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segunda-feira, 6 de novembro de 2017

A Terra Prometida (V)

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Da telúrica magia de Ophiussa ao mais mítico e tangível lugar sagrado de Portugal - Sintra, ou monte da Lua - no incomensurável poder do oculto, poder dos deuses, que aqui deixaram a sua assinatura, a sua biográfica identidade vinda dos céus...

«O dos Castelos»:
«A Europa jaz, posta nos cotovelos: / De Oriente a Ocidente jaz, fitando, / E toldam-lhe românticos cabelos / Olhos gregos, lembrando. // O cotovelo esquerdo é recuado; / O direito é em ângulo disposto. / Aquele diz Itália onde é pousado; / Este diz Inglaterra onde, afastado, / A mão sustenta, em que se apoia o rosto. // Fita, com olhar esfíngico e fatal, / O Ocidente, futuro do passado. // O rosto com que fita é Portugal.»
                                                       - Mensagem, de Fernando Pessoa -

E tudo seria mais fácil ou mais ordeiro se, por oráculos míticos ou por desavenças dos deuses tudo se soubesse logo, tudo se desmistificasse num ápice sem que o estudássemos ou verificássemos em terras ladeadas por um Atlântico indomável e uma terra mágica que tudo abraça.

Sintra, é o elo mais forte e mais eficaz de toda essa circunstância simbólica mas há quem afirme factual, em argumentação histórica e científica, de tudo o que nela abarca.

Estará em Sintra o Santo Graal? Esconder-se-à nesta região lúdica e florestal de aquém e além mar toda a efusão sacramental de uma História contada e recontada da Antiguidade até à actual?
Poder-se-à arregimentar argumentos e factos históricos documentados através dos testemunhos deixados de, se estar perante a Mais Sagrada das Terras, em sagrado cofre geográfico...?

Poder-se-à sugerir que existe na vasta área da Serra de Sintra, «Monte Tagro» ou Monte da Lua, o ex-líbris da origem do Mundo....? Terão os deuses aqui pernoitado e até soluçado, perante o que tinham de deixar para trás, deixar para a vivificação do nosso mundo...?

Que Geografia Sagrada é esta então, que desde tempos antigos até à contemporaneidade de poetas, escritores e visitantes por Sintra, se aloca na mais adensada e frutuosa disputa de um dos lugares mais mágicos, mais sagrados - e quiçá mais estranhos - não só de Portugal como do resto do mundo?!

Não fosse Portugal ser apenas uma língua desse mundo, e dir-se-ia que foi aqui que Pessoa descobriu o cerne de tudo, encriptando a sua mensagem, a sua escrita, tal desenho geométrico enclausurado em código binário ainda não decifrado. Caber-nos-à a nós, por entre o sinal dos deuses e o que os antigos nos deixaram, poder revelar ao mundo um pouco desse enublado véu do conhecimento, o que se encerra por entre a serra e a várzea de Sintra numa meia-Lua que ainda se não acendeu...

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A nossa meia-Lua, ou seja, a meia-lua observada e captada pela ISS (estação espacial internacional) que nos delicia com tão maravilhosa imagem de um satélite (natural ou artificial) que ali foi colocado para nos dar tranquilidade e harmonia terrestres. E que mais haverá...?

Uma Terra de Mistérios...
Considerado o eixo do mundo desde a Pré-História - a Serra de Sintra ou «Mons Sacer» (monte santo), segundo os geógrafos antigos, ou o Éden glorioso descrito por Lord Byron como o lugar mais aprazível da Europa - este esotérico assento geográfico português é tido como o epicentro do mítico e do sagrado. Não se duvida disso, até porque, da Antiguidade até aos dias de hoje, sabem-se profundamente misteriosas as missivas dos deuses sobre esta terra.

Da Demanda do Santo Graal à Arca da Aliança, passando aos manuscritos de Cristo (esse mesmo Cristo que apareceu ao nosso primeiro rei português, Dom Afonso Henriques, planeando-lhe o futuro sobre solo lusitano a partir de 1139, solo esse que outrora foi de Oestrimnia), que se intui tudo ter ficado mais claro, mais lúcido sobre os destinos de uma terra que é Portugal.

Ao longo dos milénios, instauraram-se nesta terra os deuses, alguns deles, ou apenas homens com mais conhecimento, com mais poder; e sobre determinado local ou região a defender. Foi assim com Viriato, Viriathos ou Ouriathos, que se sublevou e se diferenciou sobre o vasto território de Hispânia; mais concretamente sobre a Lusitânia.

A luta sempre feroz não o fez desistir: Os Romanos imparáveis também na voracidade dessa conquista da Meseta Hispânica e, contra os Celtiberos, não lhe dariam tréguas; ainda que depois tivesse havido um período de certa pacificação entre os Romanos e esses indígenas «integrados», estabelecidos nas planícies férteis dos guerrilheiros montanheses.

Dos primeiros encontros em 194 a. C. ao final de todas as batalhas, o combate foi sanguinário. Mais de 9 mil feitos prisioneiros e só Viriato escapou - divina ou celestialmente e, sob a égide de outros deuses, que não os dos Romanos. De 147 a. C. - 139 a. C. as lutas sucedem-se.

Mas a traição ronda e Viriato, mesmo como ser superior que se sente, não o consegue evitar. O desgaste da guerra ou, a eficiente sedimentação do domínio romano fazem o resto. A unidade lusitana enfraquece, dando azo ao início do fim; e Viriato sabe-o mas não o reprime; tal como Jesus na cruz...

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Estátua de Viriato (em Viseu, norte de Portugal): o mais bravo guerreiro e chefe militar em terras lusas na demanda de Hispânia (séc. I a. C.). Um nome que define «bracelete», na utilização de um colar de chefia - «viria» - que lhe dá poderes e comandos; que lhe dá a supremacia de herói e sobre-humanas contemplações. Seria Viriato um dos deuses que, enviado à Terra, estaria a guardar a legitimidade não só de um território local mas, a de algo mais que só ele saberia o quê....?

Viriato: um deus na Terra ou, «apenas», um líder...?
De Viriato às armas sagradas do Primeiro Rei de Portugal (inicialmente do condado portucalense), a História é plenamente ávida mas coesa de acontecimentos; todavia, puída de inventos ou outros intentos que, só os explicando, se chega à mestria desse outro entendimento. E, falando de Viriato, «Viriathos ou Ouriathos» (palavra de origem ibérica ou celtibérica - viriola - e que designa «bracelete»), muito há que se lhe diga...

Ou seja, um bravo chefe-guerreiro lusitano que remonta ao século I a. C. e que inicial e primorosamente foi apelidado de: «amicus populi Romani» pelos Romanos, e depois o inverso disso, tendo sido atraiçoado pelos seus (três homens que se deixaram aliciar e subornar pelos Romanos).

Cedo Viriato soube e sentiu o sabor da ganância ou simplesmente do cansaço sem retorno, na irreversibilidade de uma lealdade perdida; assim como todo um território confinado depois ao Império Romano.

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Imagem de colares de chefia: Torque ou Viria (Museu Britânico). Existem peças arqueológicas referidas como verdadeiros tesouros: estes são uns deles, efectivamente; tidos como as «jóias da coroa»; neste caso, britânicas. Mas mais há: as da Idade do Ferro (em Portugal) que quase não há imagens. Por outras (da Idade do Bronze) que se encontram, em Londres.

Um nome de deus, um colar.... dos deuses???
O mais curioso: Viriato foi uma figura peculiar, tendo o uso de um «viria» (colar de chefia ou torque), que lhe dava poderes de comando - como um rei, como um deus. Pena que nesta última demanda de traição e morte, este colar de super-poderes lhe não tenha servido de muito mas, há quem o diga, este lhe ter arremessado outros ainda, de deslocação e aferição territoriais (teletransporte?) e mais haverá.

A Estremadura de longa distância, das planícies às montanhas e vice-versa, distendendo-se do Ocidente Atlântico até quase aos Pirinéus, o território por onde Viriato andava era grande. Ninguém sabia explicar como se movia e por onde se movia, sendo um deles ou talvez não..

Mas a História compõe: Viriato morto, território deposto. Do oppidum indígena (do estabelecimento sistemático de fortificações em Olisipo) ou em Moron - perto de Santarém - os povos lusitanos são submetidos pelos Romanos, no que mais tarde Augusto, o imperador romano pacifica, sem que hajam murmúrios ou vestígios daquele ser revoltoso e defensor daquela estranha e inóspita terra de montanhas e gelo (onde Viriato se refugiava, referenciada hoje como a Serra da Estrela).

Terra esta, imposta sobre um último reduto de uma realeza da Idade do Ferro, admitem os Romanos, triunfantes. E pela destituição de Viriato houve quem dissesse que mais do que traição foi roubo, pelo colar, por «viria», que lhe dava poderes e mais não havia. E desta, em sumiço e poder quebradiço de magia, tudo se foi, sem que os deuses lhe tenham bafejado a sorte e a desdita de se ter feito vencedor e não vencido...

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O Famoso Colar de Sintra que foi parar ao Museu Britânico (mais uma vez, o devassar do espólio português!) em arcas sagradas não só de um conhecimento lato como, do devassar do valor arqueológico encontrado em Portugal e que se esvai por interesses que ninguém entende...

Tesouros do Monte da Lua
Descoberto em 1895, no Casal de Santo Amaro, este belo colar ou «Torque» de Sintra, ainda que sacado das terras portuguesas e agora exibido em terras de Sua Majestade, enunciou à época uma extraordinária descoberta de um valiosíssimo colar em ouro (1262 gramas de ouro), no que Leite de Vasconcelos (na sua publicação de 1902, no «Arqueólogo Português») considerou «uma verdadeira catástrofe nacional» a venda para o Museu Britânico de tão poderoso artefacto. Como sempre, estamos no pódium da libertinagem arqueológica!

Os Mistérios de Sintra são sempre imensos, profanos e malditos. Muitos arqueólogos portugueses acabam por se deixar quebrantar única e exclusivamente sobre lamentações e poucas ou nenhumas alterações no sentido de, se acabar de vez com todas estas ilegitimidades que, por Sintra (e não só!) se passam. E assim se vai cantando e rindo ou lamentando e penando sobre os testemunhos ou artefactos históricos que se perdem para outros; ou para aqueles que reconhecem o seu real valor.

Sempre muito comentadas as notícias que dão azo a outras - quase sempre indesmentíveis - do roubo ou do «simples» desaparecimento de jóias da coroa (Coroa Portuguesa), aquando exposições no estrangeiro ou salamaleques de outros maiores interesses financeiros, nem sempre correctos ou impolutos de culpas, no saque ou na expropriação dos valores arqueológicos de Portugal, como é o caso do tão falado Colar de Sintra, «torque pré-histórico» de valor incalculável.

Mas as históricas são muitas e, segundos alguns conceituados historiadores e arqueólogos assumidamente respeitosos da nossa praça portuguesa, não ficarão por aqui as demandas, as aventuras ou mesmo as incongruências em solo nacional na busca e vasculho dos vários e escondidos tesouros, não só na Serra de Sintra como, nos seus palácios em total desbragamento e desventura - insólita e por vezes imatura - de certos elementos que se dizem idóneos e o não são, na incessante procura e encontros dos tantos Mistérios de Sintra...

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Serra de Sintra: um dos lugares mais mágicos de Portugal. Na imagem, o Palácio da Pena; em redor, a mítica e sagrada alquimia de todos os segredos ou todos os mistérios em envolvência e bem querença de toda uma nação que antes de o ser, já foi terra de reis e deuses...

Os Mistérios da Serra de Sintra...
Os Geógrafos da Antiguidade assinalam (praticamente todos eles), a Serra de Sintra como um lugar particularmente qualificado do ponto de vista histórico, mítico e sagrado. Tudo bem. Já nada disto é novidade. Mas novidade será, acrescentada de uma ou mais notícias mediatizadas, se, a conotarmos como uma Terra-Mãe de lacrados segredos, oriundos de outras terras, outras pertenças, que aqui se vieram prostrar por vias normais ou nem tanto assim...

Desde o Neolítico que assim é. Por tudo o que os geógrafos antigos nos reportam através dos seus documentados escritos através dos tempos que, referindo-se à Serra de Sintra como um «monte santo» (Mons Sacer), e que, no caso de Varrão e Columela que a reconhecem como a partir de uma Finisterra Atlântica, se vê situada no extremo ocidental da Europa: o cabo Ofiussa de Avieno, o cabo Magnum ou Olisiponense para Plínio-o-Velho. Para Ptolomeu é o Monte da Lua.

A confirmar a longuíssima duração da sacralização deste mui especial lugar, encontra-se uma quantidade impressionante de monumentos pré-históricos. E isto, num contexto identificativo da abundância deste espaço e deste «pólo» ou «eixo do mundo» em que está inserido este lugar.

Por razões culturais ou mesmo rituais ao longo dos séculos, observa-se neste território português diversos monumentos e santuários megalíticos: Tholos-hipogeu, castros, tholois e mesmo elevações sagradas rematadas pelo cabo Espichel ou promontório Barbárico (segundo Estrabão e Ptolomeu).

Os Monumentos Megalíticos registados nesta identidade cultural pré-histórica, situa-se numa dimensão territorial que vai desde os Montes Claros (Lisboa) até à Serra da Arrábida (Setúbal), os quais se vislumbram num término de extraordinária visualização sobre os hipogeus de Palmela e os castros desta região; e mesmo sobre Setúbal. Povoados, monumentos funerários ou templos, grutas, etc., num manancial de vestígio pré-histórico exuberante!

A especificidade deste território relata-se também sobre testemunhos efectivos de uma cultura material que, entre 3000 a. C. e 2500 a. C. floresceu, dando consistência a uma finisterra, complementando também os territórios megalíticos do interior do país (o Alto Alentejo), ajudando a formar a Ophiussa dos antigos - o Extremo Ocidente situada no extremo curso do Sol.

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Sintra: a serra sagrada de Portugal, no telúrico Castelo dos Mouros. E tudo, na excelência da paisagem e da geografia sagrada que se determina entre o Mediterrâneo e as costas do Norte Europeu. Do Neolítico ao Calcolítico a idêntica razão, amostragem e essência geográficas que a determina no coração do mundo e, na esfera galáctica da Via Láctea, como a mais poderosa fonte de energia e vibração sobre algo que ainda desconhecemos...

O Culto Lunar da Grande Deusa
Seja na Irlanda, no País de Gales ou mesmo na Galiza, região pertencente a Espanha como é sabido, a realidade é sempre igual. As lúnulas que aparecem na Irlanda, o ouro com que foram feitas (parte dele de origem portuguesa) dão conta de eventuais contactos de sequências ao nível religioso e até comercial. Até aqui, tudo bem. Posteriormente registou-se o que Varrão documenta como: Amuletos ou elementos combinados com outros objectos rituais encontrados em deposições funerárias (?), como sejam a pinha, a enxó votiva, os roedores (lebres, coelhos) e os ídolos-falanges.

Todas estas referências alocam-se sob o Culto da Lua, mas especialmente o culto da Deusa-Mãe. Ou seja, a Serra de Sintra seria assim um acidente na paisagem que eventualmente simbolizava o ventre materno, a própria terra na sua relação calendárica com a Lua.

Indubitável o seu registo na Geografia Sagrada da península de Lisboa, sendo quase certa a realização de observações siderais em função dos ciclos lunares por parte dos Neolíticos e dos Calcolíticos que aqui habitavam.

Leite de Vasconcelos, quase sempre lacónico e pouco dado a conclusões precipitadas, não hesita em afirmar quanto à origem do nome da serra «da Lua» e de eventuais cultos astroláticos da Antiguidade que ali se levassem a cabo, rematando que: «Não há razão para atribuir aos Romanos a origem da santificação do lugar. Esta deve ser mais antiga; os Romanos apenas (...) continuaram um uso que vigorava antes deles chegarem».

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A noite sobre a Serra de Sintra na actualidade. O que olhos humanos hoje observam da moderna sociedade em espaço e tempo, ambos alumiados por outras energias que não as da alma e, por onde certamente os deuses andaram, sob a escuridão dos seus passos e da contingência do que não podiam expor aos demais...

A terra das maçãs e dos Gigantes...
Segundo o geógrafo Al-Bacr que deu conta e lustro à riqueza do lugar e da sua amenidade, aferiu que Sintra, sendo uma das vilas que dependiam de Lisboa no Andaluz, nas proximidades do mar, se revestia de uma beleza e abundância inauditas. Diz ele então:

«Sintra, está permanentemente mergulhada numa bruma que se não dissipa. O seu clima é são e os habitantes vivem longo tempo (a longevidade dos deuses?). Tem dois castelos que são de extrema solidez. A vila está a cerca de uma milha do mar e serve para a rega das hortas (...). A Região de Sintra é uma das regiões onde as maçãs são mais abundantes. Esses frutos atingem uma tal espessura que alguns chegam a ter quatro palmos de circunferência. Acontece o mesmo com as pêras. Na Serra de Sintra crescem violetas selvagens. Da costa vizinha, extrai-se âmbar excelente.»

Mas seria Sintra a terra dos Gigantes, tal como gigantes eram as suas maçãs? Certamente que sim. E as lendas são muitas. E as histórias também; de Coimbra ou Tomar e por aí fora, chegando a Sintra, chegando ao Éden glorioso de outros já mais na era contemporânea. Mas falemos de gigantes, dos que hipoteticamente povoaram as terras de Sintra.

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O Castelo dos Mouros, em Sintra (com uma bandeira fictícia mas de apontamento lúdico), sobre as efemérides que na actualidade se fazem e, contam, após a derrocada dos lendários gigantes - ou dos mouros de outrora -, imperando a força e a cultura árabes, na contextualização histórica do que já se não lembra ou do que já se esqueceu de gigantes que atormentavam outras gentes...

O Gigante Morbanfo
Proveniente do folclore local ou do imaginário popular, existem relatos de episódios transpostos para a escrita envolvendo sítios ou personagens de materialização romanesca, sendo ou não produto do tal imaginário, em conto e em lenda, do que se passou ou aconteceu no mítico Castelo de «Colir» (Colares), o de «Cintra», guardado por um gigante - o temível Morbanfo!

Clarimundo - pai da nação portuguesa (conta-se) - deu cabo do canastro deste monstro; ou seja, matou tão vil e sacrificador ser que se fazia passear, amedrontando as suas gentes, ali para os lados de Sintra. Na sua crónica do «Emperador Clarimundo» (outro ser muito especial, por certo), João de Barros narra assim, em 1521, sob uma quase profetizada expressão de cerimonial druídica:

«Derrotou com armas tomadas a uns mercadores «que ali aportarão, as quaes (as quais) mandava a Giganta Madorca, irmã de Calama a seu sobrinho Pantafasul». O cavaleiro Clarimundo subiu depois ao alto da torre do castelo de Colir (Colares). Aqui, o seu companheiro e guia, o sábio Fanimor, quando «a Lua estava na força da sua claridade» (lua cheia?) profetizou em épicas oitavas  o «futuro» de Portugal.»

«Entre o cantar dos Rouxinoes» (rouxinóis) vestido de «humas (umas) roupas de linho largas à maneira d`alva que debaixo trazia, e apertada huma (uma) touca na cabeça», «arrebatado de hum (um) espírito divino, que o accendeo (acendeu) em tanto furor, que às vezes parecia hum (um) Gigante, «(...) ora olhava contra o Oriente, ora o Occidente (Ocidente), fazendo pera todalas (para todas) as partes o sinal da Cruz.»

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Do Neolítico ao Calcolítico; da presença dos deuses à do Homem na actualidade, imbuída e precursora  de outras amenidades. De Gil Vicente a Lord Byron ou, a tantos outros que não o sabendo, suspeitam algo mais haver por detrás do manto da serra e, do céu em pranto, que nos confidencia serem outros os enganos na demanda que outrora foi rainha de outros mandos...

O que os letrados dizem de Sintra...
««Um jardim do paraíso terreal / Que Salomão mandou aqui / a um rei de Portugal» - Esta, a alegoria de Gil Vicente, em 1539 (exactamente 400 anos após a fundação do reino de Portugal!), no que no seu Auto do Inferno, ele reportou em código acentuado mas não utópico de, ter havido um rei português consagrado por Salomão, e sob uma terra sagrada, que equiparou ou mesmo reverberou ao «paraíso terreal». Que terá sabido Gil Vicente deste deste «locus amoenus» de Sintra...?

E os poetas, e os escritores, solidificam-no como monopólio de um tempo que já foi espaço e já foi reino e até pedaço e nada mais se pode dizer. Ou poderá, se formos mais além...

Luísa Sigeia, cantará em 1546: «Junto às ribeiras do Ocidente, onde o Sol, ao aproximar-se à noite, já demanda o Oceano, e levado no seu carro ebúrneo, quase toca o imenso mar, com os seus cavalos cansados pela longa carreira, fica um lugar onde um vale ameno, por entre rochedos que se elevam até aos céus, se recurva em graciosos outeiros por entre os quais se sente o murmurar das águas.»

O poeta Almeida Garrett também cantaria Sintra deste modo: «Oh grutas frias /Oh gemedouras fontes, oh suspiros / De namoradas selvas, brandas veigas, / Verdes outeiros Gigantescas serras», juntando-se a Lord Byron na efusiva descrição de Sintra como:  «Éden glorioso» ou «o lugar mais aprazível da Europa».

Mas outros houve que males apregoassem Sintra sobre a égide da bandeira nacional ou pátria portuguesa, insidiosamente negligente ou simplesmente não merecedora de tamanha beleza:
« Cintra is too good a place for the Portuguese; it is only fit for us Goths, for German or English» (Sintra é um lugar bom demais para os Portugueses; só cabendo a nós - ou sendo apta para nós, Gotos - para os Alemães ou Ingleses).

Evidentemente que, mesmo não traduzindo à letra ou na perfeição o que reitera Southey - o azedo emissário desta britânica missiva - pode-se inferir que não gostaria lá muito dos portugueses, enunciando eles não serem merecedores (ou entendedores) de tão majestática geografia local...

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O Palácio Nacional da Pena (de construção em 1836), à noite. A mesma beleza, o mesmo mistério. Ao longe, mas não tão longe assim, exultante e impenetrável, estende-se o Castelo dos Mouros, o dos Gigantes, o dos Deuses ou apenas aquele que serve de guarida e, guarita, a uma ou mais secretas e invioláveis anunciações da História: o Santo Graal!

O Castelo do Santo Graal: em Sintra!
«Um lugar mais para sonhar do que para descrever!» - Intensas palavras de Dora Woodsworth, para quem o Mundo Imaginal ganhava em Sintra novos contornos.

E de todas as evocações paradisíacas e, idílicas, neste tão inexplicável fenómeno que ainda hoje atrai poetas e amantes de todas as ocasiões e emoções, alude-se ao ao que Richard Strauss pronunciou, olhando o Palácio da Pena, já então construído em recentes tempos:
« O Castelo do Santo Graal! (que segundo as suas próprias palavras, estava alcandorado sobre o verdadeiro jardim de Klingsor).

E se os Templários falassem que nos diriam? Se da tumba sacrossanta em que estão fenecidos em pó e cinza, eles nos recobrassem valores perdidos, tesouros escondidos ou apenas a sabedoria santa de uns terem a primazia, o privilégio, a alegoria ou até a prerrogativa máxima dos deuses - muito para além de Jesus Cristo - e nos revelassem de suas magias, de suas alquimias ou, existencialmente, de suas ocultas verdades de cálice, de sangue, de manto, da pedra, da espada, do livro, do escrito ou do caldeirão...? Que nos diriam hoje???

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Que segredos nos escondem os Templários de outrora? Para onde terão levado seus anseios e seus pecados? Para onde terão transportado - e guardado - seus tesouros e seus conhecimentos que só Cristo e Deus o sabiam para lá de todas as premissas ou omissas verdades que só eles sabiam guardar; para onde....?

O Esconderijo Português...
Sendo um dos símbolos mais perduráveis de toda a tradição ocidental, o Santo Graal situa-se na base dos grandes mitos europeus desde os Cavaleiros da Távola Redonda e da corte do Rei Artur, até aos magníficos e acérrimos defensores da causa cristã, os Templários.

De Jerusalém para o mundo ou do mundo para Jerusalém, tudo eles baptizaram em nome de Cristo. E depois, já vencidos, pela Guerra Santa que o deixou de ser (indiciada pelos muçulmanos) e até pela sanguinária perseguição de que foram alvo - por parte do Papa Clemente V (e a mando de Filipe IV) que levaria à extinção da Ordem, tudo se finou. Que não os Mouros, de outras etnias e serranias que luta deram e vitórias ergueram sobre os homens da cruz.

Mas houve quem os protegesse e albergasse: o Rei Português, o primeiro - Afonso I  ou Afonso Henriques - foi um deles; o resto adivinha-se. Depois os Descobrimentos Portugueses fizeram o resto e esse «resto» era tanto ou foi tanto que não cabia na alma de nenhum marinheiro ou infante que se lhe chegasse e tudo foi ocultado e precavido, guardado e mantido até hoje, até nunca, sem ninguém o saber...

E tudo fora o Santo Graal que mais será. Por Tomar ou por Sintra, na dulcífera dádiva e na concepção filosófica e teológica do Santo Graal. E onde parará? De onde terá vindo ou para aonde irá? Ter-se-à feito deslocar de Tomar para Sintra...? Será extrapolação ou mera imaginação supor-se tal....?

Terá sido enviado e depois sonegado pelo Castelo, pelo Palácio da Pena (ou da Regaleira, este já do século XX, em novo mito, em nova abordagem maçónica que conflui com a teoria da «Terra Oca»?!) Que mais se dirá ou que mais se perseguirá sobre tão ilustre existência de taça ou recipiente mágico, entre tantas outras coisas que se lhe acomete....?!

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O Fantástico Poço Iniciático (maçon) da Quinta/Palácio da Regaleira, em Sintra, Portugal (construído em 1900). Em virtude dos ensinamentos de círculos teosóficos ou na teoria da «Terra Oca» que compõem este tão falado mundialmente Palácio da Regaleira (na construção ou edificação de novos mitos relacionados com os Templários na sua vertente da Ordem de Cristo), da qual Dom Afonso Henriques foi defensor e seguidor. Mas hoje, que escondem estes círculos recortados na terra e na pedra em iniciação ritual...? Quem os motivou sabemos ou intuímos; só não sabemos qual a razão de tal...

Em Busca pela Perfeição!
Mais, muito mais do que uma mera perseguição ou «busca» pelo Santo Graal, será provavelmente a busca pela perfeição ou pelo conhecimento, atingindo-se assim a luta pela Perfeição Espiritual de matriz monástica desde os tempos idos acolhida - ou pretendida - nos meandros medievais; primeiro de cariz pagão e depois, pela cristianização imposta ou vigente nos séculos seguintes.

A Demanda do Graal é sobejamente conhecida como por exemplo, A Lança (patente no mito de Indra); A Pedra Preciosa; O Livro (que é o recipiente do conhecimento e símbolo da sabedoria, esquema escolhido em pelas fontes iranianas); Os 12 cavaleiros da Távola Redonda (que simbolizam os 12 signos do zodíaco; a abóbada celeste, a Távola Redonda).

Mas mais há: O Santo Sudário, a caixa que o guarda, o frasco de perfume de Maria Madalena (que surpresa o amor de Jesus ter sido vaidosa...), a Arca da Aliança, um globo de vidro mágico, O Tosão de Ouro, o Sangue Real (= San Greal), ou seja, o segredo da linhagem de Jesus Cristo e um sem fim de Objectos/Fontes que vão do célebre Cálice (de Robert de Boron; Vulgata) até ao Caldeirão ou «Grand-Saint-Graal de Parzifal, na homilia física ou materializada deste objecto em aventura planetária incomensurável  na descoberta de tão sagrado símbolo.

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Uma Bandeira de Portugal que é um hino à mensagem de Cristo e talvez de Pessoa - o poeta e escritor português que tão bem delineou em palavra e em seu código pessoal, o que ainda hoje se tenta traduzir entre a geografia sagrada do seu país ou, na generalidade, a mítica apresentada sob a égide astral de um outro venerado conhecimento que mais ninguém acercou...

Por Cristo e por todos nós...
O «Reino» de Portugal em bandeira içada, conquistada após a aguerrida Batalha de Ourique, liderada por Afonso - o Primeiro de Portugal - que se bateu por entre sarracenos e cristãos de sua gema estes, em que cinco reis caíram mortos (e quebrados os cinco escudos no seu vigoroso braço).

E foi abençoada a Aparição de Cristo, antes ainda da luta, de Nosso Senhor Jesus Cristo a Afonso, com as suas Cinco Chagas. E pelo auxílio e, graça, vencendo-se os 5 infiéis reis e 5 escudos despedaçados, se traçariam as suas armas e a sua bandeira em memória do Senhor, em fervor de Jesus Cristo.

E isto, a bandeira nacional elege, na relevância heráldica do episódio havido e, propagado no tempo devido, do que a bandeira de Portugal distingue de seus feitos, feitos do seu Primeiro Rei (rex) - Rei dos Portugueses, Rei de Portugal (Rex Portugalorum) - na póstuma mensagem de que só com Armas Sagradas se vencem inimigos, que armas não são mas antes a concessão de algo muito mais firme e belo...

Já a Mensagem de Fernando Pessoa não nos ilude, antes nos condensa na vontade e na crença do Simbólico e do Esotérico, com proposições iniciáticas, permitindo-se então um jogo de espelhos, um jogo de almas com as diversas tradições.

Pessoa era exímio. Levou a cabo uma leitura astronómica-astrológica, baseando-se numa antiga leitura ou entendimento da Geografia Mítica Europeia. Por muito distante que tenha estado do seu Primeiro Rei de Portugal, aproximou-se dos seus ideias, dos seus secretos segredos, da sua investidura nacionalista sobre o que, reproduziu como o «Reino do Quinto Império» - o Reino da Espiritualidade.

E mais não disse, suspeitando nós, que dos milagres portugueses ou desta confluência espiritual com que nos regemos, nós, os Portugueses, tendo a certeza dessa substância alimentícia de corpo e sangue, sentido e alma, tudo nos é dado se o soubermos aproveitar e consciencializar dentro de nós também.

Todas as dinastias territoriais assim o confirmam. Sobrevivemos a tudo, na magia e no esfuziante deslumbramento, mesmo quando julgamos tudo perdido. Somos um povo genericamente abençoado mas mal aperfeiçoado; e isto, na cósmica dinâmica de uma corrente energética indissociável da espiritual manifestação de graça; tal como Fernando Pessoa o projectou (tal como o trajecto solar que patrocina as penínsulas mediterrânicas, concedendo-lhes a tarefa de ancestrais reitoras civilizacionais da Humanidade).

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Tal como a Lua que é iluminada pelo Sol, também nós temos de sair das sombras, por detrás das nuvens da ignorância, do acanhamento e da intolerância entre uns e outros. E tal como Pessoa afirmou um dia: «Ser Português não é ser-se português, é Ser Tudo!» Ou como o Padre António Vieira terá dito também certo dia: «Para nascer, Portugal, para morrer, o mundo!» E que mundo será esse, se o não soubermos entender em primeiro???

Somos todos a luz, a fonte, a energia e o saber...
Somos a luz da luz; de Ophiussa à actual nação da República Portuguesa que tanto em si esconde, que tanto em si reverte, sob outras luzes que não as da ribalta, e se perpetua sobre o que um dia os deuses lhe concederam e o Supremo, o glorioso Deus de Todas as Coisas lhe consignou.

Somos os heróis do nosso tempo; somos os ícones da nossa própria História que todos os dias e todas as noites fazemos sobre nós. Somos o Portugal do «ser», portadores da espada Excalibur da tradição graálica, que, tal como Pessoa escreveu e profetizou um dia a esta pertencer:

« Que auréola te cerca? / É a espada que, volteando, / Faz que o ar alto perca / Seu azul negro e brando. // Mas que espada é que, erguida, Faz esse halo no céu? / É Excalibur, a ungida. / Que o rei Artur te deu. // `Sperança consumada, / S. Portugal em ser, / Ergue a luz da tua espada / Para a estrada se ver!»

Para finalizar esta temática sagrada - em geografia e autonomia topográfica da alma portuguesa - a Terra Prometida, a das escolhas e desejos, aventuras e ensejos, só poderá ser aquela que fizermos em nosso próprio seio, em nosso próprio destino na colheita do que semearmos, na sementeira do que houvermos botado à terra sobre as nossas origens, sobre o nosso futuro que mais não é do que todo o passado e o presente juntos; neste ou noutro universo qualquer.

Mesmo que dotados de muitos «eus», de muitas personagens/personalidades ou ambiguidades confusas - e histórias repartidas em projecto holográfico, subdividido ou multifacetado em realidades extremas (ou apenas difusas e complementares do que ainda não compreendemos) - só temos de acatar, sublimemente aceitar, pois não longe virão os tempos em que teremos mesmo de acreditar que somos todos um projecto de vida de um grande alcançar.

Sobre a luz e sobre a esperança, esse, o nosso requisitado lema do amanhã que começa já hoje e nos faz aguardar em serenidade e beneplácito o que Deus do Universo ou os seus súbditos seres do Cosmos nos quiserem ofertar... Até lá, só temos de esperar...

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