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terça-feira, 2 de dezembro de 2014

A Sincronicidade II


Cemitério - Local de Sepultura

Haverá de facto a correlação entre o «I Ching» e o conceito de Sincronicidade de Jung? E que testemunho pessoal ele nos revela, retratando na primeira pessoa o que então viveu em fenómeno sincronístico? Existirá uma outra dimensão - ainda indefinível no seu todo - mas que Jung outorgava tratar-se de um campo da realidade não psíquico nem físico, fora do tempo e do espaço? Estaria Carl Gustav Jung certo ao aproximar-se de certas teorias recentes - filosóficas e quânticas - sobre o fundamento originário e indescritível do ser?

A Série dos Peixes
O próprio Carl Gustav Jung (1875-1961) viveu numerosos fenómenos sincronísticos. Eis então um exemplo, contado pelo próprio Jung:
 - "A 1 de Abril de 1949, tomei nota pela manhã da inscrição de uma figura que era humana da cintura para cima e peixe para baixo. Ao almoço havia peixe.
Alguém mencionou o costume do «peixe de Abril» («dia das Mentiras» - nalguns países). À tarde, uma paciente que já não via há meses, mostrou-me umas imagens de peixes que tinha pintado. À noite, quiseram que visse um bordado com monstros marinhos e peixes.
Na manhã seguinte, vi uma antiga paciente, que voltava a consultar-me passados dez anos e que sonhara na noite anterior com um grande peixe."

O Fundamento do Ser
Com a sua Teoria da Sincronicidade, Jung tentou não só abarcar Fenómenos Paranormais como a Telepatia, a Clarividência e a Precognição, como também criar um quadro que permitisse explicar a Astrologia e, as Forças de Profecia conhecidas em todas as épocas e culturas.
Por exemplo, aplicou o conceito de Sincronicidade ao antigo Oráculo Chinês «I Ching», segundo o qual se lançam moedas com o objectivo de se obter uma resposta divinatória para um determinado problema. O resultado do lançamento das moedas corresponde a um dos 64 textos oraculares do I Ching. Jung observou assim que, as pessoas obtêm respostas significativas e úteis, quando consultam o I Ching em situações existencialmente importantes.
Estabelece-se assim através do acaso, uma relação significativa entre um estado psíquico (a situação crítica e importante em termos existenciais) e uma resposta ao próprio problema. Entre o estado psíquico e a resposta do Oráculo não existe qualquer relação casual, ou seja, trata-se então de um Fenómeno Sincronístico.
Às reflexões no que respeita ao Sincronismo, seguiram-se especulações filosóficas, nas quais Jung partiu do princípio de que, existe um Campo da Realidade que não é psíquico nem físico: é o fundamento originário e indescritível do ser - situado fora do tempo e do espaço.
Os Fenómenos Sincronísticos acontecem quando os mundos físico e psíquico se encontram neste campo.

O Escaravelho de Ouro
Uma paciente de Carl G. Jung não estava a progredir na terapia. Por fim, lembrou-se de um sonho com um Escaravelho de Ouro. Enquanto o contava, voou contra a janela uma Cetónia - o insecto da Europa Central mais parecido com o escaravelho.
Para Jung, este é um exemplo clássico de Sincronismo: a Organização Significativa de processos interiores e, exteriores.
O Escaravelho é o símbolo egípcio da Renovação e, liga-se no sonho, com a esperança de renovação através da terapia. Por outro lado, o insecto aparece no preciso momento em que o sonho está a ser descrito. Na verdade, a terapia voltou a apresentar progressos, depois do encontro sincronístico com a Cetónia. A paciente pôde então ser tratada com êxito, vivendo assim a sua renovação psíquica!

O Túmulo de Coppet
Nos seus tempos de estudante, o professor Hans Bender fez uma excursão ao lago de Genebra. Em Coppet, visitou o túmulo da escritora Madame de Staël, onde leu a inscrição: «Porque procurais o vivo entre os mortos?»
De repente, Bender teve um ataque de choro inexplicável. Trinta anos mais tarde, durante um congresso no Sul de França, recebeu um telefonema: a mãe estava a morrer. Pôs-se então a caminho de Friburgo. De noite, parou e telefonou para casa. Disseram-lhe que a mãe acabara de morrer.
Ao sair de onde estava, Bender percebeu que se encontrava à frente da entrada do cemitério de Coppet onde em rapaz fora acometido por uma tristeza até ao momento inexplicável. O facto de a morte da mãe ter projectado a sua sombra a uma distância de décadas - num acontecimento sincronístico que deu lugar a uma emoção inexplicável - reflecte a relação especial e estreita que Hans Bender tinha com a mãe.
Os Cemitérios são frequentemente cenários de histórias ao mesmo tempo tétricas e bonitas. Apela em geral à serenidade, ao silêncio e por vezes ao culto em orações veladas aos seus mortos ou entes queridos já falecidos. No caso de Bender este (cemitério de Coppet) revelar-se-ia fundamental - ainda que décadas após a sua primeira visita.

Ao longo dos séculos foi-se instituindo a ideia de que todos os fenómenos tinham explicação. Longe vão os tempos em que os factos inexplicáveis se assumiam como pura Magia ou simplesmente se conotavam como impressionáveis para o homem comum. A Ciência veio pôr cobro a tudo isso, ainda que muitas matérias sejam do foro esotérico ou mesmo da mais profunda psique do ser humano, o certo e que tudo se torna hoje muito mais lúcido e descodificado.
Fenómenos Paranormais, telepáticos, clarividentes ou precognitivos vão-se acumulando em maiores ou mais abrangentes relatos e ocorrências no ser humano sem se tornar mais especulativo a sua ascensão e, compreensão no indivíduo, pelo que hoje se sabe de todas estas vertentes. Quanto à Teoria da Sincronicidade de Jung, talvez esta possa - na actualidade - de ser ainda mais fundamentada ou quiçá engendrada, sob os auspícios de uma outra corrente que não filosófica mas...quântica. Estará a Teoria de Jung assim tão distante do que se conhece hoje de mundos tridimensionais na relação entre o ser, a Alma e todos esses mundos infinitos (ou finitos) entre o físico, o psíquico, o acaso, a coincidência e por fim...o encontro destes mundos, dos quais o ser humano se vê incluído? E qual a barreira entre o que poderá ser esta Filosofia - em junção ou direcção - como uma espécie de vector quântico no que Jung descreveu como a existência de um Campo da Realidade que, não sendo psíquico nem físico, será o fundamento originário e indescritível do ser e que, se situa fora do tempo e...do espaço? Que dimensão é então esta, a que Jung nos refere? Será assim tão diferente da que na actualidade se sugere o ser humano poder «entrar» na esfera de uma maior consciência e transporte além o tempo, além o espaço? Enigmático, sem dúvida. Por enquanto.
Nada mais acrescentando, aferindo que tudo se torne a cada dia mais uma realidade em campo aberto para um conhecimento que se deseja lato e universal e, a bem da Humanidade, recrudesça, desenvolva e clarifique, pois só assim o Homem evolui. Além os tempos...assim seja!

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