas. Tinhas partido em missão de «Médico sem Fronteiras» em projecto altruísta e de carácter voluntarioso para África. Depois disso, o Médio Oriente. Nunca soube o que seria pior: se o ataque impiedoso do Ébola em toda a linha, se a Frente da Jihad Islâmica na Síria. Mais tarde veio a resposta...cruel, desumana, egoísta e no pior de tudo, avassaladora, em me arrancar a Alma toda de uma só vez!
Foste herói. Foste tudo. Já eu...não fui nada, mas Deus ou outro ser superior do Universo deixou-me ficar com algo de teu: o teu filho. E eu sou-Lhe grata. Muito! Mas não me desperdiço em lamentos nem sequer em fragmentos de toda uma vida tão curta, tão precoce e tão estupidamente vazada por terra, naquilo que vivemos, naquilo que possuímos, naquilo que fizemos existir do nosso bem maior comum: o nosso amado e pequeno filho que nunca te conheceu, a não ser por fotografia. Ainda que não entenda...nem saiba o tão corajoso e bravo homem que tu eras.
Agora dorme (tu, Josh, lá no Céu com o meu menino aqui na Terra). Vai fazer um ano que partiste...um ano (ou uma eternidade?) em que te arrancaram de mim, aqueles vis e inumanos homens que pisam este planeta e se dizem outorgar e, ramificar em sangue, matando, sob os comandos de um Deus que não é o nosso, não pode ser o nosso! O nosso Deus - meu e teu - não mata! Não decepa cabeças como na Antiguidade ou...se limita a fazer da força armada do medo e do poderio bélico, o seu escudo maior em ataques mais funestos, hediondos - e loucos - ainda mais dos que os de Genghis Khan.
A noite estava fria. Como sempre. No Hemisfério-norte não há calor nem Pais-Natal de calções como no Brasil ou na Austrália. Também não há neve mas um frio gélido marítimo que nos corrói as entranhas e até mesmo as vísceras se as não protegermos bem. No meu caso, eu tinha de ser particularmente vigilante e, cuidadora, ou não tivesse eu uma barriga ostensiva de quase nove meses de gestação, faltando precisamente uma semana para este término tão feérico quanto horrendo, se tivermos em conta os pés e pernas inchados, um humor de cão ao tanger do dia e...uma azia tenebrosa como se tivéssemos ingerido uma garrafa de cachaça ou aguardente logo pela manhã. Enfim, coisas habituais numa grávida mal-disposta mais em solidão do que, em enjoo propriamente dito. E...saudades. Muitas! Do meu amor, do meu bem mais querido que por outras gentes, outros cuidados e desvelos clínicos e cirúrgicos (consoante os mais prementes casos) se colmatou; e pronto, fui deixada no terreno sem «combustível», carburante ou até oxigénio (como vemos nos filmes de acção, seja no Cosmos, seja nas profundezas do mar alto...) mas que, aqui, se repercutiu (e para sempre se repercutirá...ainda que mais levemente) em lágrimas, muitas lágrimas, muitos contactos via Skipe e via Internet...quando isso me era então permitido, ainda que aos «soluços» ou...recortados por indulgências ou ultimatos tanto dos satélites como da iminente guerrilha invasiva no local, onde o meu amor exibia a sua bela arte de salvar ou tentar salvar os mais desprotegidos. Não tinha mãos a medir, em que até mesmo os seus tempos mortos - em rara e lúdica amostragem da sua personalidade - ainda fazia uma espécie de reportagem escrita e, em vídeo, sobre as ocorrências no terreno dos rebeldes e dos pró Bashar al-Assad (sob a égide de balas e morteiros) para o Washington Post nos Estados Unidos de onde era oriundo de berço, bandeira e honra.
Mas voltando ao Natal do ano passado...um horror! Ainda que já tenha passado um ano, para mim foi...ontem mesmo! Dói de igual forma. Dói tanto que por vezes me dava ganas (já não dá!) de me mandar para a linha do comboio ou cortar os pulsos à boa maneira de diva mundial em tragédia pré-anunciada. Mas não. Tinha de viver. Sobreviver. Para mais, tinha de o fazer por ele: o meu querido e inocente filho de Josh, ou ele não perdoaria lá do Céu de onde veio em alma pura, alma reencarnada (ainda que por uns instantes e no corpo de outro...) salvar-me. De mim. E pensar que subestimava os americanos...na minha vã glória abusiva (e muito europeia) de me achar superior em História e conhecimentos ancestrais para quem vinha do outro lado do oceano com apenas uns escassos duzentos ou trezentos anos de História local - em que nem os Índios se safavam por tão fracos terem sido ao se terem deixado corromper e, aprisionar, em reservas ditas naturais. Mas essa era uma outra «eu», aquela que na altura tinha olhos verdes de esperança e um mundo para mudar. E que, por abençoado programa Erasmus, me vi consagrar no homem da minha vida!

A Noite de Todos os Anjos
Eu sei, a conversa é como as cerejas: nunca mais se acabam de comer, ou seja, é sempre infindável no chorrilho de lembranças e voragem dos acontecimentos. E neste caso, são muitas, as lembranças. E, as saudades...como já disse. Mas estou conformada ou então deixei de chatear Deus - o meu Deus - no que o amaldiçoei primeiramente por de mim me ter levado o meu amor maior. Mas deu-me outro...talvez ainda maior ou então igual. Mas lá chegarei.
A minha mãe fazia os melhores «sonhos» e «rabanadas» de que há memória. Para quem não sabe, estes, são os fritos tradicionais cá do burgo lusitano. São de comer e chorar por mais mas no fim das festividades estamos tão inchados e gordos como o autêntico Pai Natal - mesmo sem barbas. O meu pai, encalhado no sofá da sala como um velho cacilheiro que apenas guarda as memórias dos dias que passam, ia ouvindo as músicas de fundo do televisor recortadas pela menina do exterior que entretanto atropelava os transeuntes perguntando-lhes se este ano tinham gasto mais (ou menos) nas compras do que no ano anterior - devido à pungente crise que parece não acabar nunca. Até porque, o FMI e a dita Troika não deixava (nem deixa ainda...)...a bem de nós mesmos, não vivendo acima das nossas possibilidades. Quanto a mim, que me deixara seduzir por uns figos com nozes enquanto tentava dar o último tempero à robusta perna de Perú e ao bacalhau no forno da mãe, vi-me ser repentinamente estancada não por um grito ou sequência trágica de algo mas, antes, do silêncio sepulcral, em rosto paterno que dava medo ao susto. O pai, que se mantivera atento às notícias televisivas - que entretanto tinham emitido em rodapé de última hora (em letras gordas) um comunicado urgente de uns quantos soldados rebeldes na Síria que tinham atacado a «fortaleza» dos Médicos da AMI (em bastião da ONU), onde fizeram várias vítimas. Entre eles, contavam-se alguns americanos, ingleses, italianos e portugueses. O meu irmão mais velho estava lá. Era enfermeiro e, como tal, tentando encontrar novos horizontes pessoais de referência em ascensão humana, seguiria com Josh na mesma Companhia de auxílio e empenho clínicos sobre os refugiados - e mesmo soldados - que deles necessitassem.
A mãe percebeu logo tudo. A vítima imediata foi a travessa cheia de arroz doce  e o pudim de Pristos (outros doces tradicionais e, conventuais, da nossa praça portuguesa; sendo que este último até já viajou de avião para obsequiar o Papa Francisco para tamanha degustação divina...) que se estatelaram no chão de mosaicos fazendo um chinfrim que só visto! Depois...só o silêncio e os soluços magoados da mãe sobre o peito mirrado do pai.
O pai agarrou-se a ela. Ficaram abraçados segundos...que foram horas para mim. Não entendi logo. Não queria entender. De seguida, com uma frieza que até e mim própria me espantou, tentei ligar para a Embaixada Norte-Americana (EUA) para que me reportassem se sabiam os nomes dos infelizes que aí tinham sucumbido às forças de um Alá estranho, muito estranho, que matava em nome de Deus. Não sabiam. Ou não queriam. Nada a fazer. Esse silêncio - ou a omissão dos nomes - só me davam mais a certeza de todo o esclarecimento que eu não queria ver nem saber e, se me enterrava na alma como estilete assassino, remetido por mãos de fundamentalistas que a nada nem a ninguém escapava ou, a si se humildava - nem sequer quem por vias de fazer o bem, ali estava...naquele território de ninguém.
Fugi. De rompante. Só levei as chaves do automóvel (um pequeno utilitário que o pai me ofertou aquando soube da minha tão desejada gravidez). Fui impulsiva, precipitada e mesmo ingénua ao pensar que aquela dor imensa se cauterizava no meu peito. Quanto mais...cicatrizar. Ou estancar. Nada! Foi atroz. Nem me lembro que caminhos percorri. Nem que direcção tomei. Acelerei. Queria apenas fugir. Senti de imediato - sem que o conseguisse explicar racionalmente - de que perdera o Josh. O meu grande amor! Barriguda e chorosa - mais, muito mais do que a tal Madalena vendo o seu amor na cruz, supunha eu - e vi-me trasladar para um outro mundo. Terreno ainda, mas mais, muito mais também...vasto em coincidências e fenómenos estranhos, tão estranhos quanto o podem ser, o sentirmos que estamos a ser ajudados por Deus ou, por uma mão divina em Noite de Salvação. A Noite de Natal - a noite da Consoada - ou, para mim ali, a mais bela «Noite de Todos os Anjos», pois que me vi ser arremessada e abençoada por estes. Eu explico:
Entrei em trabalho de parto. As contracções eram tantas que parecia que todo o Inferno junto se me infiltrara, só para me ver gritar na intensa fornalha daquela dor imensa - sobrenatural (para mim, pois que era o meu primeiro filho em experiência e trato com a coisa, objectivamente falando) e, daí, nada saber, a não ser do que está nos livros para o efeito e, dos carinhos da mãe em evasiva perdição de cada vez que eu lhe perguntara se «aquilo» doía...aquilo do parto e das dores que sempre vemos nos filmes as desgraçadas a debater-se com tal. A mãe dizia que não, que era mesmo só filme. Acho que foi a primeira vez que apanhei a mãe em falta, mentindo-me descaradamente! E...para meu bem. Não vale de nada sofrer de véspera (como o tão flagelado Perú de Natal) dizia-me. A partir dali, senti-me muito mais solidária com os pobres perus e menos com a minha cândida mãe, que apenas me quisera refrear o medo do acontecimento como parturiente...)
Não sabia onde estava. Só mais tarde me disseram que me encontrava na orla da Serra de Sintra. Como fora ali parar era um mistério. Não me lembrava de nada! Só da dor!
A noite já caíra. E eu também. Depois de andar aos solavancos e, de o automóvel se não resignar mais a ver-se estrebuchar por aquelas clareiras (pois penso que enveredei por um atalho, saindo da estrada principal da Serra) e, parando este com um som esquisito e um cheiro a óleo e a deitar fumo, senti então que a coisa estava complicada. Para além das dores ininterruptas, agora tinha um carro...morto. Estava frita! Como os doces...da minha santa mãe! Foi então que desci à «Terra». Estava em pleno trabalho de parto, com as temperaturas de Inverno a descerem assustadoramente e, na ânsia de me ver encontrar alguma alma viva por ali, a correr por entre trilhos e mais trilhos - em espécie de labirinto fantasmagórico em que nem a névoa nem as brumas (por entre o crepúsculo) amainavam. Um horror!
As dores não paravam. Eu já gritava. Primeiro, por socorro. Depois...por ajuda. De seguida, por algo que me valesse...fosse o que fosse: gnomo da floresta, feiticeira vivente na Serra, deuses ou demónios mas que, ali, me auxiliassem no conforto, abrigo e, se não fosse pedir muito, que me ajudassem no tão doloroso parto em nascimento premente. E, iminente, a cada passo que eu dava. E nada de nada! Ninguém aparecia. Até que...por sombras e penumbras, endeusamento e florescimento humano, eu consegui distinguir uma forma. Humana. Um homem. Tive medo. Muito medo. Depois acalmei.
Não falava. Estranhei. Tentei que me dissesse o seu nome e nada. Apenas me olhava compadecido com a minha dor e a minha solidão. Sorriu-me. Era um jovem muito bonito. Mais novo do que eu, pois parecera-me de facto muito jovem. De uma assentada, soergueu-me como pena esvoaçante em seu colo de homem robusto. Parecia um folhetim publicitário, daqueles em que somos salvas pelo herói másculo e, musculado de tudo. Até de boa fé. Era nisso que acreditava, até porque não me sobrava nada mais a que me agarrar. A leveza era tanta, que senti ir nos braços de um Anjo. E fui...
Entrámos num casebre. Agora sim, eu sabia o que a Maria de Nazaré, da Galileia e de todos esses lados lá terá sentido em tamanha frugalidade de espaços e conforto exíguos. Mas, estranhamente...eu senti-me quente. Sim, também eram as águas que tinham rebentado (disso, a mãe falara-me) mas o quente não era disso mas antes...de algo que girava em meu torno e...daquela enigmática figura quase esotérica, quase celestial que me aparecera. Um Anjo! Só podia ser um Anjo...admiti. Ou então, um excluído da sociedade, um toxicodependente a quem tinham expulsado de casa e por ali se abrigara (mas depressa anuí esta última alusão ser um disparate, por tão garbosa presença sem que se denotasse algo de deficitário em si, tanto na dentição como na restante apresentação). Fosse quem fosse...seria para sempre o meu salvador. Não da Pátria, mas da minha condição. E isso...também se valoriza. Muito!
As suas mãos não me tocaram. Eu sei disso. Lembro-me disso. Antes emanaram uma luz, uma luz divina, fluorescente. Não magoava os olhos. Era como um ser vindo dessa luz em protecção e, prontidão! Até parecia que as dores tinha cessado, como espécie de Epidural telepática...senti. De repente, um fluxo de energia e força percorrendo-me todo o corpo, no que senti a iminência do meu filho querendo nascer. Um repuxão abdominal e, uterino, foi-me exaltado sem que eu tivesse feito algo para isso. Em instantes que nem sei se lembro, o meu filho nasceu.
O meu Anjo colocou-o em mim. Não recordo nem sei em que momentos ele terá cortado o cordão umbilical, pois quando os paramédicos do INEM chegaram (do Instituto Nacional de Emergência Médica, vulgo ambulâncias de urgência «112»), o meu filho estava completamente ligado por uma gaze terrena que eu não soube explicar qual a proveniência nem os restantes tratos em mim, após aquele tão estranho parto natalício. Senti-me uma inútil! Uma parva e...mesmo uma imbecil, por tanto descuido e emoção precipitada, levando a colocar em perigo aquele filho tão amado. Mas depois aquietei-me, até porque não valia de nada a auto-flagelação sobre o que já tinha passado.

A um dia de uma outra Véspera de Natal...
2014 trouxe-me muitas bênçãos. Uma delas, a principal, foi ver o meu filho desenvolver-se em vida e alegria de feliz nascituro e, depois, no seu subsequente crescimento natural - mesmo que só tenha alcançado um ano de vida a cumprir amanhã. Durante todo o ano, fui pesquisando, investigando e quase mortificando tanto os serviços sociais como os que poderiam ter albergado semelhante figura que tão prestativa formação teve em mim. Nada. Não descobri nada. Até há cerca de um mês.
O que me foi prontificado desde logo era que esta pessoa já não existia; já não estava entre nós! Era bombeiro voluntário e até há um ano e tal atrás tinha exercido as suas funções exemplarmente. Até ter sido colhido por um incêndio terrível no norte do país no penúltimo Verão. Era muito jovem: tinha apenas dezanove anos de idade...o meu Anjo! Tudo isto, depois de ter vasculhado, palmilhado e mesmo desorientado todo o pessoal dos Bombeiros Sapadores de Sintra - e arredores - em busca deste meu querido salvador...morto ou vivo! Infelizmente...foi a primeira. Não valeu de nada ter contado a minha efectiva (e terrena) experiência, pois não acreditaram em mim ou no que lhes contei deste meu Anjo ter sido declaradamente um meu protector que desceu do Céu só para me ajudar a dar à luz...!?
Não tem sido um ano nada fácil. Nada mesmo! O meu irmão morreu. Os meus pais ainda não tiraram o luto nem nunca mais o farão, pelo que interiormente sentem (e se culpam mutuamente) por não terem tido mais força para retirar aquelas ideias ao rapaz de, acompanhar o cunhado até terras de malucos que se fazem explodir semeando o terror e, o pânico, nas suas gentes e noutras gentes. A mágoa é muita. A mãe vestiu-se de negro da cabeça aos pés como se tivesse integrado agora nas forças muçulmanas em burka decisiva. Por mais que eu lhe tivesse referido essa similar comparação (convencendo-a a aliviar tamanha indumentária opaca e cruel) ela não o fez. Não vacilou em reportar-me de todo o seu sofrimento e, se o seu coração estava negro...ela assim andaria como já a sua mãe e avós um dia tinham feito pelos seus defuntos. Mesmo estando em pleno século XXI, havia ainda muitas regras que se não toldavam por outras bem mais leves...de corpo e alma, assenti. O pai esse, nunca mais foi o mesmo em prática e uso de vida quotidiana de convívio, fosse o do seu clube desportivo ou, daquelas reuniões de copo e prato cheio com os camaradas do tempo da Guerra Colonial - dos quais já muito poucos sobram, sendo ele, um dos seus mais bravos guerreiros em heroicidade e...longevidade. Mas agora, parece ter envelhecido anos! Na minha casa não há alegria.
Do meu amor, que sinto que me falou por momentos, aquando observei os olhos daquele infeliz bombeiro voluntário morto, sinto que a sua alma está com a minha. Veio em minha ajuda. Veio socorrer-me. Veio então...para mim. E...para o seu filho que ele veria nascer. Senti isso! Não o vi fisicamente mas senti, sim! Ele, o meu amor, o meu grande amor...estava ali comigo! E, estará sempre, acredito. Mas, para findar esta prosa tão ferozmente nostálgica e sofrida (a quem se sinta em similaridade com esta minha dor deste meu passado recente) tenho de deixar aqui uma palavra de esperança: Há sempre volta a dar! Há sempre solução para a tristeza, para a dor, para a perca e...para a certeza de que outros e melhores dias virão! Não acreditam? Comigo, aconteceu. Fosse por cansaço, por pena, por até maldição (um dia disse-mo) eu encontrei um novo amor, ou ele encontrou-me a mim; o meu fiel e muito querido bombeiro que tantas horas me assistiu em pranto, devoção e maleita de o estar a confinar á mera condição de «secretário» pessoal meu, roubando-lhe eu horas no serviço e no espaço de lazer, tentando então descobrir o meu Anjo perdido. Tantas horas foram que um dia ele me confessou já ser em parte esse mesmo «Anjo» de que eu lhe falava, mais que não fosse em paciência e muita perseverança de quando eu lhe gritava de que este meu Anjo era (ou me foi, bem real)!
O primeiro beijo fui eu que lho dei. Logo ali! Assim que descobri o meu salvador da Noite de Natal de 2013! Ficou tão aparvalhado que nem tempo teve para se refazer da minha afronta. Deixei-o especado mas depois, convidando-o para jantar (eu cá sou muito prática nestas coisas de não deixar para amanhã o que se pode fazer hoje sem mais delongas...) e pronto, cacei-o! É divorciado (são todos...ou quase todos, feliz ou infelizmente) e já está! Ele ganhou em enteado rechonchudo e loiro como o pai, o meu querido e jamais esquecido amor Josh, e eu ganhei uma enteada; por mais incrível que pareça, eu vou ser mãe de uma bebé de apenas três meses de idade - uma vez que o André tem a custódia da menina e, por consequência da mãe da bebé estar longe e a viver na Nova Zelândia. Menos mal, pensei. Do outro lado do mundo, não chateia, por muito que estas situações sejam sempre muito complexas e de trato nada fácil - um dia - para com as crianças, como se sabe.
Para já, vou ser feliz! Vou ser mesmo muito feliz, com o meu amor pequenino que se chama Josh como o pai (em sua homenagem) e, com a Maria Madalena. Já viram a coincidência? E o meu André também é José mas já achei demais chamá-lo assim; prefiro André!
Sabem que tentei voltar ao casebre onde dei à luz o meu filho e...nada? Nada mesmo! Nada de nada! Para além de que, também não me posso aventurar em voltar a cometer a parvoíce de me perder ou então vir a correr na demanda de algum caçador desportivo (ou furtivo) estar por ali, vindo atrás de mim, por eu lhe estar a invadir a propriedade - mas, no que me foi dado alcançar e conhecer - nada! Aquele casebre do tipo estábulo (mas sem a vaca ou o burro) não existe, pura e simplesmente! Nada mesmo! Será que fui acolhida por alguma zona intermédia estelar ou celestial, no que os Anjos me invocaram em auxílio e glória dos céus??? Não sei, mas estou-lhes grata, de facto. Muito grata! E isso vê-se na felicidade que hoje acolho... a quatro! Só os meus pais me preocupam (aqui, tenho de fazer uma ressalva: aqueles a quem chamo de pais são de facto meus avós paternos mas que, me amam e eu amo de paixão, como se fossem meus pai e mãe de verdade, pois foram-no, por ausência imperativa de meus pais terem ambos falecido era eu e o meu irmão muito pequenos; daí, os meus avós sendo ídolos para mim, são como pais, e assim ficarão até que algum deles nos deixe neste paraíso terreno). Lá virá o tempo em que esse mesmo tempo lhes acolherá essa sua maior dor também...ficando «apenas» uma boa e linda recordação do majestoso filho (ou neto verdadeiro) que ambos acolheram - no meu doce  e jamais esquecido, irmão. Penso que estão juntos, ele e o Josh, sem esquecer o meu querido Anjo-salvador! Acredito que sim, e que para sempre nos velarão o sono, as tristezas e as alegrias...venham estas de onde vierem...e já agora, um Santo e Feliz Natal daquela que nunca vos esquece...(como se dizia nas longas e dolorosas cartas para os familiares de quem estava na Guerra do Ultramar) e sejam felizes! E façam alguém feliz! Terão assim também muitas «Noites de Salvação» se, o vosso coração estiver aberto para uma outra luz entrar...acreditem, pois é mesmo verdade! Feliz Natal e Bom Ano para todos!

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