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quarta-feira, 27 de dezembro de 2017

A Imagem da Vergonha!

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Imagem absolutamente chocante de Udai Faisal, num hospital do Iémen (Março de 2016, divulgada pelo Mirror), no que lhe restava de vida em últimos momentos de todo um inenarrável sofrimento (e talvez um incompreensível compromisso com essa mesma vida), na também exposição mundial da Imagem da Vergonha - a nossa mundial vergonha de deixarmos morrer as nossas crianças...

FOME: "A privação deliberada de alimentos está claramente proibida como arma de guerra. Por extensão, o cerco de localidades também está." (Syrian Observatory For Human Rights)

A Todos um Bom Natal...
Já passou, eu sei. Como passou esta morte. Como passaram todas as outras, incontornáveis, inextinguíveis e impressionantemente fidelizáveis, em todos os países em guerra.

Udai Faisal não foi excepção. Consumido pela fome e pela sua abrupta passagem na vida em que contava apenas cinco meses de idade e, sobre uma nação que ele possivelmente nem escolhera para nascer (quem quer saber agora do livre arbítrio?!) viu-se trasladar para a mais dura das realidades: Morrer, sem ter vivido!

Quando os aviões vieram em rugido de morte, em esgana de cão vadio e em turbulência maldita de todos os demónios do mundo, Udai não soube o porquê mas soube intuir que a sua curta vida lhe daria o espaço devido e o tempo não perdido de se ter feito ser alma, de se ter feito vencer, ainda que a vitória essa, fosse a da morte faminta que lhe roía os ossos - que a carne já se fora - e o sentido de se fazer sobreviver. Do Iémen para o mundo ou do mundo para o nada, Udai foi uma vida brevemente contada. E muito poucas vezes lembrada...

Ninguém lhe cantou uma canção; ninguém o embalou na morte suave ou na brisa daquele anjo que lhe pegou na alma leve, ou do corpo retesado, hirto, içado na embolia do destroço humano que foi, descarnado de dentes que mal nasceram, cerrados e sangrentos, cravados num maxilar que cerrou também.

Ninguém o chorou, nem tal se pedia, pois que muitos iguais por ali havia, senão por escassas horas por breves dias que semelhante sorte a morte colheria. Desnutridos, enfezados, sem brilho nos olhos, sem viço ou suplício comovido de tantas almas a penarem, por uma guerra de outras tantas, no Iémen ou fora dele, por África ou pelo Médio Oriente, ou por aquela nesga de mundo que já não é mundo e nunca ninguém sabe onde fica ou finge não saber...

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Imagem de outra criança faminta, em Madaya, na Síria (Foto captada em Julho de 2016/Twitter). Esta talvez ainda esteja viva, ou não. Ninguém sabe. A Fome que todos leva, leva em primeiro os inocentes. As Guerras, a dignidade... e a imagem de quem a tudo assiste impávido... além a vergonha que é a de todos nós aos sermos cúmplices ou pactuantes com estas duras realidades, imbecis verdades de uma era sem vergonha, de um império do mal em toda a linha!

Cercados pela Fome...
Ainda que tenha passado um ano e meio sobre esta imagem (e sobre a pronunciável mas não totalmente piedosa mensagem de Bashar al-Assad que autorizou na época o acesso humanitário à localidade cercada pelas forças afectas ao seu regime e onde se inferia estarem mais de 40 mil pessoas cerceadas e sem comida ou por onde pudessem escapar) e tudo seria tão actual como insidiosa e nevralgicamente nojento; e, pior, passivo ou irreversível de se mudar.

As situações são sempre iguais, tão idênticas e mórbidas que nem os cães, gatos ou espécie animal que por ali ande, se possa vangloriar de ter mais do que uns segundos de vida, os necessários ao seu pronto abate pela fome perpetrada. E tudo, por outros humanos segundos de vida...

Em Fua e Kafraya a mesma realidade: a mesma, ou quase sempre irremissível ou repetível situação de calamidade em que os ossos rangem pela carne que já não comportam e, pela demência do que já se não pensa nem raciocina ante tamanha debilidade, tamanha fraqueza insustentável, no fundo, um mundo de esqueletos.

Esqueletos que gritam para dentro, que sufocam o gemido mas não a dor, e se calam para sempre na dormência dos sentidos e naquele gosto do pão fresco que a memória apagou e o gosto não ficou, a não ser, de quando às portas desse outro mundo, um banquete se lhes ofereceu sem saberem que tanta oferta, tanta abastança já não era deste mundo...

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2 de Janeiro de 2014 (Síria): Outra Imagem chocante (Twetter/BBCWorld). Como tantas outras. Desta vez, um menino que na sua revolta, na sua agonia e na sua muita dor - física e interior - se lastimou dizendo: "Quando eu morrer vou contar tudo a Deus."

"I`ll Tell Allah (God) Everything" (Vou contar tudo a Deus)
Este, o extracto postado no Twitter decifrado em inglês, no que na sua língua natal proferiu, este inocente menino sírio de três anos de idade, evocando em denúncia e desgosto toda a maldade do mundo, deste nosso imundo mundo.

Exortaria depois para a História Humana, um dos capítulos mais negros desta nossa contemporânea era de estúpidas guerras territoriais -  ideológicas mas amorfas de contexto - sobre um planeta comandado por hediondos seres que matam os seus. E pior ainda, fazem-no por gosto, ao que parece. E essa, é talvez a mais repugnante de todas as imagens do mundo: a não-vergonha de o revelar ao mundo pela boca de uma inocente criança...

Não tem nome, apenas imagem, apenas a face da dor num corpo martirizado pelos estilhaços dos projécteis, do estuque das paredes esconsas que se abateram sobre ele e, sobre toda a mágoa do mundo, em lancinante dor que o fez sucumbir minutos ou horas depois, após não ter superado os muitos ferimentos havidos e, escrupulosamente sentidos.

Um menino, apenas um menino que se entregou à dor, a essa maior dor de ver que nada nem ninguém o poderia salvar, entregando-se a Deus, entregando a sua alma que, tal como Udai Faisal (ainda que o não tivesse clamado mas sentido igualmente devido à sua tenra idade), tivesse sabido que chegara a hora, aquela hora em que Deus o teria de ouvir...

O sofrimento parou. As lágrimas cessaram e as palavras também. Ficou apenas o silêncio da sua alma, a que lhe gritou de dentro para fora que Deus teria de lhe dar uma resposta - ou um argumento? - ou apenas um maior entendimento para a sua alma lhe ter buscado e feito partir em mil bocados sem deixar rasto, sem deixar um maior conhecimento de si.

E é isto a Humanidade, e não, não senhor, a culpa não é das estrelas nem de Deus nem sequer da injusta praga que na Terra se veio implantar mas, a dos deuses, a dos maléficos deuses que tão má obra fizeram, a da massa congénita deformada, anómala e sem graça que faz o ser humano ser bom e mau e, em simultâneo, genuíno e desgraçado, solidário e abençoado, mas também verdugo e endemoninhado.

E de todas as almas possíveis, salvar-se-ão as que não temem, as que se entregam placidamente, ainda que persistam nas questões ou inquirições mais profundas a Deus. E Ele, lá do alto do seu pedestal saberá como responder...

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Outra imagem sobre tantas outras imagens de meninos que morrem à fome; na Síria, no Iémen ou... noutro qualquer inferno terrestre onde o Homem pensa ser rei, carrasco e mandatário de todas as vidas, todas as almas em seu redor. Esta imagem foi divulgada no Twitter em 1 de Fevereiro de 2014, no que muitos apelidaram de fascínio pela dor e pela morte em propagação ideológica dos rebeldes contra Bashar al-Assad - e outros o desdisseram na contra-informação perfeita para o digladiar eterno entre as facções contrárias existentes.

Epílogo que o não é...
Haver um ponto final na Fome, na Guerra e nas lutas contínuas do Mundo não só é uma utopia como uma quase heresia que nem o Papa Francisco poderia conter em hemorragia fatal. Mas, acreditar-se que um dia tudo isso seja possível, será talvez a rampa de lançamento necessária - ou mesmo obrigatória! - para se inverter todos estes males.

A Propagação da Fome no Iémen tem sido uma constante na consequência trágica dos desmandos de uma infinita guerra que começou desde que os rebeldes Xîitas cercaram a capital, criando assim uma guerra civil (a partir de 2015) com as forças então instituídas no país. Desde aí também, os muitos bombardeamentos por parte da Arábia Saudita e o subsequente bloqueio naval.

Tudo isso, provocou a morte de milhares de almas, de entre elas Udai Faisal que morreu pesando somente 2,4 kg em féretro seco, esquálido. Descansa em paz, afirmo eu, desejando-o a todos nesta situação.

Em relação à Síria, o debate é pungente, sendo que a ONU anuncia (sempre que pode) o imediato aproveitamento das suspensões ou do interregno das hostilidades no terreno para reforçar as suas operações humanitárias. E mesmo que nem todas tenham a sua finalidade cumprida - uma vez que muitas vezes os alimentos, os medicamentos e outros produtos urgentes de ajuda humanitária são bloqueados de forma reiterada - a missão da ONU se não quebranta, ainda que de muito difícil acesso ou objectivo final de chegar às populações carenciadas.

Piora tudo ainda, segundo o Alto Comissário desta organização das nações ou o porta-voz da OMS (além de outras entidades responsáveis), que aferem que muitas destas acções humanitárias não são aprovadas pelas autoridades sírias, o que vem complicar ainda mais o processo de auxílio às vítimas e a quem sofre em redor.

Recorde-se que, o Conflito Sírio, e numa estimativa de aproximadamente cinco anos, levou cerca de 270 mil almas (mortos, muitos dos quais, crianças), assim como milhares de deslocados/refugiados num impressionante êxodo.

A ONU estimou na altura que também houvesse um milhão de sírios completamente alheados desta ajuda humanitária, uma vez que esta não chegava a si, descrevendo estas localidades como potenciais cemitérios a muito curto prazo se a ajuda entretanto não chegasse. O que se veio lamentavelmente a confirmar meses depois. E anos. O aumento de mortos foi considerável, no que actualmente ainda é uma urgência devido a uma guerra sem fim. E as crianças morrem. Sem crianças não há futuro!

A Situação é Extremamente Alarmante (foi-o no passado e é-o no presente), sendo que os media o invocam mas parecem algo entorpecidos ou, anestesiados, perante não só a dor alheia dos que sofrem - em particular na das crianças esvaídas em sangue - como em geral na massificação sobre as mesmas. Ou repetição da atrocidade cometida; vezes e vezes sem fim...

Ou ainda, sobre períodos festivos ocidentais (como o presente) que em nada têm a ver com semelhante realidade funesta que está longe... muito longe dos nossos corações, empedernidos agora, sobre um Ocidente descabido que se entretém com «Black`s Fridays» ou outras feiras de vaidades sem olhar para o que não seja o seu próprio umbigo ou quintalinho...

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Crianças-mártir; crianças que não têm culpa dos conflitos tribais, territoriais ou simplesmente demenciais que o Homem faz e aplica sobre o seu chão, o seu céu e o seu colo familiar que entretanto perdeu também. Segundo dados da UNICEF, em 7 anos de conflito sírio (até Março de 2017), houve a deslocação de 2.3 milhões de crianças sírias para campos de refugiados, sendo que, todos os dias, estão sendo violados os seus direitos. 2016, foi o Pior Ano para as Crianças Sírias, admitem.

"O nível de sofrimento não tem precedentes. Milhões de crianças na Síria estão permanentemente sob a ameaça de ataques; as suas vidas estão totalmente viradas do avesso. Todas estas crianças ficam marcadas para o resto da vida, com consequências terríveis para a sua saúde, bem-estar e futuro."

      - Geert Cappelaere, Director Regional da UNICEF para o Médio-Oriente e Norte de África -

Segundo os Altos Responsáveis da UNICEF, estão a ser cometidos gravíssimos atentados aos Direitos da Criança, ou seja, gravíssimas violações dos seus direitos que, sem filtros, camuflagens ou embelezamentos da cruel realidade assistida, se inserem no contexto de Mortes, Mutilações e Recrutamento (tráfico humano de crianças para vários fins), em especial no ano de 2016.

Sendo as crianças um alvo fácil e por demais vulneráveis nesta horrorosa escalada de violência, talvez não seja de somenos importância apelar a todas as instituições mundiais e, aos seus ainda apiedados corações, que se não esqueçam de que «um dia eles, amanhã nós...», por muito distante que acreditemos que essa realidade esteja. Além de que todos já fomos crianças e voltaremos a sê-lo; um dia... se outros deuses maiores nos deixarem...

Por todos os Inocentes do Mundo, por todos os que sofrem na angústia de não ver um amanhã, a minha solidária compaixão que também tantas perguntas tem por fazer a Deus, só não sabendo se Ele mas responde; contudo, insisto...

E, sentindo penosa e infelizmente que mais Imagens da Vergonha surgirão após outras guerras, outras fomes e outras insanas dores neste louco e profano mundo em que nos encontramos de esquizofrenia absoluta sobre poderes que ninguém tem, eu assume desde já que bem gostaria de saber algumas respostas para o que o Homem faz, não se compadecendo nem ensandecendo de tamanha loucura. Um Feliz Natal e Um Bom Ano de 2018, se tal for possível...

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