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terça-feira, 31 de março de 2015

A Sustentação da Vida


UCI (Unidade de Cuidados Intensivos/Sistemas de Suporte de Vida)

«Adiamos tudo até que a morte chegue,
  Adiamos tudo e o entendimento de tudo,
  Com um cansaço antecipado de tudo,
  Com uma saudade prognóstica e vazia (...)
  E toda a morte me doeu sempre pessoalmente,
  Sim, não só pelo mistério de ficar inexpressivo o orgânico,
  Mas de maneira directa, cá do coração»
                                                                                       Fernando Pessoa

Haverá a utopia no Homem de um dia poder conquistar a Imortalidade - através desta intensa terapêutica assistida de uma «sustentação» inaudita de vida? Estará o ser humano a ser governado por uma Medicina narcísica e, ao que parece, mais decidida a provar que nunca perde (como o reitera e afirma Stilwell) do que propriamente no sentido mais lato (e razoável) de se poder partir em paz? Quem decide por nós? Quem estabelece as regras de um viver ou de um morrer? Que prioridades haverá nessa opção ou nessa individual escolha a que todos somos sujeitos um dia...? Haverá menor dignidade pessoal (e interior) se rejeitarmos o que nos impõem - ou inversamente a isso - liderarmos essa ambição de uma sustentabilidade de vida em nós? Estar-se-à a extrapolar poderes (de novo) em submeter-se o paciente a algo irremediável - e inexorável - na luta contra a morte? Estaremos a defrontar um inimigo improvável e, imbatível, sobre o que a doença (ou a fatalidade de um acidente brutal) se reporta em desequilíbrio interior, no que tem (obrigatoriamente) de se compreender e, restabelecer nesse equilíbrio perdido - ainda que numa outra vida? Estará o Homem preparado para esse embate (ou impacte) frontal e absurdamente diletante que o transporta para outra dimensão, outra esfera cósmica, outra realidade em que o ser nunca o deixa de ser???

Sinais de Vida
(Como se controlam os Sinais Vitais do corpo...)
O pessoal da Unidade de Cuidados Intensivos de um hospital é auxiliado no seu trabalho por olhos sempre vigilantes - Sensores Electrónicos que controlam constantemente o ritmo do Coração, o nível de oxigénio e a temperatura do corpo de um paciente, alertando de imediato para o aparecimento de qualquer problema.
Esta Informação pode então ser registada num computador, constituindo a história completa da situação do paciente. Esta pode ser transmitida por uma linha telefónica, permitindo a um especialista - noutro hospital (possivelmente até noutra parte do Mundo) - diagnosticar o estado do paciente.

Sinais Eléctricos
O Corpo Humano está cheio de actividade eléctrica. As células nervosas (Neurónios) levam informação a todo o Cérebro e a todo o Corpo sob a forma de «Potenciais de Acção» - impulsos eléctricos de 100 mV que duram cerca de um milésimo de segundo e se deslocam ao longo das fibras nervosas a uma velocidade de 360 km/h.
De igual modo, quando um Músculo se contrai, cada uma das fibras que o compõem produz um potencial de acção. Em ambos os casos, os Potenciais de Acção produzem sinais eléctricos mensuráveis que podem ser detectáveis à superfície do corpo por circuitos electrónicos sensíveis chamados Amplificadores Biopotenciais.
A sua principal aplicação clínica é a Electrocardiografia, que lê os sinais eléctricos produzidos pelos Nervos e pelos Músculos do Coração e, os regista sob a forma de electrocardiograma (ECG).
O tipo mais simples de Monitor de ECG é o Cardioscópio, que é ligado ao paciente por meio de três eléctrodos e se utiliza para registar o ritmo e o funcionamento do Coração após um ataque cardíaco, um acidente ou uma doença grave - e durante uma Intervenção Cirúrgica.
O Electrocardiograma de Diagnóstico - mais sofisticado - utiliza uma dúzia ou mais de eléctrodos, colocados à volta do peito para traçar um «mapa» tridimensional da Actividade Eléctrica do Coração.
Uma técnica semelhante, chamada Electroencefalografia, mede e traça um mapa da Actividade Neuronal e, regista-a então sob a forma de electroencefalograma (EEG).

No Sangue
O Oxigénio é levado a todo o corpo pelo sangue. Nos Pulmões, o oxigénio atmosférico liga-se às moléculas de hemoglobina que se encontram no interior do glóbulos vermelhos (Eritrócitos).
Em seguida, o Coração bombeia este sangue oxigenado para os tecidos respirarem. Enquanto o ECG pode alertar um Médico para irregularidades no funcionamento do Coração, são necessárias outras técnicas para se avaliar se o Oxigénio que está a ser fornecido aos tecidos de todo o corpo é suficiente.
Uma dessas técnicas é a Oximetria, que tira partido do facto de, o Sangue Oxigenado ser muito vermelho, enquanto as Células que transportam menos oxigénio são de um vermelho menos vivo e mais acastanhado. A cor de pequenas amostras de Sangue retiradas de um paciente é então «lida» num Espectrómetro», que revela a proporção de células oxigenadas.
Podem fazer-se medições idênticas com cabos de Fibras Ópticas inseridos numa veia ou artéria - ou de modo não invasivo por Oximetria de Impulso - em que se faz penetrar a luz através de tecidos relativamente transparentes, como o dedo, nariz ou lobo da orelha, sendo os comprimentos de onda emergentes, detectados e convertidos em leituras de conteúdo de Oxigénio.

Sinais Vitais
Com cada «batida», o Coração passa por uma fase de bombagem, em que empurra o Sangue a Alta Pressão para todo o corpo (Sístole), e por uma fase de descanso, em que se volta a encher de Sangue e a pressão diminui (Diástole). Assim, ao medir a tensão arterial, um Médico pode determinar se o Coração está a fornecer Sangue aos tecidos do corpo de modo eficiente.
A Tensão Arterial é medida com um «Esfigmomanómetro». Um punho apertado à volta do braço é cheio de ar até uma pressão conhecida, bloqueando o fluxo de Sangue Arterial.
A Pressão do Punho é então lentamente reduzida. Quando desce abaixo da Pressão Sistólica, volta a haver um fluxo de sangue restrito na Artéria, o que provoca um vago som de «jorro», que pode ser detectado por um microfone colocado no membro.
Quando a Pressão no Punho desce abaixo da Pressão Diastólica, o fluxo torna-se completamente silencioso. A Tensão Arterial é expressa em dois valores, que representam a Pressão Sistólica sobre a Diastólica em milímetros de mercúrio (mmHg).


Monitorização do Sistema de Suporte de Vida

Cuidados Intensivos
Um Paciente sujeito ou submetido a Cuidados Intensivos pode estar ligado a uma gama de Sensores e de Sistemas de Suporte de Vida. Deste modo fornece-se Oxigénio ao paciente por meio de um Ventilador ligado a uma via aérea respiratória na garganta.
Os Ventiladores Modernos controlam a quantidade de Oxigénio e de Dióxido de Carbono no ar expirado, tocando o alarme se a respiração normal for interrompida.
Numerosos Sensores controlam os sinais vitais do paciente. O Cardioscópio, por exemplo, controla a Actividade Eléctrica do Coração detectando os minúsculos sinais eléctricos provenientes do peito.
Três (3) Eléctrodos ligam o paciente ao Cardioscópio. Dois (2) ficam no peito - acima do Coração - e o terceiro é uma ligação «de preferência» à perna. O sinal captado só tem alguns milivolts à superfície da pele, sendo amplificado antes de ser apresentado num ecrã de Osciloscópio. A linha produzida não só revela o ritmo a que o Coração bate, como pode também ajudar a diagnosticar perturbações desse mesmo Coração.
Num Coração Normal, o sangue entra nas cavidades chamadas de Aurículas. Estas contraem-se, obrigando então o Sangue a passar para os Ventrículos, maiores, que ficam por baixo.
Os Ventrículos contraem-se, bombeando o sangue para todo o corpo e em seguida descontraem-se. Cada parte deste ciclo produz então o seu próprio «pico» característico no Cardioscópio. Nalguns tipos de Doença do Coração, a distância entre o primeiro pico (correspondente à contracção das Aurículas) e o segundo (contracção dos Ventrículos) é consideravelmente maior do que o normal.
Esta Observação indica que, os Feixes de Nervos que coordenam a contracção das Aurículas e dos Ventrículos funcionam mal devido a Inflamação ou...Infecção!
Os Eléctrodos Descartáveis que captam os sinais provenientes do Coração são constituídos por um disco metálico que entra em contacto com a pele através de um Gel Electrólito Condutor. Uma parte de trás em plástico isola o disco de contactos exteriores.
Por questões de segurança, o Cardioscópio, que utiliza a electricidade da rede, é isolado do paciente - o que se consegue por meio de Interruptores Ópticos - que utilizam luz em vez de ligações eléctricas para transportar sinais do paciente para o Cardioscópio.

Vida /Morte
O ser humano não tem a a absoluta consciência refractada sobre a verdadeira dimensão e, perspectiva da sua morte. Tudo é negligenciado, esquecido ou memoravelmente guardado nos confins do que se não quer absorver - ou descodificar - neste longo processo de aceitação da Morte.
Coexistir com o horror da finitude e do que nos faz ser mortais sem pejo nem glória («o pó ao pó», como em certa liturgia fúnebre se ecoa), na degradação, decomposição e mesmo extinção do que nos sentiu ser gente, ser algo em corpo, mente e espírito, sentindo que tudo não passou de mera sujeição a uma vida que nem sabemos por vezes muito bem, se esta nos foi abençoada, privilegiada ou apenas recomendada por algo superior.
A Conceptualização da Morte está desvirtuada pelo conceito oposto do que se quer, deseja e almeja de uma vida longa e saudável. A Comunidade Médico-Científica tenta fazer o seu melhor, mesmo que algumas vezes também erre, por estar a protelar, a adiar, a prorrogar (ou a procrastinar como agora se efabula nos meandros mediáticos) sobre uma irrefutável certeza da morte em todos nós. Mas o contrário não se lhes reconhecia, como é lógico. Defende-se até à última gota de sangue, até à última onda cerebral registadas...até onde se pode ir, seja nos convénios protocolares médicos, seja nos humanos, em cuidados paliativos nas doenças terminais. E tudo isso, numa imposta e, suposta resiliência humana de objectivos muito claros: o prolongar-se ao máximo a vida humana!
Saber-se-à morrer com dignidade, distinção - ou prumo - e assim legitimamente aspirar à vida eterna? Sabê-lo-emos reivindicar em nós? Estaremos em paz? Enviar-se-à a nossa alma nessa espiritualidade ritualizada de terror, dor, angústia e mil sofrimentos, se não tivermos essa mesma capacidade de nos deixarmos ir, em confronto com todas as tecnologias monitorizadas sobre nós? Se a Morte é o fulcral ponto de ruptura - donde o espírito imortal se poderá libertar - ascendendo a um renascimento milagrosamente vivificado (e desmemoriado) no ser humano, não se deveria aludir a um maior (e melhor) conhecimento espiritual nessa travessia de Vida/Morte que todos iremos passar? Estaremos sóbrios perante essa vivência de pós-vida, ou apenas lúgubres, temerosos e por vezes até raivosos do que não conhecendo, já subestimamos, já repudiamos, já incorporámos como algo de muito tenebroso sem augúrios frutuosos de nos sublevar a alma...?
Poderão ser conceitos filosófico-espirituais aquém a realidade, aquém tudo o que se conhece, mas não será sem dúvida alguma, a contemporização do que nos vai na alma ao ascendermos àquela coisa nenhuma, nos braços de algo ou alguém que nos encaminha e nos fortalece os passos ectoplásmicos até ao Além, até ao Cosmos, até...ao que for!

A Eutanásia
Não defendo a Eutanásia. Mas também não a julgo ou condeno. Não sou Deus, não quero fazer, participar ou sequer julgar quem nestes terríveis circuitos da consciência se retrate. É muito difícil fazer ou determinar um julgamento são, sobre um prolongar de vida em dor, muita dor,  e padecimento atroz sobre doenças degenerativas, crónicas, oncológicas e outras. A dor, essa, é sempre igual: latejante, ininterrupta, persistente, voraz, acutilante, mórbida e fatal; até às últimas consequências. E estas, de uma quase loucura, quase demência rancorosa e malvada que nos faz gritar e não ser gente; não ser nada! Pedir que se cumpra «Eutanásia», é por vezes o mínimo que se pode consubstanciar de todo um sofrimento vigente e já insuportável; mesmo para os mais consistentes ou despiciendos com essa dor - ou crentes, numa auto-condenação ou flagelação de pecados maiores que nunca quiseram cumprir.
A Legislação Portuguesa não admite (ainda) a Eutanásia, porquanto alguns magistrados torneiam a questão, interpretando-a de forma a esta poder ser exequível (e razoável de se verificar) consoante o específico caso, sem que, contudo, se diligencie essa mesma vertente nos hospitais.
A Interpretação desta lei sobre a Eutanásia é algo dúbia e sujeita a várias interpretações, sem que com isso se chegue a mais fartas conclusões se esta proíbe taxativamente (ou não) esta consideração do foro clínico. No entanto, a deontologia médica proíbe-a incondicionalmente! Das múltiplas sub-classificações da Eutanásia, em que a ética, o favorecimento, a imposição ou o estabelecimento sobre a mesma diferem, releva-nos para muitas outras perguntas: Com que direito temos de o executar em outros?  Agir-se-à leviana (ou displicentemente) perante a lei que assim surja em beneplácito dos sofredores? Com que legitimidade pode ser praticada? Estando o ser humano em Coma Profundo, como se legitimará essa mesma prorrogativa? Teremos a plena consciência desse último acto em aprovação e, acção, mesmo sobre todo um inextinguível sofrimento? Poder-se-à legitimar algo que nem nós próprios sabemos se tal nos é dado como direito de uso-fruto em nós e nos outros? Haverá essa certeza? E mesmo em Morte Cerebral, poder-se-à referir a Eutanásia, ou simplesmente a efectivação final e, terminal, de todo um organismo já sem vida própria - ou sem réstia de nada, nem sequer a mínima dignidade de se poder morrer em paz?
Há a registar contudo que, o que hoje é inapelavelmente reprovável ou condenável sob esses mesmos desígnios ético-científicos, amanhã poderá ser o alicerce de uma consistente alienação mundial. Ou simplesmente, deixar-se morrer com alguém pegando na sua mão...na indubitável certeza que todo o ser humano tem necessidade e, conforto, de se ver partir sem ser em estado de sofrimento ou em mera solidão com essa dor, esse padecimento.
A Eutanásia ou em oposição a esta - a  Distanásia (que prolonga a vida do doente terminal por razões que lhe são alheias) - a Ortotanásia ( a morte no tempo certo, ou seja, terapêuticas adjacentes ao prolongamento artificial da vida) e a Benemortásia que acrescenta à morte natural, a necessidade de morrer sem sofrimento, no que, em todas elas, a questão se impõe: qual delas seguir, qual delas arrogar-se o direito de execução e cumprimento...? Estará a Comunidade Médica capaz de poder diferenciar, optimizar e aplicar tais normas consoante o seu paciente? Não se sabe.
E no fim de tudo isto, será um verdadeiro acto de amor a Eutanásia, de libertação, de solidariedade e de compaixão perante tanta dor, tanto sofrimento, ou apenas um acto de mera contrição clínica sobre hercúleos esforços do que a Medicina não conseguiu tratar, cuidar e..curar???
Humanizar é preciso, seja em que circunstância for! Recuperar o tempo perdido também! As mortes envoltas em grande sofrimento envergonham-nos. Sugestionam-nos também um fracasso, assim como o sucesso que ainda não alcançámos no apaziguamento dessa dor, dessa enorme lacuna que se chama: vácuo! E pior do que o erro ou a falha de tal ainda não se alcançar, é o vazio ou a inócua ou infértil esperança de o um dia lá chegarmos. Conseguiremos escutar o sofrimento espiritual de uma pessoa que sofre se não a compreendermos, se não a ouvirmos, se não aceitarmos que um dia pudemos ser nós a necessitar de tais cuidados e desvelos, físicos, mentais e espirituais? Não temos o direito de todos sermos tratados com respeito? Que humanização é então esta, que, como diria Rinpoche em 1995: Que significado tem a tecnologia capaz de levar o Homem à Lua, quando não sabemos como ajudar os outros a morrer com dignidade e esperança?»
Inelutável, digno e conducente a uma outra vida, digo eu, na mais verossímel ascensão humana, é o poder de todos nós de nos fazermos ser dignos sim, mas dessa passagem da vida para a «suposta» morte. Veremos todos o longo túnel que nos levará à luz, acredito. Observaremos com espanto e sublimação, leveza de corpo (que já não existe) e espírito livre, toda essa bonomia e alegria de novos ventos, novas filosofias de vida que a mente e o espírito nos concernem; ou afluirá, se tivermos em consideração e consciência dessa mesma imortalidade que nos faz continuar a ser boas ou más almas viventes. Seja em que espaço for. Seja em que dimensão for. Seja em que Mundo ou Universo for! Seja o que for, como e onde for, seremos sempre Almas Imensas de um igual e imenso espaço telúrico (ou não) em avanços evolutivos de todo um ou mais Universos. É nisso que acredito! Que pela Humanidade e por todas as civilizações extraplanetárias que as nossas Almas forem encontrando, que a Paz fique connosco! E o Amor também!

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